Tatto: coalizão sim, mas “a hegemonia tem de ser do PT”

Bernardo Joffily
O PT ainda busca uma linguagem comum sobre o governo de coalizão proposto pelo presidente Lula. “Concordamos com o governo de coalizão, entendemos que é importante, mas a hegemonia tem de ser do PT, porque o governo deve ser de esquerd

O entendimento de Jilmar Tatto sobre hegemonia destoa das declarações do presidente em exercício do PT, Marco Aurélio Garcia, no mesmo dia, sobre a “obsessão” do governo e dos partidos aliados para chegar a um candidato único para a presidência da Câmara dos Deputados. “É um problema que o PT não resolve sozinho”, lembrou Marco Aurélio.



Mestre Gramsci, hegemonia, consenso e força



Tatto, oriundo dos movimentos comunitários da Zona Sul de São Paulo, elegeu-se deputado federal em outubro com consagradores 145 mil votos, na “bancada” petista da ex-prefeita Marta Suplicy. Mas sua declaração guarda distância do conceito de hegemonia desenvolvido por Antonio Gramsci (1891-1937).



“O exercício 'normal' da hegemonia, no terreno clássico do regime parlamentar, caracteriza-se pela combinação da força e do consenso, que se equilibram de modo variado, sem que a força suplante em muito o consenso”, dizia o fundador do Partido Comunista Italiano, encarcerado por Mussolini. Já Jilmar Tatto parece depositar mais fichas na força que no consenso.



Marco Aurélio, professor de História na Unicamp, e familiar com o pensamento gramsciano, lembrou que a eleição da presidência da Câmara e a formação do novo governo “deve corresponder também a essa política de coalizão mais ampla que estamos propondo e começando a implementar”.



Dois caminhos divergentes



“O que haverá concretamente são negociações da parte da bancada petista com as outras bancadas para tentar encontrar uma solução política. Nós queremos enfatizar que não há nenhum conflito a esse respeito. Mesmo que houvesse opiniões diferenciadas, o que não é o caso das nossas opiniões, nós estamos abertos a qualquer solução e temos certeza que a bancada petista também estará aberta”, acrescentou.



Pelo caminho apontado pelo presidente interino do PT, há chances reais de consenso e quem sabe até de hegemonia. Por aquele da declaração do terceiro vice-presidente, não é difícil que se chegue a uma situação que lembre o dia 15 de fevereiro de 2005, quando Severino Cavalcanti foi eleito presidente da Câmara.