Derrota no plenário mostra taxa de rejeição ao PT na Câmara

Por Bernardo Joffily
Observadores da cena política em Brasília tomam a vitória de Aroldo Cedraz (PFL-BA) sobre Paulo Delgado (PT-MG), nesta quarta-feira (6) no plenário da Câmara, como um recado e um sinal amarelo para os planos do governo Lula no Cong

Para este observador, a decisão da bancada do PT na tarde de terça-feira “enfrenta o presidente da República”, que no mesmo dia voltou a manifestar preferência pela permanência de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à frente da Câmara. Na sua interpretação, o troco foi dado 24 horas depois, com o voto secreto dos 399 deputados: Cedraz teve 172 votos, contra 148 para Delgado. Os outros candidatos da base do governo se retiraram da disputa, em nome da unidade, mas o candidato único não unificou.
Sobre a natureza de pessoas e partidos



Este é um aspecto que a bancada petista deveria considerar bem, prossegue a fonte, embora acredite que na votação para preencher uma vaga no TCU (Tribunal de Contas da União) possa ter influido também o perfil do nome que concorreu. “Pensar que um candidato do PT tem condições de vingar assim, sem um grande acordo, revela um apetite exagerado, uma visão hegemonista”, critica.



O observador comenta ainda que esta tem sido uma atitude que permanece na trajetória petista. “Um partido político, como uma pessoa, tem a sua natureza, que não muda a pulso nem de uma hora para outra”, observa.



No PMDB, um jogo de pressão



Quanto ao gesto do PMDB, que anunciou a disposição de lançar também seu candidato à presidência da Câmara, invocando a condição de maior bancada da Casa (89 deputados eleitos em outubro, para 83 do PT), o observador tem outra visão: embora uma atitude pareça o espelho da outra, seu sentido é diferente.



“No caso do PMDB, é um jogo, um jogo de pressão”, analisa a fonte. Prevê que “o PMDB não será problema” para uma solução de consenso na base governista de deputados, embora a legenda ainda enfrente uma disputa interna “muito dura”, não sendo certo, por exemplo, se terá êxito em março a substituição do deputado Michel Temer (SP) pelo ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim, como presidente do partido.



O quadro da eleição na Câmara ainda deve sofrer muitas mudanças na opinião do observador. “Agora é muito fogo de festim”, acredita ele.



Chama a atenção o fato de que a oposição, que já lançou José Agripino (PFL-RN) para tentar a presidência do Senado, faz um outro jogo distinto na Câmara. Assim que foi anunciado o resultado da votação no prelnário da Câmara, o líder da bancada do PFL, Rodrigo Maia, (RJ), tomou da palavra não para celebrar a vitória do correligionário Cedraz mas para elogiar a conduta de Aldo, “nesta tarde e em toda a sua presidência”.



Tarso: candidatura não é “fato consumado”



Esta parece ser também a sensibilidade do Planalto. Enquanto o plenário da Câmara se reunia, do outro lado da Praça dos Três Poderes o  ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, fazia notar que a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia não é “fato consumado”.



Tarso sublinhou que “não há nenhuma impugnação do nome do Arlindo” e que o partido, que ele presidiu interinamente no ano passado, “tem direito de apresentar um nome”, pois não vai ser mais alvo de enquadramento”. Mas, agregou, a presidência da Câmara terá de dar “sustentação global” ao governo. “O governo quer trabalhar para que o novo presidente dê estabilidade para os trabalhos da Câmara e garanta uma relação estável com o Executivo”, destacou Tarso Genro.