Festa na Paulista: em três relatos, visões distintas da vitória de Lula

Festa, alegria pela reeleição de Lula, cerca de quatro mil pessoas celebrando os quase 60 milhões de votos obtidos em todo o Brasil, alívio pela certeza de que pelos próximos quatro anos o PSDB não estará no poder. A Avenida Paulista, tradicional

1. A duas quadras da Avenida Paulista, na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, três garçons em fim de expediente avistam uma moça entrando em um Astra com adesivos de Geraldo Alckmin. ''A dondoquinha tucana se deu mal'', grita um deles, enquanto os outros dois caem em sonora gargalhada. ''Ora, vê se voltam pro Nordeste, que é de onde vocês e seu presidente nunca deveriam ter saído'', devolve a moça, já dentro do carro. Um dos garçons abaixa a cabeça, aparentemente envergonhado, enquanto os outros dois gritam uma série de palavrões impublicáveis.



2. Durante a festa, Lula, em determinado trecho de seu discurso, fala que o Brasil termina esta eleição com menos preconceito do que antes dela. Sérgio Sampaio, 23 anos, universitário do curso de contabilidade e participante do ProUni, discorda imediatamente do presidente. ''Infelizmente ele está errado. Eu e pelo menos mais dois amigos já sofremos preconceito em entrevistas, quando mencionamos que estudamos graças ao ProUni''.



3. Após o discurso de Lula, boa parte das pessoas se deslocou para a Rua São Carlos do Pinhal, paralela à Paulista, para pegar seus carros ou esperar o transporte público. No ponto de ônibus, em dado momento, um carro pára repentinamente, e um dos passageiros do banco de trás abre seu vidro e grita: ''Cambada de burros! Quem vota no Lula tem mais é que pegar ônibus pro resto da vida mesmo!''. 



Em seu discurso, Lula lembrou de agradecer os militantes que durante toda a campanha não tiveram vergonha de defender sua reeleição, mesmo sofrendo humilhações em determinados momentos. O agradecimento é válido e veio em bom momento, mas esses três pequenos relatos, ocorridos no intervalo de pouco mais de uma hora, somados a inúmeras amostras de preconceito e discriminação ocorridas ao longo da campanha eleitoral, mostram que o Brasil não necessita de uma cisão entre ricos e pobres, mas sim de um pouco mais de compreensão mútua entre suas diferentes classes sociais, sob o risco de cenas como as acima relatadas se tornarem cada vez mais comuns.