Debate prenuncia 2º turno acalorado entre Lula e Alckmin

Pegou fogo o primeiro debate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), realizado pela TV Bandeirantes na noite deste domingo (08/10). Bloco a bloco, os dois presidenciáveis trocaram acusações, provocações e ironias, deixando no ar

Na opinião do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, presente ao debate, os candidatos se enfrentaram ''em pé de igualdade''. O embate serviu mais para Lula ''desmascarar a bandeira da ética'' tão propagada pela candidatura tucana. ''Alckmin não conseguiu responder sobre suas 69 CPIs, um assunto abafado na mídia'', destaca Renato, que integra a coordenação da campanha Lula.


 


Segundo ele, as questões sobre corrupção foram bem encaradas pelo presidente. ''Lula deixou claro que seu governo é que realmente está apurando – e também alertou que os escândalos de corrupção vêm do governo FHC''. Nos bastidores do debate, apoiadores lulistas também analisavam como positivo o desempenho de Lula. De acordo com a Bandeirantes, o Ibope apontou 14,2 pontos de audiência (20 no auge) durante a exibição.


 


Tom elevado
A promessa de que se debateriam propostas, sem ataques, ficou para trás já na primeira intervenção. Alckmin começou atacando Lula de forma indireta, destacando a presença de Heloísa Helena e Cristovam Buarque nos três debates do primeiro turno. Repetiu que cortará ''gastos de corrupção'', enxugará ministérios e cortará cargos de confiança.


 


Na sua vez, Lula partiu para o revide. Seu governo, disse o presidente, teve de primeiramente superar a herança maldita do PSDB. Feito o ajuste, o governo conseguiu avanços, como ao proporcionar mais crescimento. Alckmin cobrou de Lula a origem do dinheiro do Dossiê Serra. A resposta foi que ninguém mais do que ele, Lula, foi prejudicado pelo dossiê. A Polícia Federal, acrescentou, está investigando o caso.


 


Questionado pelo tucano sobre a ''necessidade'' de saber a todo custo de mais informações, o presidente teve seu primeiro grande momento no debate. ''Provavelmente o governador tenha saudade do tempo da tortura'', disparou Lula, que disse ser presidente, não policial. Ironizando as acusações de que ''não sabe de nada'', ele perguntou se Alckmin sabia do histórico de acusações contra Barjas Negri, ex-ministro da Saúde de FHC.


 


E Lula melhora
Um pouco nervoso e acuado no primeiro bloco, Lula voltou mais confiante no segundo, questionando, mais uma vez, o motivo pelo qual o governo tucano engavetou todas as 69 CPIs requeridas na Assembléia Legislativa de São Paulo. Saindo pela tangente, Alckmin questionou por que Lula estava lendo e disse que a instalação das comissões não dependia dele, mas de plenária da própria Assembléia Legislativa.


 


Na réplica, porém, Lula disse que, diferentemente do tucano, não tinha tanto tempo para ficar decorando números e textos. ''Parece que o candidato (Alckmin) fez curso de psicodrama, de tão fixado que é'', zombou. O candidato do bloco PSDB-PFL procurava, em cada intervenção, repisar palavras como ''corrupção'' e ''ética''. O presidente apontou que não dá para investigar de antemão – mas ponderou que sempre demitiu seus ministros quando soube de envolvimento.


 


Ao tratarem de programas sociais, Alckmin pareceu mais calibrado na fala, embora tenha apresentado números mais modestos. O tucano aproveitou um deslize de Lula, que se atrapalhou ao ler dados de iniciativas do governo tucano em São Paulo. Foi a vez de o presidenciável conservador subir o volume: disse que a mentira está ''entranhada no PT e no Lula''. O presidente solicitou direito de resposta. Após longa demora, o jornalista e mediador do debate, Ricardo Boechat, em dia pouco inspirado, informou que a produção do programa não atenderia ao pedido.


 


Num de seus melhores momentos, Lula cobrou a presença de Fernando Henrique Cardoso no palco e revelou o caráter entreguista das gestões tucanas. Em seguida, levantou os escândalos da Febem, palco de constantes rebeliões. Alckmin direcionou a resposta para os investimentos tucanos em educação. Na réplica, em vez de pressionar mais, Lula foi no embalo do discurso sobre ensino e perdeu uma oportunidade de tocar em assuntos sensíveis ao candidato tucano.


 


Mais tensão
Só no terceiro bloco Lula tocou no assunto mais delicado do currículo de Alckmin – os ataques criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital). O presidente mencionou que, após 12 anos de gestão tucana, o PSDB não conseguiu evitar a escalada do crime organizado – o que anularia a tese do ''choque de gestão''. Lula também acusou a contradição entre as estatísticas decoradas por Alckmin e a realidade do estado de São Paulo, citando cortes efetuados pelos tucanos em segurança pública.


 


O tucano conseguiu esfriar a prometida polêmica, apostando em seu tradicional e fastidioso discurso de redução de vários índices de criminalidade. Ao abordar política externa, Alckmin qualificou de ''fracasso'' a atuação do governo federal. Lula respondeu que o Brasil conquistou ''autoridade moral'' e ampliou os canais de negociação. Mas o tucano voltou a desqualificar Lula – um ''presidente fraco'', nas palavras agressivas do tucano – e disse que um brasileiro deve defender, antes de tudo, o Brasil.


 


A réplica foi à altura. De acordo com o presidente, o Brasil, apesar das acusações tucanas, tem superávit comercial até com um país tão poderoso quanto a China. Lula se disse sensível a ponto de não fazer como o presidente americano, George W. Bush, que invade o Iraque para ampliar o domínio econômico dos Estados Unidos. ''Bush pensa como você'', disse Lula a Alckmin.


 


Dois temas que prometiam polêmica – questão energética e estradas – também apareceram no terceiro bloco. Mas o vaivém de informações, o excesso de dados expostos, acabou por neutralizar o impacto das intervenções. Os dois presidenciáveis se acusaram de omissão em políticas públicas, e o imbróglio não surtiu resultado para nenhum lado.


 


A vez dos jornalistas
O quarto bloco do debate – com jornalistas perguntando a candidatos – gerou controvérsia. Alckmin foi poupado ao ser inquirido em áreas de menor impacto, como maioridade penal e corte de gastos. Lula, por sua vez, teve de enfrentar dois jornalistas na ofensiva.


 


Franklin Martins pôs em xeque o desconhecimento de Lula sobre casos de corrupção no Planalto. Sua pergunta: quem garante que, uma vez reeleito, Lula não se surpreenderá novamente com denúncias de corrupção. A ''lógica da ética'', repsondeu o presidnete Lula, é investigar depois que soube. Seu governo foi o mais investigativo da história, o que fica claro na atuação da Polícia Federal.


 


Mais incisivo ainda foi José Paulo de Andrade, que se inflamou ao cobrar ''a volta de valores'' como ''trabalho, dignidade, honestidade, ética, civismo''. O tom duro obrigou Lula a elaborar mais a resposta. Alckmin, sem dúvida, foi melhor nesse bloco. Até porque Lula chegou a se equivocar ao dizer que, em São Paulo, o governo tucano não havia vendido aviões nem helicópteros. Mesmo quando Alckmin tratou de redução de verbas publicitárias, faltou a Lula explicar mais sobre o caso da Nossa Caixa, que a maioria da população desconhece.


 


O último round
No bloco decisivo, ao reclamar das acusações de que privatizaria a Petrobrás, Alckmin acusou Lula de ''irresponsabilidade'' e chamou o presidente de ''arrogante, irônico e desrespeitoso''. O petista arrancou risos ao pedir para o tucano se acalmar. ''O nervosismo não faz seu gênero, governador''. E foi categórico em afirmar que as privatizações realizadas por FHC levam a crer, sim, que as estatais restantes correm o risco de serem vendidas em caso de vitória alckminsta


 


Lula fechou sua participação explicando que quer se reeleger para dar continuidade ao trabalho do governo federal. ''As bases estão levantadas'', afirmou. Após enumerar obras como pólos petroquímicos, a Transnordestina e o biodiesel, Lula destacou a importância de investimentos em emprego e da educação para melhorar as condições de vida. Alckmin enfocou o desenvolvimento econômico, prometendo geração de emprego, sobretudo a partir da iniciativa privada. Baseou sua argumentação no princípio da ''mão firme'' e da responsabilidade. A exemplo de Lula, não finalizou de forma chamativa, repetindo muito de seus dizeres no debate.


 


''No sentido mais geral, Lula teve bom ritmo e foi à luta, ainda mais quando procurou dizer quem eram os tucanos'', diz Renato Rabelo. Sem um grande vencedor, o primeiro debate deixa indícios de um acalorado segundo turno. Funcionou também como aperitivo para os próximos confrontos na TV – que ocorrem nas redes Gazeta (17/10), Record (data a confirmar) e Globo (27/10).


 


Da Redação,
André Cintra


 


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