Renato, do PCdoB, prevê 2º turno apertado entre Aldo e Chinaglia

Para o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, “a disputa pela presidência da Câmara acabou sendo uma síntese do quadro político atual. É como uma espécie de radiografia, da realidade política e do seu curso”, sublinha, vendo no “curso” as perspectivas de 201

“Eu tenho a noção de que no ano passado houve um tipo de acordo tácito entre as forças de esquerda que apoiaram Lula (e que o PT, até numa reunião recente da sua direção nacional, chama de núcleo de esquerda): qual era ela? Era a reeleição de Lula, para a Presidência da República, de Renan (Calheiros, do PMDB-AL) para presidente do Senado e de Aldo (Rebelo, do PCdoB-SP) para a Câmara. Foi um acordo tácito, porque não foi uma coisa formalizada, mas foi. Agora, porém, o que vemos? Tudo foi cumprido… menos a reeleição do Aldo!”, historia o dirigente comunista, com um sorriso de ironia.



Os motivos do PT



Ele lembra também que “o PT lançou o Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara de forma unilateral: não consultou ninguém, nem o PCdoB, nem o PSB, que tem levantado muito isso. Ao agir assim, o PT sabe que um candidato assim colocado iria se chocar com Aldo”, comenta.



“Mais ainda porque, de início, a candidatura Aldo teve o aval e foi estimulada pelo presidente da República. Houve um momento em que Aldo nem queria concorrer outra vez, a quinta, para deputado federal, e foi Lula que chegou a fazer um apelo, para que ele concorresse, por isso”, agrega Renato.



“O PT sabia disso tudo. E se contrapôs. Por quê? Porque o PT, depois de tudo que ele passou em 2005 e 2006, vem num trabalho quase que de autodefesa, tentando o que ele vê como a manutenção e consolidação de sua hegemonia. E concluiu que a presidência da Câmara seria fundamental para demonstrar, sobretudo para o presidente Lula, que ele é um partido imprescindível”, afirma, enfatizando o “sobretudo para o presidente”.



“Assim o PT se uniu em torno da candidatura Arlindo. E fez de tudo para consagrá-la, recorrendo inclusive aos chamados métodos não ortodoxos. Essa série de partidos que têm dado apoio a ele, isso foram apoios obtidos com aceno de permutas. Gente da mídia, e das outras candidaturas, têm sentido aí uma participação muito grande de setores do governo federal; não do Lula, mas de setores petistas. O PT foi com muita sede nesta questão. E haveria um choque inevitável”, conclui Renato Rabelo.



Aldo, “o candidato ideal”



“Aldo, para mim, seria o candidato ideal para presidir a Câmara dos Deputados. Ele reúne apoios na base do governo e na oposição. Tem respeito, tem crédito, tem pontes construídas dos dois lados, em uma Casa que tem uma minoria expressiva. Se o presidente (da Câmara) não tiver pelo menos crédito nessa área, vai encontrar muita dificuldade.



“Agora, pelo nível da disputa, a candidatura já não depende de Aldo. E nunca foi uma candidatura lançada pelo PCdoB, que tem 13 deputados e não possui sequer o direito de ter ninguém na mesa. O PCdoB apóia, por completo, mas não tomou a iniciativa”, comenta.



Qual a sua opinião sobre a “terceira via”?



“Surge agora a terceira candidatura, do deputado Gustavo Fruet. Ela foi uma forma de salvar a pele do PSDB. É por estas e outras que eu insisto que o episódio todo é uma radiografia do momento político. O PSDB é um partido que ainda não sabe que rumo tomar — apesar dos esforços do seu condutor-mór, o Fernando Henrique. É um partido com dois candidatos para 2010, dividido, portanto, e que acaba ficando à mercê dessa ou daquela liderança”, avalia Renato.



“O PSDB se dividiu em relação aos dois candidatos postos, Aldo e Arlindo: a verdade é que, em vez deles aproveitarem a divisão na base governista, se dividiram em função dela. Por isso a terceira candidatura surge para eles como uma tábua de salvação, de unificação. E qual é a consequência da terceira candidatura? É que provavelmente terá segundo turno. Isso, na projeção atual, favorece a candidatura de Aldo”, registra Renato.



O episódio muda a relação PCdoB-PT?



“Sim. Esse afã do PT, que não leva em conta nem os métodos mínimos da educação política, acaba gerando uma desconfiança”, admite o dirigente do PCdoB.



“Nós vínhamos avançando, no sentido que se conhece, na construção de uma coalizão, com base em um programa. Lutamos, inclusive, para que o PMDB participasse. Mas essa posição unilateral do PT criou uma desconfiança numa relação até então promissora. Apoiar o nome de Aldo sinalizaria uma correlação de forças mais equilibrada entre os partidos da base, não só o PCdoB. A conduta escolhida pelo PT volta, ao contrário, para a centralização”, avalia.



“Nós achamos que temos objetivos comuns com o PT, até de sentido estratégico. Mas do ponto de vista tático, isso acaba afastando o PT do PCdoB, assim como do PSB. Pelo menos, abala essa relação, pos leva PCdoB e PSB a tirarem consequências. Aí, o que vale não é o que as pessoas falam, mas a prática, as atitudes. Aquela idéia de núcleo de esquerda vai ficando… prejudicada.”



Fim da “aliança automática”



“Houve tentativas do PT visando levar Aldo a retirar a candidatura em nome de que o PCdoB sempre teve uma atitude de “grandeza” (a palavra é textual), uma atitude “generosa”. O PCdoB respondeu que a candidatura Aldo adquirira uma dimensão própria, chegara a um nível em que não podia retroceder”, diz ainda Renato. E agrega: “Pela lógica petista eles não esperavam isso da gente. Quer dizer que o PCdoB não vai mais ter uma aliança automática com o PT? Eles não esperavam”.



“Agora o PT tem que compreender que terá de levar em conta outras correntes, outras alternativas de esquerda, inclusive para 2010, quando Lula não será candidato. Alternativas que não sejam as do hegemonismo petista”.



Quais os prognósticos para 1º de fevereiro?



“O prognóstico mais provável é haver um segundo turno, entre Arlindo e Aldo. E quem ganhar ganhará por poucos votos”, prevê Renato Rabelo.



“O Fruet é difícil, só conta com os votos do PSDB e parte do PPS. Teria chance se o PFL virasse, mas o PFL não se atrelaria ao PSDB depois do que houve; viraria o voto para ganhar o quê?”, indaga.



“Claro que, numa eleição como esta, mesmo uma semana é muito tempo. Mas a tendência é esta. Uma novidade será esse debate (entre os três candidatos, a ser transmitido pela TV Câmara); pelo menos é algo que inova. E com ele, além dos deputados, também o povo acaba participando”, agrega.



O episódio deixará seqüelas?



“Isso tudo acaba obstaculizando o trabalho da coalizão. Qualquer resultado levará a saqüelas. A atitude abrupta do PT dificultará o trabalho, persistente e paciente, de construção da goalizão de governo”, diz o presidente do PCdoB.



“Nós achamos que o governo Lula tem que ter êxito para que uma alternativa de esquerda, de centro-esquerda, continue na condução do país, não para se esgotar após o segundo mandato. O PT só vê um petista em 2010, enquanto nós achamos que isto não está dado. Aliás, neste sentido apoiamos a declaração do Berzoini (Ricardo berzoini, presidente do PT, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo, na última segunda-feira, que o candidato em 2010 não necessariamente será um petista). Serão os próximos quatro anos que irão dizer”, afirma.



Qual tem sido a atitude do Tarso Genro?



“O Tarso (ministro das Relações Institucionais) tem tido uma boa relação com a gente. Mas foi ganho, e trabalhou pelo Arlindo, apesar de dizer que tinha uma posição institucional e sem predileções.



Como vê a possibilidade de uma retirada de Aldo a ser compensada, como se comenta, com um cargo para Aldo como o Ministério da Defesa. “O Ministério da Defesa já foi oferecido antes ao Aldo, e nós não aceitamos. Isso era uma tentativa de achar uma compensação. Ora, Aldo Rebelo, na fase atual, acha isso uma atitude até desprezível.”



E se Chinaglia vencer, o que será de Aldo?



“Saberemos depois. Continua deputado eleito. E, pelo papel dele, continua a ser uma liderança importante, aliás o mesmo pode ser dito do próprio Arlindo”, opina Renato.



“Aldo poderia ser ministro? Não; o nível em que o embate chegou fecha o caminho para ele participar do governo, pelo menos de forma imediata. O mesmo se pode dizer do cargo de líder do governo; não faria sentido”, adianta o dirigente do PCdoB.