Com a força do povo, Lula é reeleito com mais votos que em 2002

O TSE proclamou formalmente às 19h deste domingo (29) a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reelegendo-se em segundo turno. Lula derrotou Geraldo Alckmin (PSDB), que no primeiro turno havia conquistado 41,6% dos votos válidos. A popularidade

Com 95,23% dos votos apurados, Lula somava mais de 55 milhões de votos, quantidade que ultrapassa a votação obtida em 2002, quando obteve 52,8 milhões de votos. Até esse ponto da apuração, os votos do petistas equivaliam a 60,75% dos votos válidos, contra 39,25% de Alckmin.



Lula ganha um novo mandato embalado por uma avaliação positiva recorde de seu governo: 53% de ótimo ou bom, em outubro, segundo o Datafolha. Em seu último comício, na periferia de São Paulo, na noite de quarta-feira (dia 24), o presidente-candidato amparou-se nas estatísticas para desabafar: ''Quero ver alguém sair com a avaliação que nós estamos hoje em final de mandato, depois de a gente apanhar quatro anos da imprensa brasileira, quatro anos em que as coisas boas que nós fazíamos não apareciam nos jornais''.



As ''coisas boas'' apareceram numa eficiente propaganda gratuita para rádio e TV e, no segundo turno, nas perguntas e respostas de Lula em quatro confrontos televisivos com Alckmin. Alçado ao segundo turno menos por méritos próprios do que por falhas graves dos adversários, autores do escândalo do dossiê, Alckmin errou o tom da agressividade no primeiro debate na TV, na Rede Bandeirantes, em 8 de outubro, e viu estancar a sua curva ascendente nas pesquisas de intenção de voto. Também o apoio recebido de Anthony Garotinho (PMDB) no Rio foi interpretado como uma contradição no discurso em prol da ética do tucano.



Por meses, a reeleição de Lula era dada como certa ainda no primeiro turno, quando mais um escândalo envolvendo assessores do partido do presidente prolongou a campanha. Em 14 de setembro, a Polícia Federal desmontou um esquema para compra de dossiê contra o então candidato a governador José Serra (PSDB), cujos desdobramentos incluíram prisões, interrogatórios e revelação de nomes da campanha petista que levaram à queda do coordenador e presidente do PT, Ricardo Berzoini.



Lula classificou a operação de ''abominável'' na manhã de sábado, dia 16, em visita ao Pará. Em entrevista ao Bom Dia Brasil, disse que os petistas interessados no dossiê andavam mexendo ''com bandidos'' e que ''mexer com bandido não dá certo''. Feito uma fortaleza que a oposição tenta minar desde meados de 2005, quando foi revelado o esquema do mensalão na Câmara dos Deputados, Lula sobreviveu a mais um escândalo.



Exército de um homem só



''A verdade nua e crua é que nós conseguimos, com muita humildade, desmoralizar aqueles que nós sucedemos, aqueles que pensavam que sabiam tudo'', disse o presidente em comício em São Bernardo do Campo, nas vésperas do primeiro turno, na mesma noite em que era duramente criticado por Alckmin, Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) por se ausentar do debate na Rede Globo.



Acompanhada de uma série de números oficiais sobre geração de empregos, aumento e distribuição da renda, diminuição da pobreza e acesso a universidades privadas para estudantes carentes, a frase de Lula sintetiza uma das razões da reeleição. O seu governo teve desempenhos melhores do que o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em diversas áreas.



Como provaram as urnas neste domingo, o presidente agora reeleito não perdeu a popularidade nem os votos dos eleitores. O petismo deu lugar ao movimento batizado de ''lulismo''.



 


Avaliação positiva recorde




Em termos de aprovação popular, o primeiro mandato de Lula teve um pico de avaliação positiva em agosto de 2006, com 52% de ''ótimo/bom'', um recorde histórico nas pesquisas do Datafolha. O recorde foi quebrado em outubro, dias antes da eleição: 53% de ''ótimo/bom''.



''Lula é imbatível porque não é uma pessoa, é um mito. O mito do presidente-obreiro, filho de catadores de cana, o que lhe assegura, independentemente do que faça ou deixe de fazer, a condição de herói popular, dentro e fora do Brasil'', escreveu Hélio Jaguaribe na Folha de S.Paulo, em 17 de setembro, no artigo ''Mais um quadriênio perdido''.



O próprio Lula se encarrega de recordar a subversão histórica que foi a eleição de um operário-presidente, o primeiro civil a ocupar o Palácio do Planalto sem diploma universitário.



''A minha classe, vocês sabem, não estava escrito que era pra gente chegar à Presidência'', ele reiterou em comício em São Bernardo. ''Vocês não sabem o que é o fardo de governar o país com uma parte pequena da elite preconceituosa, como a que temos no Brasil. Nós chegamos lá e tem gente que não nos perdoa, às vezes me provocando o tempo inteiro para ver se eu fico nervoso, se eu reajo''.



Foi a quinta campanha de Lula à Presidência. Somando os turnos de 1989 (dois), 1994 (um), 1998 (um), 2002 (dois) e 2006 (dois), uma parte considerável do eleitorado votou em Lula neste domingo pela oitava vez em 17 anos.


 


Clique aqui e leia também a avaliação das eleições feita pelo presidente do PCdoB, Renato Rabelo.