Agraciado com Nobel da Paz, Yunus tem reconhecimento unânime

A concessão do prêmio Nobel da Paz 2006 ao bengalês Muhammad Yunus, conhecido como o “banqueiro dos pobres”, por sua criação do sistema de microcréditos para lutar contra a pobreza no mundo, mereceu um reconhecimento unânime de autoridades e instituiçõ

Kofi Annan, secretário-geral da ONU, se declarou “encantado” com o prêmio; o presidente do Banco Asiático de Desenvolvimento (AD), Haruhiko Kuroda, o considerou “um orgulho para todos”; e o secretário da Fundación Latino Grameen, Álvaro Sarmiento, expressou “grande alegria” e considerou que o agraciado mereceria também o Nobel de Economia.


 


Em seus comunicados, as autoridades qualificaram a criação do banco Grameen, por Yunus, com expressões como “obra excepcional”, “arma poderosa”, “instrumento extraordinário” e “fórmula ao mesmo tempo inteligente e generosa” para lutar contra a pobreza.


 


“Yunus desenvolveu uma poderosa arma para ajudar o mundo a atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, para ajudar as pessoas a melhorarem suas vidas, sobretudo os que mais precisam”, disse Annan, que ressaltou que o bengalês é um grande aliado da ONU.


 


O professor Yunus demonstrou, através do Grameen Bank, que “o microfinanciamento é uma via muito pertinente para ajudar as famílias de baixa renda a romper o círculo vicioso da pobreza, assim como ajudar as pequenas empresas a crescer e as comunidades a prosperar”, resumiu.


 


O japonês Haruhiko Kuroda, presidente do BAD, se pronunciou no mesmo sentido: “Seu trabalho para promover e estender o microcrédito por todo o mundo como um meio para reduzir a pobreza, especialmente entre as mulheres, é um orgulho para todos”, afirmou em comunicado divulgado em Manila, capital das Filipinas.


 


“Levar força e esperança a milhões de pobres é, sem dúvida, a melhor das causas”, acrescentou o japonês.


 


O presidente da França, Jacques Chirac, qualificou a obra de Yunus como “excepcional para o serviço da solidariedade, do desenvolvimento e da paz”.


 


Com o microcrédito, fórmula “ao mesmo tempo inteligente e generosa, baseada na dignidade humana e que alia o espírito de iniciativa e a responsabilidade social”, Yunus deu “esperança aos menos favorecidos no mundo e os meios de ter uma vida livre da pobreza”, afirmou o Palácio do Eliseu em comunicado.


 


Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel explicou que o banco de microcréditos representa “o compromisso social do empresariado”.


 


O secretário da Fundación Latino Grameen, Álvaro Sarmiento, manifestou sua profunda alegria pelo fato de mais de cem milhões de pessoas de 131 países poderem melhorar suas condições de vida graças a esses microcréditos, e que agora pretende estender as ações ao continente africano.


 


“Teria gostado mais da concessão do Nobel de Economia, porque Yunus rompeu os moldes dos bancos tradicionais”, disse Sarmiento.


 


O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Juan Somavía, ressaltou que “os milhões de acionistas do Banco Grameen se tornaram cidadãos, do ponto de vista da economia, demonstrando que é possível promover a melhora das condições de vida das pessoas através da organização”, ressaltou.


 


“Todos poderíamos nos inspirar em seu exemplo”, disse o presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, que lembrou que em 1974 contribuiu, de seu bolso, o equivalente a menos de 30 euros para cesteiros de Bangladesh e provou que, mesmo com essa minúscula quantia, é possível ajudá-los a sair, por seus próprios esforços, da pobreza.


 


A vida de Yunus será levada às telas do cinema pelo diretor italiano Marco Amenta, cuja produtora, Eurofilm, comprou os direitos do novo prêmio Nobel há um ano.


 


“Deve ter gostado de nós, que somos uma produtora independente e que trabalha com paixão”, declarou Amenta, que reconheceu que se encantou com a vida de Yunus após ler o livro que relata sua obra.


 



Governo Lula incentivou microcrédito


 


Entre os países que adotaram a idéia de microcrédito, desta-se o Brasil. O governo Lula lançou, no final de 2004, o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo, que traz várias medidas para facilitar e aumentar o acesso de microempreendedores a empréstimos com juros de 2% ao mês. Os recursos chegam a R$ 620 milhões, com R$ 20 milhões sendo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, e R$ 600 milhões de depósitos à vista dos bancos. O público alvo desta iniciativa são as pessoas físicas e jurídicas que desenvolvam atividade produtiva com um faturamento anual de até R$ 60 mil.


 


Através do sistema de microcrédito produtivo orientado, quem emprestará os recursos ao pequeno empreendedor serão as ONGs, as cooperativas de crédito, organizações da sociedade civil de interesse público e as sociedades de crédito ao microempreendedor, entre outros. O microcrédito é chamado de orientado porque o empreendimento terá acompanhamento das próprias instituições que cederão os empréstimos. Antes, só o BNDES e o Banco do Nordeste podiam usufruir do FAT para o microcrédito. Com esta iniciativa, a possibilidade foi ampliada, se estendendo a organizações da sociedade civil e a todos os bancos oficiais.


 


Para o empréstimo ser concedido, o empreendedor não precisa apresentar bens para as instituições financeiras. Ele tem a possibilidade do chamado aval solidário, com os tomadores de créditos formando um grupo no qual todos se responsabilizam pelos empréstimos dos demais. Desde sua criação, as contas simplificadas já eram isentas de tarifas. Agora, o governo Lula decidiu que as linhas do microcrédito também serão isentas do CPMF.


 


Em junho de 2003, o governo já tinha anunciado várias medidas voltadas para o microcrédito. Naquela oportunidade, foram criadas uma série de contas simplificadas, contas destinadas para a população de baixa renda, em que o saldo não pode ultrapassar a R$ 1.000, movimentadas a partir de cartões magnéticos.   


 



O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado – PNMPO foi oficialmente instituído pela Lei 11.110, de 25 de abril de 2005, e tem os seguintes objetivos gerais:


 



– Incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempreendedores populares.
 – Disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo orientado.
– Oferecer apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo orientado, com vistas ao fortalecimento institucional destas para a prestação de serviços aos empreendedores populares.


 


Da redação,
com agências