“Senhores da guerra” voltam para capital da Somália

Vários “senhores da guerra” somalis entraram nesta sexta-feira (29/12) em Mogadíscio, capital da qual tinham partido há seis meses depois que os milicianos islamitas se apoderaram dela. O relato foi feito por alguns moradores, sem disfarçar a angústia que

Na quinta-feira, os combatentes dos tribunais islâmicos deixaram Mogadíscio, devido ao avanço das tropas governamentais somalis, apoiadas pela Etiópia, que conseguiram entrar na cidade. Hoje, um destes “senhores de guerra”, Mohamed Qanyare Afrah, que controlava uma parte do sul de Mogadíscio antes de junho de 2006, foi visto na capital.


 


Qanyare Afrah chegou a fazer parte da aliança entre chefes de diferentes clãs, mais conhecidos como “senhores da guerra”, que contou com ajuda financeira americana para lutar contra o movimento islâmico. Abdi Nure Siad, outro líder do clã que controlava o leste de Mogadíscio, também retornou hoje à capital, confirmaram vários moradores.


 


“Roubaram e castigaram todo mundo. Não podemos dizer que os que trazem de volta os 'senhores da guerra' sejam nossos congêneres; são nossos inimigos”, comentou Halimo Ado Kasim, de 45 anos.


 


“Minha mãe começou a chorar, quando ouviu dizer que os chefes da guerra estavam de volta, e todos em casa estão de luto. Todas as esperanças acabaram”, admitiu Muse Ali Mohamed, um comerciante de Mogadíscio.


 


“Nunca pensei que voltariam para Mogadíscio e, hoje, alguns deles retornaram para a capital. O governo e os etíopes que os apóiam pretendem chupar o sangue dos somalis na capital”, denunciou o xeque Jama Bashir Rage, um líder religioso da capital.


 


Na capital da Somália, país do Chifre da África devastado por uma guerra civil desde 1991, os “senhores da guerra” rivais disseminaram o terror durante anos.


 


Manifestações populares
Ao final de dez dias de combates na Somália, a população de Mogadíscio saiu às ruas para festejar a retirada das milícias islamistas. Um dia depois das forças governamentais assistidas pelo exército etíope terem ocupado a capital, o primeiro-ministro fez a sua entrada triunfal na cidade para anunciar a derrota dos islamistas.


 


Para Ali Mohamed Gedi trata-se, “de uma vitória contra o terrorismo que garante a segurança dos países vizinhos”. A presença no país de 15 mil soldados etíopes, aliados de Washington, provoca agora a ira da população somali que se manifestou nas ruas.


 


As milícias do Conselho dos tribunais islâmicos se encontrarão limitadas ao bastião de Kismayo, 500 km a sul da capital, local onde prometem prosseguir uma luta de guerrilha. A operação-relâmpago levada a cabo pelas forças governamentais e exército etíope provocaram milhares de mortos.


 


Desde junho, o Conselho dos Tribunais islâmicos controlava o sul do país, onde tinha imposto a Sharia, a lei islâmica. A ofensiva das forças governamentais é vista como uma forma de pôr termo a 16 anos de instabilidade política. Alguns analistas temem, no entanto, que a Somália se torne num novo campo de batalha de Washington contra o terrorismo.