Marcha de 10 mil em Salvador no dia de Zumbi

Salvador da Bahia, a maior cidade negra fora da África e capital baiana de todas as cores, neste 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, celebrou a data com uma caminhada pelas ruas centrais organizada pela Coordenação Nacional de Entidades

A marcha que recebeu o nome de Caminhada Zumbi dos Palmares, em homenagem a este  herói do povo brasileiro assassinado em 1695 neste dia , ocorre em Salvador há quase 30 anos. Tradicionalmente ela é uma celebração à luta anti-racista  e  aglutina a maioria das correntes desse movimento.  Este ano, a defesa da implantação do sistema de cotas raciais para o ingresso na universidade e pela aprovação no Congresso Nacional do Estatuto da Igualdade Racial que entre outras medidas de combate ao racismo inclui a dimensão racial nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado, foram bandeiras destacadas.


 


A saída do largo do Campo Grande, ocorreu com atraso, mas nem por isso com menor entusiasmo e participação. Na praça da Piedade, uma parada em homenagem  aos quatro jovens heróis negros da Revolta dos Alfaiates enforcados naquela praça em 1798. O busto de Lucas Dantas (24 anos), Luís Gonzaga das Virgens (36 anos), Manuel Faustino dos Santos Lira (18 anos) e João de Deus Nascimento (24 anos) estão em cada canto da praça numa homenagem aos heróis do povo brasileiro na luta pela libertação dos escravos e pela Proclamação da República. Um representante do CECUP – Centro de Educação e Cultura Popular contou um pouco da história da Revolta dos Alfaiates, também chamada de Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana e defendeu a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio.



No mesmo local, após cantar uma música do Grupo Ilê Ayê que fala de Zumbi, Lázaro Ramos disse que “É muito bom estar aqui porque é uma forma de dizer : olhem, dêem atenção a gente não só quando a gente toca tambor, mas dêem atenção a gente também quando a gente reivindica nossos direitos, para quando a gente celebra Zumbi dos Palmares.  O Foguinho, da novela, citou também uma frase da cantora negra norte-americana, Nina Simone: “Eu não quero ser o palhaço da sociedade, eu quero estar integrada à sociedade plenamente” . E,  reforçou: “Eu como artista digo que quero estar integrado à sociedade em todos os setores, não só no meio artístico”.



A vereadora Olívia Santana (PCdoB) é autora da sessão especial da Câmara Municipal de Salvador em homenagem  ao ator baiano. A entrega da medalha Tomé de Souza ao ator , que em 1995 interpretou no teatro o grande líder negro Zumbi dos Palmares, é parte  das atividades da Comissão de Reparação da Câmara Municipal.
Era noite, quando a manifestação se encerrou e o plenário da Câmara Municipal ficou pequeno para o grande número de presentes.



Olívia fala sobre raça e classe *



P- O que o povo brasileiro tem a comemorar neste 20 de novembro? 



R- “Comemora-se  em primeiro lugar a ampliação da consciência da sociedade brasileira sobre o racismo. As manifestações que vêm crescendo em todo o Brasil em torno do Dia Nacional da Consciência Negra revelam a existência de uma “massa crítica” quanto às relações sociais no Brasil. É preciso ter um projeto de luta nesse país que eu como comunista defendo que seja a construção do socialismo. É preciso construir uma experiência nesse país onde a luta pela promoção da igualdade racial esteja articulada com a luta de gênero e principalmente com a luta de classe. O projeto de superação da desigualdade de classe precisa estar articulado com uma visão de promoção da igualdade racial . As desigualdades são múltiplas, mas a questão de gênero e raça são também questões estruturantes que tem a ver com a fundação da sociedade brasileira. Esse é o grande ganho que nós tivemos extrapolando as fronteiras do movimento negro e que a sociedade  não veja o racismo como o problema do negro, mas que é um problema que impede o desenvolvimento social, econômico e cultural do nosso país”.



P- Fale sobre o entrelaçamento da questão de classe e raça



R- “Vivemos numa sociedade capitalista onde a questão racial é utilizada como um elemento que aprofunda as desigualdades, esse fosso que separa as elites da grande maioria do povo  brasileiro. A variável de raça está presente em todos os indicadores sociais de exclusão. Recentemente, o IBGE apresentou dados que revelam que o negro ganha a metade do que ganha um trabalhador branco e que o negro tem menos acesso à universidade dos que os brancos. Portanto, são elementos que recortam toda a vida social brasileira. Nós encontramos racismo em todo lugar. O capitalismo se utiliza da exploração e da visão de subalternidade da população negra.”         


 


* Ping Pong com Fernando Udo