Pobres da Índia se voltam para escolas particulares

A crise no sistema educacional indiano está levando as famílias pobres a tirarem as crianças das escolas públicas gratuitas e matriculá-las no ensino privado em uma taxa sem precedente, segundo um estudo independente divulgado na última sexta-feira.

O surgimento em aldeias e favelas de escolas particulares, que cobram entre US$ 1 e US$ 3 por mês de famílias quase carentes para ensino primário básico, é amplamente visto como uma condenação da capacidade do Estado de fornecer um serviço público tradicionalmente fundamental.


 


A mudança para o setor privado, onde os professores são mais responsáveis, tem sido dramática. Oito Estados agora contam com mais de 30% das crianças em escolas particulares e outros 10 Estados com entre 15 e 30% no ensino privado.


 


A Pratham, a organização não-governamental que produziu o Relatório Anual do Estado do Ensino (Aser) de 2006, disse que os resultados devem levar a um profundo questionamento sobre se a Índia pode esperar um “dividendo demográfico” da uma força de trabalho mal instruída.


 


Apesar da matrícula no ensino primário ser alta, com 95% das crianças entre 7 e 10 anos e 91% das entre 11 e 14 anos na escola, a proporção das capazes de ler uma passagem de texto simples ou realizar aritmética primária é significativamente menor.


 


Os números para a Índia como um todo, que mascaram as grandes variações entre Estados, mostram que apenas 53% das crianças com 11 anos foram capazes de ler um parágrafo de texto simples e apenas 45% foram capazes de dividir um número de três dígitos por um de um único dígito.


 


O Aser registrou uma grande mudança em relação ao ensino privado em 2006, com cinco Estados registrando um aumento de mais de cinco pontos percentuais na proporção de crianças recebendo ensino privado.


 


“Nos últimos anos, há muita discussão sobre o perfil etário da população indiana, com grande foco em sua juventude”, disse Madhav Chavan, diretor de programas da Pratham.


 


“Mas apesar desta proporção significativa de jovens representar um mercado emergente para as empresas, é assustador pensar em muitos deles chegarem à maturidade sem adquirir capacidade básica de ler e escrever e fazer contas.”


 


A ausência de professores é imensa nas escolas públicas. Um estudo de 2004 por Michael Kremer, da Universidade de Harvard, revelou que 25% dos professores estavam ausentes da escola durante visitas não anunciadas dos pesquisadores, e que apenas metade estava dando aulas.


 


Os índices de falta variavam de 15% em Maharashtra a 42% em Jharkhand, com os índices mais altos concentrados nos Estados mais pobres. A Pratham revelou que significativamente mais meninos que meninas são tirados do ensino público e transferidos para o ensino privado.


 


Montek Singh Ahluwalia, vice-presidente da Comissão de Planejamento da Índia, que divulgou o estudo, disse que ele será “um dado muito importante na elaboração de política” às vésperas do próximo plano de cinco anos do governo.


 


O relatório alimentará as preocupações com uma crescente escassez de capacitação na Índia, em um momento em que recrutadores no setor de tecnologia da informação e vários outros setores estão descobrindo que o número de novos formandos é um dado enganador de talento utilizável.


 


A NIIT, a maior empresa privado do país em ensino de tecnologia da informação (TI), disse nesta semana que realizará um teste de aptidão nacional para TI em 130 cidades, em 21 de janeiro, que dará a empregadores potenciais uma lista de “profissionais promissores em TI”.


 


O relatório, o segundo após um estudo semelhante realizado pela Pratham em 2005, se baseou em testes ministrados a 758 mil crianças e 313 mil mães em mais de 15 mil aldeias entre outubro e novembro de 2006.


 


Fonte: Financial Times
Tradução: George El Khouri Andolfato  / UOL Mídia Global