Política dá o tom à produção nacional na 27ª Bienal de SP


''Populismo'' e violência são as primeiras imagens que os artistas brasileiros projetam sobre o país, logo na entrada da 27ª Bienal. ''Empossamento'', série de fotografias de Mauro Restiffe, apresenta a transformação de Brasília, em 1º de janeiro d

 


Logo em seguida, Marepe, em uma de suas instalações, apresenta bandejas com biscoitos em forma de armas, ônibus, telefones celulares. A obra foi criada a partir das memórias familiares de infância do artista. No Brasil, contudo, as ''madeleines'' têm gosto de violência.


 


Marcelo Cidade, um dos artistas mais jovens da mostra, instalou na Bienal um bloqueador de celular, o mesmo aparelho que não funciona nas penitenciárias do país, de onde motins e chantagens têm sido feitas a cidadãos comuns.


 


Questões políticas locais norteiam a seleção brasileira? Não necessariamente. Há obras menos literais, como o filme ''Andarilho'', de Cao Guimarães, que abre o ciclo de cinema da mostra, e expõe personagens marginalizados, mas com enorme carga poética. Ou então, a loja de costumes, de Laura Lima, na qual os visitantes poderão experimentar sua coleção mais recente.


 


Nem só a política une a produção nacional na mostra, mas que ela é veemente, isso não se pode negar. Dos 118 artistas desta Bienal, 22 são brasileiros, quase 20% do total.


 


De fato, a política ainda é uma boa chave para a compreensão de grande parte dos trabalhos nacionais. As pinturas do acreano Hélio Melo, por exemplo, não podem ser entendidas sem se levar em conta o cotidiano dos seringueiros abordado em seus trabalhos. O mesmo ocorre com as fotografias de índios transformados em números, retratados por Cláudia Andujar.


 


O mais político dos artistas convidados, aliás, Cildo Meireles, recusou-se a participar quando o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira foi reeleito membro do conselho da instituição, em junho. A repercussão de sua atitude foi tamanha, que Cid Ferreira acabou sendo retirado do Conselho, mas o artista não voltou à Bienal.


 


A política também está presente em ações positivas, no eixo ''Programas para a Vida'', como as do Jamac (Jardim Miriam Arte Clube), criado pela artista Mônica Nador, na periferia da cidade, que reúne a população local para atividades artísticas. ''Durante a Bienal, vamos até ter um seminário sobre arte contemporânea, proposto por um antigo militante petista, que vê hoje mais possibilidade de transformação na arte do que na política partidária'', conta Nador. Duas vezes por semana, quintas e domingos, ônibus levarão os visitantes da Bienal para conhecerem o Jamac.


 


Fonte: Folha Online