Relator da ONU se diz preocupado com lei sobre tortura nos EUA
O relator da ONU sobre tortura, Manfred Nowak, expressou hoje em Viena preocupação com a lei de tribunais militares aprovada recentemente nos Estados Unidos.
Publicado 05/10/2006 14:52
“Estou muito preocupado com essa lei que passou pelas duas Câmaras (do Congresso dos EUA)”, assinalou Nowak em entrevista coletiva, em alusão à lei que estabelece tribunais militares para julgar os estrangeiros detidos na luta antiterrorista e que foi aprovada no fim do mês passado pela Câmara de Representantes e pelo Senado dos EUA.
O que mais preocupa o especialista internacional “são certos métodos de interrogatório, sobre os quais se esperaria especificações muito mais claras sobre a proibição não só da tortura, mas de muitas outras formas de abuso e maus-tratos”.
“Não estou de acordo com essa legislação”, que corresponde à competência para estabelecer tribunais militares e que após a invasão no Afeganistão, o presidente dos EUA, George W. Bush, “excedeu-se em seu poder” ao estabelecer tais tribunais, assinalou Nowak. Agora, Bush “recebeu a autorização do Congresso” para atuar assim, acrescentou.
Para o relator da ONU e especialista em direitos humanos, a lei é confusa e por isso deixa aberta a possibilidade de se cometer abusos por parte dos oficiais que efetuam os interrogatórios.
Nowak lamentou que a lei não tenha levado em consideração as recomendações e críticas dos organismos de direitos humanos da ONU, que reiteradamente alertaram que as detenções prolongadas na Baía de Guantânamo violam a lei internacional.
A intenção das críticas da ONU, segundo Nowak, é que Washington “leve a sério” a possibilidade de fazer as mudanças necessárias para que a lei e as práticas americanas estejam de acordo com as convenções internacionais contra a tortura.