Em Lisboa, dirigente do PCdoB fala da esquerda no Brasil
De passagem por Portugal para representar o Partido Comunista do Brasil durante o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, José Reinaldo Carvalho concedeu uma entrevista à Agência Lusa na qual afirma que o governo brasileiro está ''abrin
Publicado 13/11/2006 14:34
O secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), José Reinaldo Carvalho, disse, em Lisboa, durante o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, ser impossível um governo exclusivamente de esquerda no Brasil.
Em entrevista à Agência Lusa, Carvalho afirmou que a participação dos comunistas brasileiros em um governo centrista ''é um fenômeno muito novo e uma peculiaridade da realidade política'' interna.
''Não é de maneira nenhuma falta de coerência'', explicou, justificando: ''É o resultado de, nas presentes condições, ser impossível a existência de um governo exclusivamente de esquerda no país. Foi a fórmula encontrada para ir superando o neoliberalismo''.
De acordo com o representante do PCdoB, está formada ''uma aliança das forças democráticas no sentido amplo'' e o governo brasileiro está ''abrindo caminho'' para ''corresponder à reivindicação democrática da maioria da população''.
Chávez e Fidel
Quando indagado a respeito da possibilidade de o presidente Luis Inácio Lula da Silva ser ofuscado pelo presidente venezuelano como ícone de esquerda, o secretário para as Relações Internacionais do PCdoB disse que o presidente brasileiro ''não pretende'' tal papel.
''O processo venezuelano, progressista, em muitos sentidos revolucionário, antiimperialista, profundamente democrático e participativo, reuniu condições para ir além no confronto com a classe dominante'', disse Carvalho.
''Não se pode exigir ao presidente Hugo Chávez que imite Fidel Castro, ou que Lula faça o mesmo. Cada um tem a sua particularidade'', declarou o representante do PCdoB, acrescentando que Cuba só é um ''farol'' no sentido de ser uma ''fonte de inspiração para uma luta que tem um profundo caráter social''.
''Nenhum dos atuais presidentes progressistas da América Latina terá a ilusão de transformar o seu país numa réplica do modelo cubano. Seria ir contra a História'', disse Carvalho.
EUA e Europa
Sobre a possibilidade de os democratas norte-americanos, ao contrário dos republicanos, virem finalmente a dar prioridade à América Latina, o secretário do PCdoB disse: ''Vamos ver''.
''Os democratas não estão no governo, têm apenas a maioria nas duas câmaras'' e, em relação aos republicanos, Carvalho não vê diferenças profundas, “ambos defendem a hegemonia dos Estados Unidos''.
Em relação à Internacional Socialista (IS, organização mundial de partidos social-democratas), Carvalho assinalou que ''não representa uma solução de esquerda''.''Sob a hegemonia da social-democracia européia, a maioria dos partidos afins, no poder, estão praticando políticas neoliberais, tal como a direita que os precedeu. Têm, portanto, um cunho de classe, burguesa'', disse o representante do PCdoB.
Comunismo
No que diz respeito à forma como os comunistas poderiam gerir uma potência emergente como o Brasil, o secretário das Relações Internacionais do PCdoB foi claro: ''É preciso preservar a coerência ideológica e ao mesmo tempo ter flexibilidade táctica, habilidade para lidar com todas as contradições do processo, desenvolvendo políticas de espectro vasto''. ''A esquerda no poder deve ter capacidade para fazer amplas alianças políticas'', acrescentou.