Análise: Equilíbrio do debate favoreceu Lula

Por Adalberto Monteiro*


 


Lula versus Alckmin. Não há como escapar à metáfora do boxe. Quem venceu? Quem perdeu?  Não houve um grande vencedor, não houve “nocaute” e, ao conquistar um resultado equilibrado, Lula sai c

Porque  Alckmin subiu ao “ringue” com a obrigação maior do que seu adversário: tinha  de  conquistar  uma grande vitória  para  começar a quebrar o favoritismo de Lula. Afinal, Alckmin começou mal o segundo turno, haja vista os conflitos na sua base de apoio e a pesquisa do Datafolha confirmando que Lula continua à sua frente, com mais de 7 milhões de votos.


 


A responsabilidade de Lula não era menor. A vitória  no primeiro turno escapou-lhe das mãos pela intensa exploração e manipulação por parte da midia e da oposição acerca da irresponsabilidade dos “aloprados” e, segundo, alguns, pela sua ausência no último debate televisivo. Todavia, estando em  vantagem, e em se tratando do primeiro debate, um desempenho de razoável para bom seria o bastante para Lula. Era preciso tomar cuidado para não cometer nenhum grave deslize e, ao mesmo tempo, começar também a “sangrar” Alckmin.


 


Foi um debate “quente”. Alckmin, com a derrota mordendo-lhe os calcanhares, partiu para o “tudo ou nada”. Tática de quem não tem nada a perder. Do primeiro ao último bloco, atacou com o tema que julga a ser sua única esperança a esta altura: a ética. “Qual a origem do dinheiro sujo para a compra do dossiê?”  Essa pergunta foi repetida por ele talvez uma dúzia de vezes.


 


Lula procurou enfrentar frontalmente a questão, afirmando que a Polícia Federal, que no seu governo atua com liberdade, vai esclarecer cabalmente o episódio do dossiê.


 


Ao tentar sufocar Lula com o tema  da corrupção, a um só tempo Alckmin pretendia  desmoralizar o presidente e impedir com esse assunto único a polêmica sobre o ponto que é o calcanhar-de-Aquiles da campanha tucana: programa de governo e comparação entre as realizações do governo Lula e do governo FHC. Mas o tucano não conseguiu esse intento.


 


Orientado pelos seus marqueteiros, no primeiro e segundo blocos Alckmin buscou impor uma tática  agressiva para minar a “autoridade moral” e política de Lula. Sentindo o golpe, o presidente reagiu a tempo, usando sua estatura política. Em tom de advertência, aconselhou o tucano “a não ir com tanta sede ao pote” e disse a  Alckmin em tom imperativo: “Não seja leviano”. Partindo para ofensiva, perguntou: “Por que vocês não trouxeram o Fernando Henrique (ao auditório)? Vocês estão com vergonha dele?”. Essa atitude firme de Lula conteve a agressividade do tucano, e o debate adquiriu outra dinâmica.


 


O candidato tucano disparou todo seu arsenal. Usou toda munição disponível. E Lula se defendeu com a qualidade suficiente para neutralizar o bombardeio recebido e desferiu ataques que começaram a  descontruir a imagem falsa de um Alckmin “imaculado”. Lula denunciou a 69 CPIs arquivadas em São Paulo, esclareceu que as máfias dos sanguessugas e dos vampiros nasceram na gestão tucana. Disse que na República a novidade não é ministro envolvido em atos ilícitos; a novidade é que, no governo dele, ministros envolvidos em irregularidades são afastados de suas funções e investigados pela Polícia Federal.


 


Do ponto de vista político e programático, Lula conseguiu colocar alguns importantes golpes contra o tucano: “vocês só sabem privatizar e aumentar impostos”. Por isso, a Petrobras corre risco, sim. Desmoralizou o mito da competência dos tucanos, ao sublinhar o apagão da segurança pública e da energia elétrica. Mesmo contra a vontade do seu concorrente, mostrou o quanto o seu governo foi melhor  na esfera da educação, da saúde, do emprego e da economia.


 


Se Alckmin ambicionava reverter a desvantagem que ameaça derrotá-lo, não conseguiu. Lula, por sua vez, preservou nesse confronto suas reais chances de vitórias. Mas o segundo turno está apenas começando.


 


* Adalberto Monteiro é secretário de Formação e Propaganda do PCdoB