Voto distrital: manipulação na Califórnia beneficia aliado de Bush

Denúncias de manipulação do mapa de um distrito eleitoral nos EUA, para a eleição parlamentar do próximo dia 7 de novembro, demonstra mais uma vez o caráter antidemocrático e manipulatório do sistema distrital que a direita quer implantar no Brasil.

Por José Carlos Ruy


Os Estados Unidos, que se autoconsideram como pátria da democracia, é também campeão das restrições eleitorais, fruto de uma legislação caduca e ultrapassada, que se mantém há mais de duzentos anos, e que começa a ser contestada por lá, onde a própria Constituição não registra, por exemplo, o direito ao voto.


A grande República do Norte é, na verdade, a pátria da manipulação eleitoral, e uma das formas mais freqüentes é justamente o redesenho dos distritos eleitorais para favorecer certos candidatos. Na eleição deste ano, o desenho do mapa do 11º distrito, na Califórnia, começa pelos subúrbios de San Francisco, evita os locais onde os democratas podem ter maioria dos votos, e segue até o vale central da Califórnia, uma região agrícola.


Tudo isso para beneficiar o republicano Richard Pombo, aliado de Bush, que tenta se reeleger. Pombo, que quis privatizar um quarto dos parques nacionais dos EUA, defendeu interesses da indústria do petróleo e foi acusado de receber dinheiro de Jack Abramoff, um lobista republicado preso sob a acusação de corrupção, beneficiou-se de acordos com imobiliárias e construtoras que alavancaram o valor das terras de sua família, é descrito pelo jornal californiano Sacramento Bee como a imagem do “infecto coração do processo de barganha que define a Washington de hoje”. Ele disputa seu oitavo mandato na Câmara, e suas chances de vencer o democrata Jerry McNerney aumentaram depois que o 11o Distrito foi redesenhado especialmente em seu benefício.


Denúncias contra este tipo de procedimento manipulatório são antigas nos EUA. Uma das mais famosas foi a a manipulação feita pelo governador Elbrig Gerry, de Massachussets, em 1812, que redesenhou um distrito para garantir sua própria eleição. Um chargista do jornal Boston Gazette apelidou aquele distrito de salamandra pois o novo desenho lembrava esse animal.


A manipulação feita por Gerry gerou um neologismo que ainda hoje existe na política americana, “gerrymander”. E que, embora com quase duzentos anos, continua descrevendo ações semelhantes por lá. Outra denúncia, mais recente, acusou os republicanos de redesenhar, em 1993, durante o governo de George Bush (pai), distritos eleitorais em Nova York: eles mudaram os limites de distritos que tinham maioria hispânica ou negra para incluir neles áreas de maioria branca e, assim, garantir mais votos para os candidatos republicanos.


É este o retrato da “modernidade” que Fernando Henrique Cardoso e a direita querem trazer para o Brasil, para favorecer os partidos da direita, colocar o voto popular em uma camisa de forças e criar condições para manipulações semelhantes em nosso país.