Para Mantega, juro tem que cair; “Viu, Meirelles?”

A reunião do Copom nesta quarta-feira (24), cumprindo o ritual que deixa o país em suspense a cada 45 dias, confirmará a firmeza das disposições aceleradoras do crescimento econômico, manifestas hoje no lançamento do PAC. O mercado projeta um corte de 0,2

O destinatário da tirada de Mantega, Henrique Meirelles, é desde a posse do primeiro governo Lula o presidente do Banco Central (BC). A ele se subordina o Copom (Comitê de Política Monetária), encarregado de fixar a taxa de juros.



Uma espécie de autonomia branca



Nestes quatro anos Meirelles não conseguiu, como sempre confessou que gostaria, uma mudança no organograma federal que desse independência ao BC, ou sequer autonomia, como defendeu e defende o ex-ministro e hoje deputado Antonio Palocci (PT-SP). Mas obteve uma espécie de autonomia branca, na prática.



Daí a indagação: também o Copom quer acelerar o crescimeto? também ele tem compromisso com a meta de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 5% ao ano?



Ao longo do governo Lula, contrariando expectativas verbalizadas inclusive pelo presidente da República, o Copom primou pela ortodoxia e só levou em conta as metas, duras, fixadas para a inflação. Suas deliberações sobre a taxa de juros Selic têm sido recebidas com uma chuva de críticas, seja pelas entidades sindicais, seja pelas empresariais. É sabido que também o ministro Mantega, a despeito de sua disciplinada discrição, forma com aqueles que consideram a ortodoxia do BC como um dos principais obstáculos a um ritmo de crescimento menos medíocre.



Quarta-feira pode dar 0,25 mas também 0,5



Para quarta-feira que vem, é unânime a previsão de um novo corte na Selic, acompanhando uma tendência gradualista mais continuada. A maior parte dos exegetas do que pensa o “mercado” (na realidade funcionários de empresas de consultoria ligadas ao mundo financeiro) espera uma queda de 0,25 ponto. Mas há quem preveja 0,5.



O Secif-RJ (Sindicato das Financeiras do estado do Rio de Janeiro), por exemplo, previu na sexta-feira passada um corte de 0,5 ponto na taxa Selic. O presidente da entidade, José Arthur Assunção, disse porém que será uma “decisão difícil” para o Copom. “Apesar de a projeção da inflação para este ano ser um pouco maior que a do ano passado, ela continua abaixo do centro da meta e a projeção do PIB ainda é muito fraca. Por isso, acho que o BC não será tão ortodoxo e manterá o patamar de queda de taxa dos últimos meses.”



Na coletiva, ministro não abriu a guarda



Na exposição sobre o Programa de Aceleração, Mantega expôs os números da pesquisa Focus, com as expectativas do mercado financeiro para a taxa Selic.  Para este ano, a previsão é de juro básico a 12,2% anuais. Em 2008, a Selic média deve ficar em 11,4% e, em 2009, em 10,5%. Em 2010, o juro básico médio deve cair a 10,1% anuais.



Na coletiva de imprensa que se seguiu ao anúncio, os jornalistas quizeram saber mais sobre a brincadeira de Guido Mantega. O ministro não abriu a guarda. “A taxa de juros está caindo e continuará caindo porque as condições para isto estão dadas. Isto á é uma realidade”, argumentou.