Parte do PSOL questiona “nem Lula nem Alckmin”

Por Maurício Thuswohl, na Agência Carta Maior
Apesar do virtual posicionamento da senadora Heloisa Helena pelo voto nulo e da nota divulgada pela Executiva Nacional do PSOL para “não indicar o voto nem em Lula nem em Alckmin” aos seus militantes, setor

A iniciativa mais concreta neste sentido partiu do candidato derrotado ao Governo de São Paulo, Plínio de Arruda Sampaio. Dono de 531,9 mil votos, Plínio enviou na quinta-feira (5) à Heloisa Helena, presidente do PSOL, um pedido para que o Diretório Nacional se reúna em caráter extraordinário para “aprofundar melhor as discussões” sobre qual posição deve tomar o partido frente à disputa entre Lula e Geraldo Alckmin. Ele avalia que a decisão foi tomada muito rapidamente: “Essa discussão precisa ser feita com mais calma e de forma mais ampla. Veja bem, a Executiva é feita para executar as políticas. A deliberação, por sua vez, tem que ter a participação das bases”, disse.



“Não gosto da palavra 'proibido'”



Plínio afirma que “existem vários setores do PSOL pelo Brasil” que gostariam de discutir melhor a possibilidade de apoiar Lula no segundo turno: “Não foi apenas por vontade pessoal que eu solicitei a reunião do Diretório. Esse pedido contempla a muita gente no partido que quer o reexaminar a questão. O Diretório, com mais calma, pode avaliar isso melhor, já que nele estão representadas todas as seções do partido”, disse. O ex-candidato criticou alguns termos usados na nota da direção: “Não gosto da palavra 'proibido', não é uma expressão feliz. Falar em ‘caráter proibitivo’ não combina com um partido que luta por socialismo e liberdade”, disse.



Apesar de já ter declarado publicamente nesses últimos dias que “Lula é um mal menor que Alckmin” e que o candidato petista “tem uma posição e uma história popular, ao contrário do tucano”, Plínio agora quer aguardar a reunião do Diretório para voltar a opinar sobre o assunto: “Até a reunião, estarei sujeito à orientação da Executiva. Sou um homem disciplinado e acho que o partido tem de respeitar seus instrumentos de decisão, senão será o caos. Vou obedecer à Executiva, mas vou me pronunciar livremente na reunião”, disse.



Chico Alencar consultará plenária



Outro que defende a realização de discussões mais aprofundadas sobre qual rumo o PSOL deve tomar no segundo turno é o deputado federal Chico Alencar, reeleito no Rio de Janeiro como o mais votado da esquerda, com 119 mil votos. Chico vai realizar uma plenária no dia 11 de outubro, na qual pretende reunir assessores, simpatizantes e eleitores para decidir “o que faremos da vida, inclusive no segundo turno”. Em seu primeiro pronunciamento na Câmara como líder do PSOL depois de reeleito, na quarta-feira (4), o deputado disse que “o eleitorado tem o direito de saber e de exigir que os dois candidatos explicitem, ao menos agora, as diferenças entre suas posições –se é que existem — em relação a questões relevantes como a manutenção do superávit primário, as reformas trabalhista, sindical e previdenciária, o destino das estatais que ainda permanecem sob o controle do poder público, os limites programáticos das alianças partidárias e a chamada governabilidade”.



Chico Alencar também não gostou do trecho da nota oficial do PSOL que proíbe as figuras públicas do partido de manifestarem sua posição pessoal sobre o segundo turno publicamente: “Partido que não quer ter centralismo burocrático deveria ter mais cuidados com certos termos. Defendemos o voto aberto no Parlamento e a manifestação de voto de figuras públicas”, disse. O deputado carioca, assim como Plínio de Arruda Sampaio, quer que o PSOL apresente uma lista de exigências a Lula (veja lista ao fim da matéria): “A direção executiva do PSOL definiu posição de independência eleitoral no segundo turno. Mas isso não impede nossos eleitores de exigir que os candidatos manifestem clara tomada de posição diante das questões aqui mencionadas, constantes do programa que nossa candidata a presidenta [sic], Heloisa Helena, apresentou à Nação”, disse.



“Exigências não serão atendidas”



Candidato do PSOL derrotado na disputa pelo Governo do Rio de Janeiro, Milton Temer é defensor do voto nulo, mas também apóia a realização de uma nova reunião da Executiva Nacional do partido: “O pedido do Plínio é legítimo, mas não vai mudar nada. O que ele quer, assim como o Chico Alencar, é que o partido tome posição em cima de uma lista de propostas que simplesmente não serão atendidas pelo Lula. Eu acho que pode ser até um bom caminho, esse de colocar exigências tais que depois não serão atendidas. Aí ficará claro que não há diferença de fundo entre as duas candidaturas”, disse Temer, presidente do PSOL no Rio e que teve 118,9 mil votos para governador.



Os críticos de Heloisa Helena reclamam muito de uma declaração da senadora à imprensa, ao afirmar que “quem desejar votar em Lula que vá para o PT”. Milton Temer, no entanto, recupera os bastidores do partido para defender a ex-candidata: “Logo depois que fundamos o PSOL, a Heloísa Helena estava indecisa entre sair para o Senado, onde certamente seria reeleita, ou sair candidata à Presidência. Ela disse que só seria candidata se ninguém quisesse depois obrigá-la a apoiar o Lula num eventual segundo turno contra Alckmin. Na hora, ninguém disse nada. Se tivessem dito, ela teria a opção de não sair para a Presidência. Agora, é muito fácil criticar a Heloisa”, disse Temer, que justifica sua opção pelo voto nulo de forma curiosa: “Se os dois candidatos representam a mesma coisa para o presidente da Febraban, Olavo Setúbal, então representam a mesma coisa para mim também”.



Disputa nos Estados



A sutil diferença de posição entre Milton Temer e Chico Alencar faz do Rio de Janeiro um termômetro da discussão política que agita o PSOL em todo o Brasil. No Nordeste, fatores como a vitória do petista Jaques Wagner na Bahia ou a proximidade com a administração de Luiziane Lins em Fortaleza devem fazer o PSOL tender para o apoio a Lula. Na região Sul, onde a rejeição a Lula é maior, a maioria da militância do partido deve optar pelo voto nulo, posição defendida pela deputada federal gaúcha Luciana Genro, reeleita com 185 mil votos.



Em São Paulo, parte do PSOL deve optar pelo apoio a Lula. Setores do grupo pertencente à APS (Ação Popular Socialista, antiga tendência interna do PT) devem seguir o mesmo caminho. Essa opção, no entanto, deve ser mais discreta. O deputado federal Ivan Valente, membro do grupo e reeleito com 83,7 mil votos foi procurado insistentemente pela Carta Maior, mas preferiu não atender aos pedidos de entrevista.



O certo é que setores do PSOL em São Paulo devem aproveitar uma possível reunião nacional para criticar a forma apressada com que a posição do partido no segundo turno foi anunciada: “Houve um açodamento e a direção tomou um posicionamento que não leva em conta as inúmeras parcerias que se estabeleceram com militantes sociais para a obtenção dos sete milhões de votos da Heloisa. Quando toma uma diretriz dessa natureza sem maiores debates, o partido corre o risco de sair do jogo político. Poderiam fazer o que o PSDB fez em 1989 com o Lula, quando os tucanos ficaram quase um mês em consultas internas, antes de bater o martelo. O PSOL poderia externar sua posição, qualquer que seja ela, somente daqui a 20 dias. Declarar agora foi precipitado”, avalia um dirigente.