Em balanço de 2006, CUT destaca conquistas e percalços

O ano que termina entra para a história do País como um dos mais movimentados politicamente das últimas décadas. A CUT, seus sindicatos, os movimentos populares e sociais estiveram na linha de frente das principais batalhas.


 


Conf

Terminamos 2005 com a 2ª Marcha do Salário Mínimo e a perspectiva concreta de uma negociação positiva para os trabalhadores, como de fato ocorreu. A elevação do mínimo para R$ 350 foi uma importante conquista para os assalariados por significar distribuição de renda para milhões de brasileiros e brasileiras que vivem no limite da linha da miséria. Ao final de 2006, a realização da 3ª Marcha foi o estopim para novo reajuste, elevando o mínimo para R$ 380, além garantir uma política de valorização do mínimo e corrigir a tabela de Imposto de Renda e, 4,5% durante os próximos anos.


 


O Fórum Social Mundial, ocorrido na Venezuela em janeiro deste ano, reafirmou a urgência de se buscar alternativas para a super-exploração capitalista, que promove guerras por interesses econômicos, como a invasão do Iraque pelos Estados Unidos. A CUT esteve presente no Fórum participando e promovendo oficinas temáticas que problematizaram as questões do trabalho na América Latina e no mundo.


 


Se no campo das idéias, a central trava a luta pela hegemonia, no dia-a-dia buscava negociar com o governo aumento para aposentados e pensionistas que recebem mais de um salário mínimo. No final de vários meses de negociação, se chegou a um acordo que avançou em diversos pontos e apontou para uma política de recuperação do valor dos benefícios.


 


De um lado, negociação e pressão permanentes; de outro, avançamos na construção de políticas de massa e de inserção da central nos mais variados segmentos da sociedade. Exemplo disso foram as atividades do 1º de Maio, que apenas em São Paulo concentraram mais de 1,5 milhão de pessoas na Avenida Paulista. Projetos educacionais e culturais como o Todas as Letras, programa de letramento de jovens e adultos promovido pela Secretaria Nacional de Formação, o Cantacut, festival de música lançado pela Secretaria de Comunicação, que reuniu talentos de todas as partes do país, e a mostra de cinema Imagens do Trabalhador, são alguns exemplos da política mais geral da CUT.  


 


9º Concut
Um dos principais momentos da Central Única dos Trabalhadores é seu congresso nacional, que ocorre a cada três anos, renova a direção, realiza o balanço do período anterior e aponta os desafios para o futuro. O congresso realizado em junho foi um dos mais expressivos em termos de participação (2.500 delegados), escolheu como presidente da CUT o companheiro Artur Henrique, do Sinergia-SP, e entre suas deliberações fez a clara opção por apoiar a reeleição do presidente Lula.


 


“Estávamos diante de dois projetos distintos para o país: um representado pelos tucanos, que significava a volta do modelo neoliberal, das privatizações, do sucateamento da máquina do estado e da perda de direitos trabalhistas; e outro representado pelas forças que apóiam o governo Lula e sua política de valorização dos salários, de distribuição de renda e de desenvolvimento para o país. Mesmo com críticas pontuais ao governo, e mantendo a autonomia da central, o posicionamento do 9º Concut foi importante e correto politicamente”, avalia Artur Henrique. 


 


E, de fato, o que se viu nos meses posteriores foi a expressão da luta de classes no campo da política eleitoral. Embalados pelos escândalos (muitos dos quais turbinados pela mídia) que atingiram o Congresso Nacional desde o ano anterior, boa parte das elites – novamente, e como sempre, com o apoio acrítico da imprensa – já considerava o governo Lula favas contadas e alguns setores até chegaram a ensaiar o impedimento do presidente e a antecipação das eleições.


 


Contra as tentativas de golpe branco, a CUT e os movimentos sociais saíram às ruas e foram para a disputa política, denunciando o projeto privatista, as manipulações da mídia e as jogadas sujas de bastidores. “Hoje, avalio que ter havido segundo turno foi o melhor cenário para o país, que pôde conhecer um pouco melhor as diferenças entre os projetos em disputa. A eleição no primeiro turno seria uma vitória eleitoral, da maneira que foi, acabou sendo uma vitória política e eleitoral”, define João Felício, ex-presidente da CUT e atual secretário de Relações Internacionais.


 


Outras lutas, outras conquistas
Engana-se, no entanto, quem acha que a CUT esteve no segundo semestre envolvida apenas na disputa eleitoral. Em agosto, a central lançou a campanha nacional unificada – um primeiro passo para se ter uma agenda de negociação permanente entre empresários, governo (federal, estaduais e municipais) e trabalhadores, que aponta para o contrato coletivo de trabalho. O lançamento, em frente à sede da central, em São Paulo, reuniu cerca de 3 mil representantes de sindicatos de todo o País.


 


O ano de 2006 marcou, também, os 20 anos de política de gênero da CUT, que foram relembrados com diversas atividades promovidas pela SNMT (Secretaria Nacional sobre a Mulher Trabalhadora) e com o lançamento de um livro que realiza o resgate histórico dessas duas décadas de luta.


 


Em termos de publicação, outra importante contribuição foi o lançamento do livro Horas Extras, um profundo estudo do Dieese, sob coordenação da Secretaria de Políticas Sindicais. A SPS-CUT esteve também à frente do projeto contra a perseguição a dirigentes sindicais, disponibilizando na página da central um espaço para denúncias de arbitrariedades promovidas contra a atividade sindical. 


 


Relações institucionais
A CUT avançou, também, na discussão de seu modelo de organização interna, de seus ramos e no apoio à criação de redes de trabalhadores, como a da Vale do Rio Doce. Esteve à frente da organização da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) e promoveu, no último mês do ano, a 3ª Marcha do Salário Mínimo, que reivindica uma política permanente de valorização do salário mínimo.


 


No campo internacional, uma delegação da CUT esteve presente no congresso de fundação da nova central sindical mundial, a CSI – Central Sindical Internacional -, ocorrida em novembro. Maria Ednalva, da executiva da CUT, representará a central junto à instância internacional.


 


Outro importante momento da central ocorreu em dezembro, com a realização da Conferência Nacional de Formação, que reuniu 380 delegados em Pontal do Paraná. Para o secretário nacional de Formação, José Celestino (Tino), “a CUT definiu por aprofundar a disputa por hegemonia na sociedade por meio de suas lutas e mobilizações”. Segundo o secretário, um dos objetivos é socializar todas as experiências da rede nacional da formação.


 


No campo da comunicação, o sítio da CUT se consolidou como o mais importante do movimento sindical e um dos maiores da esquerda do país, atingindo em 2006 mais de um milhão de acessos – quase o dobro do obtido no ano anterior. O programa diário de rádio (Jornal dos Trabalhadores) e o semanal de TV (ReperCUTe) dão visibilidade nacional às políticas da CUT e apontam para a necessidade da democratização dos meios de comunicação, outra bandeira histórica defendida pela entidade.


 


“Saldo positivo”
“Sabemos que não conseguimos tudo o que pretendíamos, mas não há como negar que 2006 teve um saldo positivo na luta dos trabalhadores”, avalia Artur Henrique. “Houve geração de emprego, aumento real de salários – não só do mínimo, mas da maioria das categorias profissionais organizadas.”


 


Segundo Artur, “a CUT cresceu em termos de sindicatos filiados, somos a maior central sindical da América Latina e sabemos de nossas responsabilidades. Não nos contentamos com o que já conquistamos, queremos mais para o país, mais desenvolvimento, mais emprego, melhores salários, maior distribuição de renda, menos violência; queremos e lutamos por um país mais justo e igualitário e essa será nossa tarefa em 2007 e nos anos que se seguem. É uma luta longa e bela”.