Ação inédita: filhos de 17 povos ocupam prédio do Museu do Índio

Trinta e cinco representantes de 17 povos indígenas ocupam desde a noite de sexta-feira (20) o antigo prédio em ruínas do Museu do Índio, no Rio de Janeiro. O grupo reivindica a recuperação, posse e administração do espaço, desativado desde 1978 e hoje em

Tradicionalmente, as ações  de resistência indígena se ligam à defesa de suas terras ancestrais e envolvem um povo, ou povos vizinhos em geral com parentesco étnico. Na ocupação do Museu do Índio, até o objetivo se distingue: ela quer dar visibilidade ao movimento como um todo e uma nova função para o antigo museu.



O papel dos índios urbanos



Um porta-voz dos ocupantes, José Guajajara (o sobrenome designa o seu povo, com 11 mil pessoas, que habita o Maranhão), é professor e aos 44 anos conclui pós-graduação em Educação Indígena na Universidade Federal Fluminense (UFF). Ele disse que há três anos os índios vinham discutindo a ocupação como forma de dar visibilidade ao movimento que cobra do governo políticas públicas para os indígenas, como a demarcação de terras e diferenciação em questões de saúde e educação.



O espaço, acrescentou José Guajajara, centralizará a pesquisa e a difusão da produção cultural indígena, além de estabelecer um calendário de palestras em escolas do Rio de Janeiro. O resgate da história do povo indígena inclui a identificação e aproximação dos índios urbanos, chamados de desaldeados ou de invisíveis, porque não são contabilizados nas estatísticas.



“Os índios não são contabilizados porque estão nas favelas dos grandes centros urbanos ou viram mendigos. Cobramos do IBGE a realização de um questionário de auto-afirmação dos povos originários, para cada um se afirmar com a sua etnia. Hoje temos levantes dos Xavantes do Mato Grosso, dos Ticunas do Amazonas, dos Caijajara, Caigangues, cobrando esse estudo”, garantiu José Guajajara.



Encontro dos Tamoios deu a partida



A ocupação foi votada e aprovada na sexta-feira, no 1º Encontro Movimento dos Tamoios: Pelo Resgate dos Direitos dos Povos Originários do Brasil, realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O nome faz referência à Confederação dos Tamoios, primeira revolta indígena contra o escravismo no Brasil, de 1562 a 1575, no litoral fluminense e paulista.



Do Encontro os índios foram para o Museu. Enfrentaram resistência dos vigias que tomavam conta do terreno, mas não houve violência. “Fizemos um toré (manifestação com dança) para mostrar que éramos índios e conseguimos ficar”, informou o professor.



Reunião com o Ministério na segunda



Os índios afirmaram que só deixarão o Museu depois que o governo federal acatar sua proposta. Eles já iniciaram negociações com representantes do Ministério da Agricultura, que administra o espaço. Foi marcada uma reunião para as 16 horas de segunda-feira (23).



A ocupação do Museu do Índio estava prevista para o ano passado, mas  vazou para a imprensa e os organizadores adiaram o projeto. “Viemos para ficar. Para isso, vamos fazer tendas em volta do prédio e buscar recursos imediatos para receber visitantes e alunos de escolas públicas. O espaço vai ser diferente de outros, será o índio recebendo e administrando o próprio projeto. Hoje, as direções dessas instituições não estão com os índios”, explicou o professor.



O prédio ocupado fica perto do estádio do Maracanã, no bairro do mesmo nome, perto do centro do Rio. O acervo do Museu do Índio foi  transferido para outro imóvel, na Rua das Palmeiras, em Botafogo.