Campanha fundamentalista de Alckmin: “O bem sempre vence o mal”
Por Bernardo Joffily
A campanha do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-PFL) em São Paulo, nesta semana final, apelou para o fundamentalismo. Um exército de jovens pobres em busca de um bico ocupou a Avenida Paulista e outras artérias da parte ch
Publicado 27/10/2006 18:22
São 14 horas de sexta-feira 27, antevéspera do segundo turno. A Avenida Paulista, centro novo de São Paulo, cartão postal da cidade, trajeto de incontáveis passeatas, está tomada por bandeiras, empunhadas por jovens contratados. Até aí, nada de novo: a Paulista é há meses dos poucos lugares onde se viu campanha eleitoral em 2006, às vezes militante mas em geral paga.
Os que agitam as bandeiras
A novidade é o conteúdo das bandeiras. Em vez das cores-símbolo dos partidos, sempre vivas e luminosas, elas são de um negro uniforme e fúnebre, com a mensagem fundamentalista em branco. Na Avenida Pedroso de Moraes, Pinheiros, um casarão ostenta a mesma inscrição em seu muro.
Dois jovens, entre dezenas de agitadores da bandeira maniqueísta são primos e moram na Vila Abel, Interlagos, periferia sul da cidade. Usam camisetas também pretas, com os mesmos dizeres.
Dizem que foram contratados por uma empresa, que foi contratada por um deputado, cujo nome sabiam mas não lembram. Revelam também que as bandeiras estão nas ruas desde segunda-deira (23). Primeiro na Avenida Brasil e outras áreas movimentadas dos Jardins — a maior concentração de renda por metro quadrado da cidade. Hoje, a ordem foi se concentrar na Paulista.
Quem é o bem? Por que o preto?
Quem é o bem e quem o mal? Eles relutam em dizer. Um se confessa indeciso sobre em quem votar: “Talvez no Alckmin”. Mas os dois informam que suas mães são Lula e tentam ganhar seus votos. “Estamos na pressão, da mãe de um lado e do patrão do outro”, explica um. Lá na Vila Abel as bandeiras negras de Alckmin não chegam. “Lá só tem campanha do Lula”, atestam.
Por que a bandeira é preta? Percebo que estou tocando num ponto que incomoda também a eles. “Muita gente acha ruim. Pára o carro e reclama”, admitem os sub-empregados da campanha tucana.
O dístico assume um conteúdo de mau agouro nas condições deste segundo turno. Afinal, durante a semana, os quatro principais institutos de pesquisa do país (Datafolha, Sensus, Vox Populi e por fim o Ibope) predisseram a vitória do “mal”, na leitura tucano-fundamentalista, por margens que variaram de 20 a 26,4 pontos percentuais. Esta linha de campanha, incidindo sobre uma polarização já exacerbada no aspecto social, trabalha para envenenar o ambiente nos Jardins.