Livro desvenda trajetória dos metalúrgicos de Betim

Para comemorar os seus 30 anos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São João de Bicas, de Minas Gerais, lançou recentemente um livro contando a trajetória da entidade. A publicação, que abarca os anos de 1976 a 2006, conta a história desde o

Nos anos 70, Minas Gerais embarcava no desenvolvimentismo proposto pelos militares, que se baseava, entre outros pontos, na atração de empresas estrangeiras para o país. Naquela década, conforme lembra a publicação, estava em processo a política conhecida como “Nova Industrialização Mineira”, de iniciativa do governo estadual. A cidade de Betim, seria, então, o pólo para o desenvolvimento deste programa. O objetivo era que Minas deixasse de ser fornecedor de insumos para as indústrias situadas no Rio de Janeiro e em São Paulo e adquirisse seu próprio parque industrial e, com ele, autonomia produtiva. Foi assim que, em março de 1973 foi assinado o “Acordo de Comunhão de Interesses para a implantação de uma indústria automobilística em Betim, Minas Gerais”, tendo como carro-chefe a vinda da Fiat Automóveis para o estado.




Nasce um novo sindicato




Criado durante os anos de chumbo, sob o governo Geisel, o sindicato teve de enfrentar o peleguismo que reinava nas fábricas por conta da atuação conjunta do Exército e do empresariado. Eram tempos de perseguição aos sindicalistas e ganharam força os trabalhadores ligados aos interesses patronais. “Alçados à direção de importantes entidades sindicais do país, em processos eleitorais sabidamente fraudulentos, os pelegos alcançaram relativo sucesso nos primeiros anos da década de 1970, graças ao crescimento gerado pelo chamado ‘milagre econômico’. É esse o contexto que cerca a reorganização da Associação dos Metalúrgicos de Betim, em 1974; a obtenção da carta sindical que, dois anos depois, fez surgir o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Material Elétrico de Betim e a eleição de seu primeiro presidente, Nadir Pinheiro”, lembra o livro.




No bojo das lutas sindicais que ganharam força no final dos anos 70 e começo dos anos 80, as paralisações também chegaram a Betim. Os metalúrgicos da região tinham, como principais reivindicações, além dos “43% de reajuste determinados pelo governo, outros 20% – mesmo índice reivindicado em São Paulo – e permissão para que fossem eleitas as comissões de fábricas destinadas a representar os interesses dos operários junto à direção das empresas que trabalhavam”.




Um dos principais focos de resistência dos trabalhadores estava na empresa italiana de metalurgia FMB. Para dificultar a mobilização dos trabalhadores em 1979, a empresa mudou o sistema de pagamento. O que antes era feito fora dos galpões, passou a ser feito por setor. “A empresa fez isso em todos os galpões. Com isso, impediu que nos reuníssemos novamente para organizar os próximos passos do movimento”, lembra Edmundo Vieira, líder sindical naquele período. Assim, numa assembléia para a qual os trabalhadores não foram convocados, foi firmado um acordo aprovando o reajuste determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho. “Do ponto de vista meramente econômico, não se pode dizer que o movimento tenha sido derrotado”, avaliou Edmundo na publicação, já que foram conquistados pontos como serviço médico ambulatorial gratuito extensivo às famílias e a garantia de que os custos com transporte e alimentação seriam corrigidos de acordo com a inflação. No entanto, disse, a forma como a greve acabou “foi frustrante”.




O resultado do acordo assinado sem aprovação dos operários foi a realização de outra paralisação, em setembro de 79. Para reprimir a greve, os truculentos policiais militares atacaram os trabalhadores. Foi então que aconteceu um dos fatos que mais marcaram a história dos trabalhadores de Betim.Tentando fugir da ação violenta dos policiais, o metalúrgico Guido Leão dos Santos, então com 22 anos, foi atropelado na rodovia Fernão Dias e morreu.




Novas lutas nos anos 90




Apesar de a ditadura já ter caído, os anos 90 também foram marcados pela repressão e a perseguição aos trabalhadores continuou. Andréia Diniz, hoje membro do Comitê Central do PCdoB, sentiu isso na pele. A sindicalista, primeira mulher a compor a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, foi demitida em 1993 por participar das lutas em prol de melhorias para os trabalhadores.




Entre 1997 e 2006, a luta mudou de foco e passou a priorizar o combate às terceirizações. “Antigos funcionários, com muitos anos de casa, foram demitidos e tiveram seus lugares ocupados por outros trabalhadores, que passaram a receber salários menores”, diz o relato do metalúrgico João Alves Almeida.




A partir de 1999, em meio à guerra fiscal travada pelos estados para atrair as fábricas, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos mobilizou os trabalhadores da área na busca pela obtenção de um contrato coletivo nacional nas montadoras de automóveis. Outro ponto de luta que se seguiu foi pelo fim do banco de horas, conseguido após a luta dos trabalhadores. Também recebe destaque na publicação a luta dos metalúrgicos pela proteção à saúde dos trabalhadores. O livro lembra ainda a participação do sindicato nas manifestações contra as privatizações e o desmonte do Estado impulsionados pelo governo FHC.




Por fim, o livro ressalta que o Sindicato, atuante desde os anos de chumbo até o governo do presidente metalúrgico, passando pela era neoliberal, tem participado, sob Lula na Presidência da República, “de todos os movimentos organizados com o objetivo de fazer com que a política econômica adotada pelo governo não implique em redução de gastos sociais e de direitos trabalhistas e seja capaz de dar impulso ao crescimento econômico, para ampliar a geração de empregos e transferir recursos para os que mais necessitam”.




Para mais informações sobre a publicação e o Sindicato, acesse o www.metalurgicosdebetim.org.br .