Greve geral pára o Líbano para exigir eleições antecipadas
Depois de parar o Líbano durante esta terça-feira (23), a greve geral convocada pela oposição promete se extender. O objetivo é político: forçar a renúncia do governo pró-EUA do primeiro ministro Fuad Siniora, instalado em março do ano passado, e a convoc
Publicado 23/01/2007 19:21
O apelo de Siniora para que os libaneses comparecessem normalmente ao trabalho não funcionou. A grande maioria das empresas, lojas e escolas de Beirute permaneceu fechada durante o dia. Os partidários do governo colocavam em dúvida se a paralisação se deu por apoio à greve ou porque os transportes também não funcionaram, ou ainda por temerem violências.
Crise já se reflete nas tropas
O aeroporto internacional de Beirute permaneceu aberto mas sem funcionários nem passageiros, enquanto muitas empresas aéreas internacionais suspenderam seus vôos para o Líbano. Barricadas e piquetes cortaram a ligação entre ele e a cidade. As outras grandes cidades libanesas também foram paralisadas.
O governo Siniora enviou tropas no esforço para remover as barricadas. Milhares de policiais e soldados foram usados na ação repressiva. No entanto, a crise política já se reflete nas tropas, que não ousaram intervir na periferia sul de Beirute.
Neste bastião do apoio ao Hezbolá, o manifestante Djamil Wahb comentou para a agência Reuters que “este governo só compreende a força, e hoje demos a ele apenas uma pequena lição”, agregando que “Permaneceremos aqui até eles cederem”. A polícia noticiou três mortos e 46 feridos.
Uma longa ofensiva
A greve geral teve início no 52º dia de ofensiva oposicionista. O primeiro passo foi dado em novembro, quando seis ministros renunciaram às suas pastas, deflagrando nova crise política no país. A partir de então, o primeiro ministro e os membros do gabinete remanescentes acham-se praticamente sitiados no Palácio do Grande Serralho, sede do governo, cercados por soldados e barreiras de arame farpado.
A oposição não se reduz ao Hezbolá. Embora o “Partido de Deus”, muçulmano, seja o mais numeroso, formou-se no país uma coligação oposicionista que inclui também organização cristã do general Michel Aun, o Amal e o Partido Comunista, entre outras forças. A greve geral foi convocada também pelo movimento sindical.
“É uma revolução, é terrorismo”
“O que está acontecendo é uma revolução e uma tentativa de golpe de Estado, reagiu o chefe da direita cristã Samir Geagea. “É terrorismo direto, destinado a parar o país”, reclamou.
Geagea investiu também contra os militares libaneses. “Eles estão prestes a faltar com seu dever e colaborar com os manifestantes, em vez de abrir as vias de circulação e proteger os cidadãos que querem ir ao trabalho”, lamentou.
O ministro das Telecomunicações, Marwan Hamadé, bateu na mesma tecla mas acrescentou uma ameaça. “Se as forças de segurança continuam a não cumprir com seu dever, as pessoas descerão às ruas para abrir caminho por si mesmas”, declarou, agitando o espectro de uma nova guerra civil como a que ensanguentou o país três décadas atrás.
Siniora permaneceu em Beirute, quando estava marcada para terça-feira sua viagem para a França, onde deve participar da Conferência Paris 3. A greve foi marcada para coincidir com a conferência porque a oposição enxerga nela um gesto de cedência face às potências ocidentais, em troca de créditos para enfrentar os prejuízos causados pela invasão militar israelense de julho-agosto de 2006.
Da redação, com agências