Marcelo Pomar declara apoio a Angela Albino

Uma das principais lideranças juvenis de Santa Catarina, integrante do Movimento Passe Livre (MPL), Marcelo Pomar, declara seu apoio a Angela Albino para Deputada Estadual. Em carta encaminhada a candidata Pomar destaca a história e trajetória de luta do

Marcelo Pomar destaca na carta que ''lembra da Angela como mulher, negra, estudante, guerreira, gay, comunista''. Ainda afirma: ''Lembro da Angela e penso o quanto ela foi importante na luta que ajudei a travar, junto com outras centenas de companheiros, nos últimos anos nessa cidade'', uma distinta consideração aos protestos que liderou em Florianópolis contra os aumentos das tarifas no tranporte coletivo e em defesa dos direitos da população, em particular da juventude..


 


 


Leia na integra a carta de Marcelo Pomar:


 



Porque eu voto na Angela!


 


 


Muito sangue foi jorrado nos anos duros de luta contra a ditadura. Esse sangue não foi perdido, ele é a expressão da dedicação e do heroísmo com que milhares de homens e mulheres se entregaram à luta pelo socialismo, e que nesse processo dialético determinaram ao mínimo um avanço significativo dentro da limitada democracia burguesa.


 


 


Por conta da luta desses homens e mulheres, hoje votamos. Votamos em um processo que longe de ser plenamente democrático, viciado pela prática oligárquica e conservadora característica do processo político brasileiro, e determinado pelo poder econômico, é o que se garantiu com muito sangue, e muita luta.


 


 


O jovem da minha geração tem um distanciamento desesperador do seu passado coletivo, enquanto indivíduo social. O passado coletivo recente da nossa sociedade não lhe pertence, e a ditadura de Geisel está para um jovem brasileiro mediano como o Estado Novo de Getúlio: algo distante e sem muito sentido prático. Esse desligamento da História é perigoso e a recusa da tradição do nosso campo de luta, do campo da esquerda, nos faz dar voltas em círculo, refazendo debates que por muito já deveriam estar superados.


 


 


É necessário votar. É necessário disputar os espaços dentro da representatividade burguesa. Não porque eles nos foram cedidos, mas porque eles foram conquistados por nossos ancestrais de luta. É parte do legado histórico da esquerda brasileira. E é exatamente dentro desse contexto histórico que situa-se a camarada Angela Albino, do PCdoB.


 


 


Muitos de nós dos movimentos sociais acabamos pelo mesmo hábito do cachimbo que deixa a boca torta, imaginando que por conta das limitações evidentes que o poder financeiro impõe à luta parlamentar e institucional, o único mecanismo possível para a realização de grandes transformações sociais é pela organização popular pura e simples, passando à margem de todo o aparato constituído pelas classes dominantes. Negamos, desse modo, a própria dialética.


 


 


Não há transformação social de fôlego sem organização popular independente, de fato. Mas é inegável o papel histórico complementar e auxiliar, e em certa medida também de acúmulo de forças, que realiza os setores da esquerda que partiram para a luta institucional. Talvez o erro dos partidos da esquerda, de uma maneira geral nos últimos anos, tenha sido se jogar unicamente para essa luta, enfraquecendo a organização popular direta. O caso mais significativo é o do PT. Por outro lado, o significado da eleição de Lula é inegável em vários aspectos positivos, de enfrentamento com a política neoliberal, como a suspensão das privatizações. Faltou no governo Lula pressão dos movimentos sociais. Pressão da organização popular que pudesse fazê-lo ir além do que o capital financeiro lhe permitiu.


 


 


Quero com esse preâmbulo reiterar a importância do voto dentro desse contexto, e a importância de que ele esteja dentro do campo dos lutadores, como a Angela. A camarada Angela Albino é uma mulher de coragem impressionante. E só pela sua coragem demonstrada em momentos de extrema dificuldade e pressão, ela já mereceria todo meu apoio em qualquer empreitada. Lembro-me perfeitamente dela, investida apenas dessa coragem e de um título de parlamentar, enfrentar batalhões de soldados orientados a espancar e prender estudantes que lutavam por sues direitos, durante os episódios das Revoltas das Catracas.


 


 


Lembro-me dela enfrentando a truculência da repressão do Estado, passando madrugadas na delegacia, à espera da soltura dos estudantes. Lembro-me dela subindo à mesa da Câmara de Vereadores de Florianópolis para impedir aos gritos a prisão de um estudante que denunciava a farsa da votação de um orçamento recheado de dinheiro para a ''operação tapete-preto''. Lembro-me da Angela enfrentando, algumas vezes sozinha, os elementos mais conservadores e reacionários da cidade, em seus conluios para lotear a cidade da forma que lhes convém, em sessões sórdidas na Câmara dos Vereadores. Lembro da Angela como mulher, negra, estudante, guerreira, gay, comunista. Lembro da Angela e penso o quanto ela foi importante na luta que ajudei a travar, junto com outras centenas de companheiros, nos últimos anos nessa cidade.


 


 


Por tudo isso, em 1º de outubro de 2006 meu voto para deputada estadual é 65123. Além de ajudar a eleger a Angela, quero contribuir para que o PCdoB supere a clausula de barreiras, porque ele também é parte importante do legado histórico da esquerda brasileira. Assim, convido meus amigos e camaradas que confiam em mim, a fazer o mesmo.


 


Saudações socialistas,


 


 


Marcelo Pomar


 


Florianópolis, 18 de setembro de 2006.