Franklin Martins: Divisão no PSDB vai muito além da Câmara

A forte reação de Fernando Henrique, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio à decisão da bancada do PSDB na Câmara de apoiar o petista Arlindo Chinaglia pode levar os caciques do partido favoráveis a esse apoio – entre outros, José Serra e Aécio Neves – a ace

É possível, por exemplo, que a Executiva do partido, que se reúne esta semana, opte por tomar distância da posição da maioria dos deputados, mas sem atropelá-la, impondo-lhe uma decisão contrária à sua vontade. Cada lado manteria a pose e seguiria em frente. É possível também que o compromisso se dê em torno da convocação de uma reunião formal da bancada na Câmara, que ratificaria ou retificaria a posição aferida na consulta feita pelo líder Jutahy Magalhães. Até lá, o PSDB ficaria no limbo – ou no muro, se preferirem. 



Outras fórmulas estão em discussão, mas nenhuma delas conseguirá esconder o fato de que se abriu uma forte divisão interna no PSDB, que vai muito além da questão da composição da Mesa da Câmara. No fundo, o que está em jogo é o tipo de oposição que os tucanos querem fazer ao presidente Lula ou, dito de outra forma, o tipo de governo que os tucanos pretendem oferecer ao país, como alternativa ao atual. 


A expressiva vitória de Lula nas últimas eleições, mantendo intacto seu capital político e eleitoral depois de um ano e meio de ataques furiosos, colocou a oposição diante do seguinte dilema: prosseguir na tática do choque frontal, apostando no tudo ou nada, ou trabalhar para uma distensão da situação política, que, no médio prazo, produza uma nova reagrupação das forças políticas? Até agora, ela não tem uma resposta clara para essa dúvida. 



O PFL já se decidiu. Vai manter-se na oposição extrema, o que faz sentido para um partido que saiu muito enfraquecido das eleições e não tem perspectiva de poder a curto prazo. Mas o PSDB, que controla os governos dos dois estados mais importantes do país e têm dois nomes em condições de disputar a presidência da República em 2010, José Serra e Aécio Neves, não pode se dar ao luxo de apostar todas as suas fichas no quanto pior, melhor. Precisa estender pontes em relação a parcelas importantes do eleitorado que votou em Lula, para atraí-lo aos poucos. Daí a necessidade de distensionar o ambiente. 



O problema é que uma boa parte do PSDB continua presa ao passado, ou melhor, continua tendo como sua principal referência política o eleitorado que votou em Alckmin. Assim, enquanto Aécio e Serra estão preocupados em meter uma cunha entre os 61% dos eleitores do país que estiveram com Lula, Fernando Henrique, Alckmin e Tasso, conservadoramente, parecem estar apenas querendo manter agrupados os outros 39%. 



Pode ser que Aécio e Serra batam com a cara na parede hoje, mas se o PSDB escolher o caminho proposto por Fernando Henrique e Tasso dificilmente deixará de dar com os burros n'água em 2010.