Alckmin desautoriza publicamente seu conselheiro econômico

Um dos formuladores do programa econômico do candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB), o economista Yoshiaki Nakano, colocou o candidato do PSDB-PFL numa tremenda saia justa e obrigou Alckmin a desautorizá-lo publicamente. Um tiro no pé

Nakano defendeu nesta terça-feira o equilíbrio entre o juro interno e as taxas externas; um câmbio flutuante, porém administrado; o controle de capitais de curto prazo; e o corte nas despesas correntes em 2007 da ordem de 3,4% do PIB (cerca de R$ 60 bilhões).


 


As propostas foram imediatamente torpedeadas por analistas econômicos e por integrantes do governo, especialmente em relação ao corte nas despesas correntes. A reação foi tão negativa que o candidato tucano foi obrigado a desautorizar seu “guru” econômico. “- Não vai, não vai cortar. Isso não consta do meu programa e não tem nada disso não. Do meu governo só falo eu”, disse Alckmin antes de um encontro com políticos e prefeitos do PSDB na capital mineira.”


 


Para controlar o equilíbrio entre a entrada e saída de dólares no País, Nakano disse que a política econômica “precisa de instrumentos adicionais transitórios para controle de capitais de curto prazo”. Esses instrumentos seriam “ou tributação ou alguma coisa”, disse ele, contrariando o discurso de seu candidato que, nos últimos dias, vem repetindo o mantra de que em “seu governo” é “menos imposto e mais crescimento”.


 


Ele defendeu ainda uma política cambial em que o real pode se desvalorizar, mas não se valorizar, o que sinaliza um controle do mercado de câmbio. “Se sinalizar para o mercado que o governo não vai deixar o câmbio apreciar, o mercado não vai apostar pela apreciação. Mas se apostar, o governo intervém”, disse, contrariando novamente o discurso econômico do Alckmin.


 


Ele usou sua experiência como secretário de Fazenda de São Paulo para justificar sua opinião. “Um item muito grande de despesa é a contratação de serviços de terceiros. Em seis anos que fiquei na secretaria de Fazenda, o valor desses contratos de terceiros caiu 37% em termos reais”, disse.


 


Segundo Nakano, “a lógica do modelo brasileiro é de transferência”. Em entrevista, ele declarou que falava de “transferência de tudo” inclusive para Estados e municípios, Nakano não quis detalhar, porém se defendia alguma mudança em relação às transferências de renda, como as do programa Bolsa Família.


 


Idéias equivocadas


 


De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a proposta do economista de cortar mais 3% do PIB em gastos é inviável e matematicamente impossível de ser implementada. Com números das contas públicas na mão, Mantega mostrou que a implementação de tal idéia só seria possível se os programas sociais fossem eliminados.


 


“Quero saber quais ovos serão quebrados. É impossível cortar 3% do PIB sem acabar com programas sociais”, disse o ministro. “Quero saber de onde vão ser tirados esses R$ 60 bilhões. Matematicamente não dá para fazer isso.” Segundo ele, o Governo Lula aposta no gradualismo na gestão das diferentes áreas da política econômica.


 


O coordenador da campanha da coligação A Força do Povo (PT, PRB e PCdoB), Marco Aurélio Garcia, em nota, criticou a proposta e disse que este corte de gastos levaria o país à recessão e o governo federal à inoperância. Segundo ele, se efetuado, este corte seria equivalente a 13% do total das receitas líquidas do Orçamento do Governo Federal de 2006, que é de R$ 454,5 bilhões. Sem uma reforma constitucional, afirma Garcia, só haveria um lugar onde efetuar esta redução: as chamadas despesas discricionárias, ou seja, custeio e investimentos dos ministérios. Garcia disse ainda que Nakano apontou o “deficitário sistema de Previdência Social” como um dos principais alvos deste corte monumental, mas não identificou o que entende por “gordura” na burocracia pública.


 


Em outras palavras, diz a nota, o possível futuro ministro de Alckmin propõe a paralisia da máquina administrativa, com três conseqüências graves: 1) reduzir os benefícios conquistados pelos idosos, como a melhoria do salário mínimo concedida pelo governo Lula, que foi criticada por vários economistas tucanos; 2) interromper o processo de redução da pobreza e da desigualdade que vem sendo registrado nos últimos quatro anos, detectada em estudos da FGV, IPEA e BNDES; 3) provocar uma séria recessão, já que haveria queda na renda da população e nos investimentos públicos alavancadores da economia.


 


O economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Bank, Alexandre Schwartsman, foi ainda mais duro em suas críticas: “não fiquei surpreso com as declarações porque ele não entende nada de economia. Essa idéia de usar a política monetária para equilibrar a conta de capitais é uma invenção do Yoshiaki”, afirmou Schwartsman.


 


A reação às idéias de Nakano atingem diretamente a candidatura de Geraldo Alckmin que, até agora, tem sido paparicado pelo mercado financeiro e por jornalistas da área econômica por sua suposta “visão moderna” da economia.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez