Caio Túlio: a mídia é a grande derrotada das eleições
Na palestra sobre democratização da mídia na Faculdade Casper Líbero (SP), o presidente das operações de internet da Brasil Telecom, Caio Túlio Costa, disse que a maior derrotada das últimas eleições foi a mídia. “Se fizermos uma análise precisa das últim
Publicado 02/12/2006 19:04
Segundo ele, a mídia não foi formadora de opinião nessas eleições porque tentou impedir a reeleição de Lula e não conseguiu. Caio Túlio disse que os jornalistas ainda não perceberam a importância da “nova mídia”.
“Nem nós jornalistas nem os políticos perceberam que há uma extraordinária transformação na questão da comunicação. As mudanças são profundas e o que elas nos apresentam é impossível de saber o quão profundas elas serão”, disse Caio Túlio.
Segundo ele, algumas dessas mudanças ressaltam e é difícil para quem está no “olho do furacão” perceber essas transformações.
Caio Túlio disse que não dá mais para falar em mídia sem falar no poder que as pessoas conquistaram em ter acesso a essa mídia. Ele lembrou que em mídias como jornal impresso e televisão, o máximo que o “receptor” consegue é mandar uma carta para a televisão ou para o jornal. “Hoje (com a internet), as pessoas têm a possibilidade de estar na mídia, de poder fazer a mídia”, disse Caio Túlio.
Caio Túlio lembrou dois exemplos (momentos espetaculosos) que sintetizam essa transformação, que a academia ainda não consegue deglutir, os jornalistas não conseguem entender e os políticos ainda não perceberam:
O primeiro foi no dia 11 de março de 2004, quando a Espanha sofreu atentados terroristas nas estações de trem de Madrid. Enquanto toda a imprensa dizia que os ataques eram responsabilidade do grupo separatista basco ETA, uma emissora de rádio (apenas uma, ligada ao El País) noticiou que o atentado não era de responsabilidade do ETA. A partir daí, a notícia dessa única emissora de rádio foi difundida por celular (SMS) e computador (e-mail, internet). Isso fez com que a situação política se invertesse e Aznar, que concorria à reeleição perdesse a disputa para o candidato da oposição.
O segundo exemplo, em São Paulo, no dia 15 de maio de 2006, o paulistano atendeu a um toque de recolher sem ter a menor noção do que é um toque de recolher e sem saber quem deu o toque de recolher. Todos foram para casa e provocaram o maior congestionamento que já existiu. A polícia disse que a mídia causou o pânico. As pessoas começaram a voltar para casa na hora do almoço. Elas estavam recebendo mensagens pela internet e pelo celular. A expressão “toque de recolher” foi usada ao meio dia por um jornalista da Rede Record, a população já estava voltando para casa. As “imagens espetaculares” ajudaram a criar esse espírito, mas as autoridades não usaram o mesmo meio para dizer que não havia toque de recolher.
Caio Túlio disse que o uso desses meios mostra o quanto isso que se chama de mídia tem outra configuração. A mídia, segundo ele, é a televisão, novela, jornal, celular, internet, blog.
“O que vale é a nossa capacidade de interferir na informação. É com isso que temos que nos preocupar”, disse Caio Tulio.
Segundo ele, este é um momento enorme de transição e há uma mudança brutal em jogo, que transforma a mídia de algo “emissor-receptor” para uma via bidirecional que “empodera” o cidadão, é uma nova maneira de o cidadão se portar com novas armas.
“O papel que os jornalistas tinham de atores principais mudou”, completou Caio Túlio.
FGonte: Paulo Henrique Amorim – http://conversa-afiada.ig.com.br