Oligopólio reage e planta ameaça que não existe

Indústria exagera e mente, apresentando-se como vítima iminente da censura governamental. Felizmente, há exceções. Por Alceu Nader para o blog Contrapauta.

O oligopólio que controla a indústria de mídia no Brasil está preocupado – e se movimenta para que nada mude e o pequeno grupo de empresas continue impondo sua versão dos fatos e, lógico, para que o mercado permaneça dividido majoritariamente entre os quatro grandes grupos econômicos.


 


O argumento central, como sempre, é a liberdade de imprensa. O episódio da “intimidação” aos repórteres da revista Veja é o argumento da hora. Apesar dos testemunhos em contrário da Polícia Federal e da procuradora da República que acompanha o inquérito para averiguar se são verdadeiras as suspeitas que a revista Veja lançou sobre a PF no caso do dossiê.


 


Por meio de homens de confiança, pencas de consultores e analistas que assinam qualquer coisa em troca de exposição publicitária e editorialistas, os porta-vozes do oligopólio acenam com o pior dos mundos e querem nos fazer crer que o Brasil está a um passo das trevas da censura, ignorando que o Congresso e a Justiça estão no pleno exercício de suas funções constitucionais – o que tornaria impossível qualquer iniciativa deplorável nesse sentido.


 


No movimento em bloco, como já denunciam as primeiras especulações sobre a concorrência das agências publicitárias do segundo mandato de Lula, preparam os argumentos para outra ameaça: a da censura econômica. É questão de tempo. O que está em jogo é a garantia de verbas publicitárias de um governo que o oligopólio abomina.


 


O oligopólio, derrotado nas eleições, agora intenta nos transmitir a idéia de que, a se continuar a ameaça à liberdade de imprensa – dele, do oligopólio – a ditadura é inevitável. Não basta nos comparar com a Venezuela ou Lula com Chávez, nem defender implicitamente que o Brasil deveria invadir militarmente a Bolívia para defender as instalações da Petrobrás.


 


A arma mais comum, porém já conhecida, e já sem o mesmo impacto de antes, é dar autoridade moral e ética a quem não a tem, como comprova o passado recente quando bicheiros, contrabandistas e outros condenados foram apresentados como cidadãos respeitáveis.


 


A figura da hora é o delegado da PF, Edmilson Bruno, aquele que negociou com repórteres a publicação das fotos do dinheiro apreendido com pessoas do PT, no caso do dossiê, às vésperas do primeiro turno. Apesar dos depoimentos contraditórios e dos bastidores mais do que conhecidos da entrega das fotos, é ele o instrumento da hora. A testemunha que traz a verdade dos fatos, apesar da tibieza da personagem.


 


O oligopólio exagera, mente, apresenta-se como vítima iminente. Apropria-se da “opinião pública” e da “sociedade”. Apela em sua retórica gasta para a ditadura comunista da ex-URSS e de Cuba — exemplos do perigo que ameaça o Brasil — em simulações que não se assemelham em nada com o pleno estado de direito que o país atravessa.


 


Tudo nome da defesa da liberdade de imprensa e de expressão — dele, do oligopólio.


 


Felizmente, há exceções que contam as coisas como elas realmente são. Uma delas é o jornalista Mino Carta, diretor da revista Carta Capital, que conviveu com vários dos donos da imprensa no Brasil. Na edição desta semana, ele assina o artigo “A opinião pública derrota a mídia”.


 


O texto está disponível na Internet (o link está abaixo), mas aqui vão dois parágrafos para reforçar a recomendação de leitura na íntegra:


 


“A liberdade de imprensa no Brasil é a das grandes empresas midiáticas deitarem e rolarem no esforço concentrado de servir o poder, ou, por outra, a si próprias. Assistimos neste momento ao lamentável espetáculo encenado pela mídia, ainda e sempre disposta a esconder o seu ódio de classe, o seu facciosismo, o seu golpismo, por trás do biombo da neutralidade”.


(…)



Antes de chegar à encruzilhada da minha vida profissional, há quase 31 anos, para ser obrigado a partir de então a inventar meus empregos, tive patrões e sei que os homens se detestam. Não excluo exceções, mas, em geral, no plano pessoal e empresarial, um não tem o menor apreço pelo outro. Unem-se, porém, compacta e indissoluvelmente, sempre que divisam o risco comum.”


 


Leia a íntegra: A opinião pública derrota a mídia