PCdoB/RS divulga resolução de avaliação das eleições

O PCdoB RS divulga a íntegra do documento público de resolução da sua quarta reunião do pleno do Diretório Estadual, realizada nos dias 9 e 10 de dezembro.

 


Veja a íntegra do documento:


 


O Rio Grande do Sul dá uma guinada à direita!


 


Uma nova realidade política emerge das urnas no Rio Grande do Sul. Sua marca principal é a guinada do eleitorado no rumo da direita, tanto na eleição para a Presidência da República como para o Governo do Estado.


 


As forças de direita, vitoriosas, passaram a nuclear as forças de centro – principais derrotadas da eleição. A esquerda não conseguiu superar a crise que enfrenta desde a perda do governo do estado, e acumulou mais uma derrota. A eleição de Yeda/Feijó (PSDB/PFL/PPS) significa um grande retrocesso político.


 


Na eleição presidencial, Lula perdeu pela primeira vez no estado. E mesmo com o crescimento da sua votação no 2° turno, a derrota foi por margem considerável de votos.



No momento em que o Brasil avança no rumo democrático e mudancista e pelas características progressistas de nosso estado, o impactante resultado exige uma análise minuciosa que aponte as razões que levaram o eleitor a apoiar as forças conservadoras.



Podemos situar a convergência de três principais questões adversas que determinaram o resultado:


1º – A grave crise da economia
O Rio Grande do Sul vive uma crise econômica profunda. Ela se deve ao esgotamento da nossa matriz econômica e as conseqüências de medidas adotadas pelo governo do estado e pelo governo federal. Tal crise foi debitada à política econômica do governo Lula. A blindagem feita durante os quatro anos ao governo do estado e o fogo cerrado contra o governo Lula, sem a existência de um contraponto, levaram a direita a “surfar” tranquilamente na campanha contra o governo da esquerda. Além disto, a ausência da abordagem da questão nacional, pelo PT, tanto na campanha como anteriormente, despolitizou a disputa e facilitou o discurso vazio da candidatura da direita. A candidatura Alkmim capitalizou este sentimento oposicionista e catapultou a candidatura da Yeda.


 


2º – A crise ética do PT
A crise ética que atingiu o principal partido de esquerda no último período e que levou a intensa crise política no país provocou uma profunda decepção entre vários setores do eleitorado gaúcho, especialmente entre os trabalhadores, as camadas médias e os formadores de opinião que viram o PT se criar como o arauto da ética política.


 


3º – O reforço do anti-petismo
O anti-petismo teve origem em uma política equivocada praticada pelo PT no governo do Estado e prefeituras (falta de amplitude e exclusivismo, em que pese os bons governos realizados), e acentuou-se pela ação conservadora da grande mídia. Foi reforçado pela crise da economia – atribuída ao governo Lula, pela crise ética e pelo tipo de campanha realizada no primeiro turno.



 
Desde o primeiro momento nosso Partido trabalhou com a possibilidade da esquerda retomar o governo. Para tanto pregou a necessidade desta aparecer de forma renovada e mostrar que a superação da crise do estado está intimamente ligada ao projeto nacional.


 


Não foi isto que se viu no primeiro turno. No essencial a campanha no primeiro turno voltou-se para o eleitorado de esquerda. A preocupação primeira era se diferenciar do PT nacional e dos erros cometidos por este e, ao mesmo tempo, fazer uma defesa tardia e extemporânea do primeiro governo Olívio no estado. Isto nos deixou com um discurso ultrapassado, incapaz de dialogar com a sociedade sobre os problemas reais do presente, apontando uma perspectiva de futuro para o Estado.


 


O objetivo central era recuperar as bases petistas decepcionadas com os acontecimentos recentes, quando o centro da campanha deveria indicar a necessidade de unir amplas forças em torno de um projeto de retomada do desenvolvimento do estado que só poderia se realizar conectado ao projeto nacional com Lula à frente.



 
A conjugação destes fatores, entre outros, determinou nossa derrota e o posicionamento à direita do eleitorado gaúcho.


 


Contudo a campanha do segundo turno permitiu o enfrentamento destas questões, (embora não tenhamos conseguido superá-las) determinando um avanço significativo da chapa Olívio/Jussara.


 


A clareza do embate de projetos na disputa nacional que se traduziu no RS; a linha política correta adotada pela campanha; a explicitação desta linha nos programa de tv e nos debates, com a  participação mais destacada da Jussara Cony; a apresentação de uma proposta concreta de enfrentamento da crise e o vínculo com a campanha de Lula, fizeram com que a esquerda se apresentasse como alternativa para uma parcela significativa do eleitorado que identificou na candidatura da Yeda a volta ao passado conservador.


 


Diferentemente do primeiro turno iniciou-se um forte movimento de reaproximação com as forças do centro, de defesa das realizações do governo federal, mostrando as vantagens que o estado teria caso elegesse um governador afinado com este projeto. Várias lideranças de partidos como o PDT, PMDB e PP nos apoiaram abertamente ou não participaram da campanha da Yeda.


 


Do resultado podemos tirar algumas indicações:


1 – O governo Yeda enfrentará grandes dificuldades tendo em vista a gravidade da crise financeira e da economia do estado. Este problema estrutural, dificilmente será enfrentado sem uma ação conjunta com o governo federal. Seu governo está sendo construído apoiando-se nos movimentos que aprovaram propostas para enfrentar a crise: o “Pacto pelo Rio Grande” e o “RS que queremos” e tendo como premissa uma forte reestruturação da gestão do estado.


 


Nossa atitude oposicionista deverá estar atenta aos rumos do seu governo. O enfrentamento da crise não pode recair sobre os mais necessitados e enfraquecer o “estado” com conseqüências nefastas às políticas públicas, aos municípios e a maioria dos servidores públicos e do povo trabalhador.


 


2 – A esquerda, embora derrotada, pode recuperar terreno no estado. Para isso é preciso reaglutiná-la em bases novas, – a partir do apoio ao governo Lula com o objetivo de realizar os compromissos mudancistas – e buscando atrair as forças de centro que participam deste esforço nacional. A campanha no segundo turno demonstrou que sem uma política mais ampla não é possível avançar.


 


O êxito do projeto mudancista nacional, liderado por Lula – que passa pela construção de um governo de coalizão -, e a existência de um governo das forças conservadoras no estado, terá desdobramentos na relação com as forças políticas no RS.


 


3 – Neste cenário, o PCdoB precisará desempenhar um papel compatível com sua exitosa participação no processo eleitoral para se firmar como força de esquerda conseqüente.  Precisará dar expressivo salto na sua ação política e de massas, na construção de sua estrutura partidária e atrair lideranças políticas e do movimento social, além de ocupar posição destacada no próximo pleito municipal.


 


A expressiva vitória do PCdoB no RS e as tarefas decorrentes


O PCdoB teve o seu mais expressivo resultado eleitoral num quadro de avanço das forças de direita.


 


Num primeiro turno marcado por forte antipatia do eleitorado com o PT e as candidaturas de Lula e Olívio, e numa realidade em que o voto de opinião minguou expressivamente, o PCdoB conseguiu atingir plenamente seus objetivos:


 


1º – Elegeu Manuela, a deputada federal mais votada do estado e a mulher mais votada do Brasil, com 271.939 votos, correspondendo a 4,56% dos votos válidos. Somou 281.475 votos, 4,72 % para a Câmara Federal e fez 89.150 votos a mais que o cociente eleitoral. Esta votação garantiu a manutenção de 8 cadeiras para a Frente Popular;


 


2° – Manteve sua representação na Assembléia Legislativa com a eleição de Raul Carrion que teve 41.549 votos, o 7º da coligação. Somou 98.504 votos para a Assembléia Legislativa, 1,64% dos votos válidos. Com 6 candidatos fez 10.533 votos a menos que o cociente eleitoral. A candidatura de Piaia se firmou como importante liderança em Ijuí e as outras candidaturas tiveram reforçado seu vínculo junto ao povo da sua região;


 


3º – Ocupou espaço destacado na disputa política maior, com a candidatura à vice-governadora de Jussara Cony, que se destacou no processo projetando a um novo patamar o Partido e a liderança de nossa deputada.


 


Esquerda sem PT: PCdoB, PSB, PSol


 


O Partido sai do processo eleitoral com outra personalidade política. Com o resultado eleitoral e o enfrentamento vitorioso da cláusula de barreira somos vistos de outra maneira. O maior desafio decorrente dele é dar consistência a nossa ação partidária, na luta política e ideológica, na ação junto às massas através de suas organizações e na estruturação partidária. Para tanto, impõe-se vários desafios:


 


1º – Elevar nosso protagonismo na luta política e ideológica com o objetivo de firmar o PCdoB como o Partido da esquerda renovada no RS. Para tanto a ação partidária deverá se orientar por:



– Reforçar os compromissos mudancistas e desenvolvimentistas definidos no programa de reeleição do governo Lula, lutando pela sua concretização. Participar ativamente deste esforço ocupando espaços do governo federal no RS condizentes com nossa contribuição e nossa força;



– Atuar em oposição ao governo Yeda denunciando qualquer medida que possa ser um retrocesso ao estado. Propugnar junto ao governo federal medidas que ajudem a superar a atual crise econômica do estado;



– Mobilizar as forças políticas avançadas e os setores progressistas da sociedade gaúcha, em torno de uma reforma política que aprofunde a democracia no país;
– Tratar da ação dos mandatos parlamentares e dos espaços institucionais, visando nossos objetivos políticos;



– Desde já tratar do projeto eleitoral para o embate de 2008 que deverá perseguir dois objetivos:
a) dar maior visibilidade à nossa legenda garantindo a presença do Partido na disputa majoritária de cidades importantes;
b) buscar a eleição de um número expressivo de vereadores através de chapas próprias ou coligações.


 


2º – Impulsionar a nossa ação no movimento popular aprofundando o vínculo com a luta e o dia-a-dia do nosso povo;


 


3º – Ajustar as linhas de estruturação partidária à nova realidade decorrente das vitórias alcançadas.


 


Com o objetivo de definir o Plano de Estruturação Partidária (PEP) para o próximo período, que concretize estas questões, fica convocado um Seminário Partidário no mês de março do próximo ano.


 


Porto Alegre, 10 de dezembro de 2006.