Dossiê é verdadeiro e mostra pagamentos a Serra, diz Expedito

Em depoimento à CPI dos Sanguessugas nesta quarta-feira (22), o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso revelou que o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), recebeu dinheiro da máfia das ambulâncias, por meio de caixa dois na campanha

Em depoimento hoje à CPI dos Sanguessugas, o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso revelou com detalhes parte do conteúdo do famoso dossiê que o chefe da máfia das ambulâncias, Luiz Antonio Vedoin, teria tentado vender a integrantes da campanha petista ao governo de São Paulo. Segundo Expedito, o dossiê tinha ''documentos que mostravam como a Planam transferiu dinheiro para o PSDB, e tinha provas documentais desse fato''. Ele revelou que o dossiê continha uma relação de cheques e transferências bancárias que teriam sido usados para pagar restos da campanha do tucano José Serra à Presidência, em 2002.


 


Expedito afirmou que teve acesso a 15 cheques, de contas do Banco do Brasil, que teriam sido destinados a pagamentos de restos de campanha do tucano naquele ano. ''Eu, como bancário, fui lá para conferir a autenticidade dos documentos'', disse o ex-diretor do BB. ''Foram mostrados 15 cheques no valor de 600 mil (reais) e 20 transferências, de mais ou menos 900 mil (reais)''.


 


Expedito afirmou ainda que ''essas transferências foram feitas por empresas de propriedade dos Vedoin, uma empresa de Ipatinga (MG) e outra de Governador Valadares (MG)''.


 


O ex-diretor do BB disse também que a festa de entrega de ambulâncias com políticos tucanos, que aparece num DVD ''foi paga pela Planam''.


 


De qualquer modo, ressaltou, ''a parte mais importante do dossiê não é o DVD e sim os cheques''.


 


Expedito aconselhou os deputados a investigar as empresas DataMicro Informática e Império Representações Turísticas, que teriam feito transferências bancárias de dinheiro para a campanha de Serra a mando do empresário Abel Pereira. O depoente disse que esta última empresa também emitia passagens para a campanha de Serra. O dinheiro teria sido repassado às duas empresas pela família Vedoin.


 


Sampaio irritou-se


 


Irritado com o fato de uma importante liderança do PSDB estar sendo desmascarada em plena sessão aberta da CPI, o deputado tucano Carlos Sampaio (SP) reagiu nervoso, tentando desmentir o depoimento de Expedito. ''Ele está sendo criminoso, mentiroso, contraditório e não petista'', disse Sampaio a jornalistas. ''Não ligo a figura do PT à inverdade, à mentira… mas ele, Expedito, está mentindo, sendo contraditório, criando teses e, portanto, está desqualificando o seu depoimento.''


 


Sampaio lembrou que ''em momento algum ele falou isso à Polícia Federal'', referindo-se à existência dos cheques e das transferências bancárias. ''Essa tese foi criada aqui.''


 


Expedito, por sua vez, disse ainda que os cheques foram repassados a Abel Pereira, empresário de Piracicaba (SP), ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri, no governo Fernando Henrique Cardoso.


 


O ex-diretor do BB afirmou que Abel Pereira ''estava em Cuiabá na mesma época que nós estávamos e tive informações de que ele tentava comprar o silêncio dos Vedoin''.


 


Acareação


 


Expedito repetiu o que Jorge Lorenzetti falou à CPI, de que o acordo com Vedoin sobre o dossiê envolvia apenas ajuda jurídica e não dinheiro. Ainda assim, o dono da Planam teria pedido 20 milhões de reais para fazer o acerto, que teria três etapas: Vedoin entregaria os documentos à Justiça; concederia uma entrevista a um órgão de imprensa escolhido pelos petistas e entregaria a eles uma cópia da papelada.


 


Ainda no depoimento, o ex-diretor do BB disse que não se lembrava de ter ligado várias vezes para Gedimar Passos quando este estava no Hotel Íbis, em São Paulo, para negociar o dossiê contra integrantes do PSDB. Expedito colocou em dúvida o relatório elaborado pela Polícia Federal sobre a sua quebra de sigilo telefônico.


 


Em setembro, Expedito estava em Cuiabá acompanhando a entrevista de Luiz Antonio Vedoin à revista ''IstoÉ''. Passos estava em São Paulo com o empresário Valdebran Padilha, ocasião em que foram apreendidos R$ 1,7 milhão relativos à compra do dossiê. ''Não me lembro de ter falado com Gedimar em São Paulo (por telefone)'', disse Expedito.


 


Diante do impasse, o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), sugeriu uma acareação entre Expedito e Gedimar Passos. ''Por que não fazemos uma acareação entre Vedoin e Barjas Negri?'', sugeriu o deputado Eduardo Valverde (PT-RO), sobre os cheques que pagaram os restos da campanha de Serra em 2002.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez