Luís Nassif: O que falta para crescer

Há um exercício fútil de criticar o PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) pelo que ele não faz. O programa se propõe a priorizar um conjunto de obras de infra-estrutura, e criar alguns estímulos ao investimento privado. Obviamente a análise tem que

O PAC pode representar um avanço sobre a forma atual de ordenar os investimentos públicos, definindo prioridades, colocando-as a salvo do contingenciamento orçamentário, e criando grupos de acompanhamento para identificar e resolver problemas antes que aconteçam.



Do ponto de vista macroeconômico, a grande questão é: será suficiente para permitir a volta do crescimento? A resposta é: não. E aí se entram nas críticas fundamentadas ao Plano. Ele depende do crescimento para dar certo. Se não cresce o país, não cresce a arrecadação, a despesa não cai, e não haverá recursos sequer para cumprir o prometido.



Mais: os investimentos ajudarão a resolver alguns gargalos de infra-estrutura. Ocorre que o mero anúncio do PAC não será suficiente para provocar o crescimento do investimento privado, a não ser nos setores diretamente beneficiados.



É aí que entra o grande impasse do governo Lula, que alertei em outras colunas. O único “choque” capaz de estimular o crescimento na urgência necessária para o PAC ser bem sucedido, seria mudando as políticas de juros e câmbio.



Não é necessário ir muito longe. Em 2004, depois do choque cambial de 2002, com o câmbio ainda favorável, teve início um processo de revigoramento da economia, facilmente perceptível. Pequenas empresas manufatureiras começaram a exportar pela primeira vez; o agro negócio explodiu; setores de máquinas e equipamentos, calçados e têxteis tiraram seus planos da gaveta e começaram a se preparar para o espetáculo do crescimento.



Esse movimento foi abortado pela irresponsabilidade do Banco Central, de impor uma taxa de juros muito mais alta que a necessária para segurar a inflação e permitindo uma apreciação irresponsável do câmbio.



Mas, naquela curta brecha em que o Sr. Crise se impôs e o país deixou de seguir a ortodoxia burra do BC, foi possível vislumbrar o potencial da economia brasileira.



Como recriar esse ambiente? É aí que mora o perigo.



A economia brasileira está sendo puxada pelo consumo. Com o câmbio desequilibrado, todo o dinamismo está sendo transferido para o exterior, na forma de exportação de capitais, exportação de produção e aumento das importações. A remessa de recursos é ampla e generalizada, de empresas brasileiras preferindo aplicar no exterior, as multinacionais em debandada. Com o dólar lá embaixo, e sem perspectivas de desenvolvimento sustentado, as multi desistiram de investir aqui.



Podem ocorrer investimentos pontuais. No conjunto, haverá muito poucos investimentos. O PAC pode melhorar a ponta do investimento; mas o Banco Central compromete a ponta do consumo. Sem consumo, não se investe.



E sem crescimento ficará muito mais difícil cumprir metas fiscais, reduzir tributação, avançar na legislação trabalhista, propor reformas decentes para a Previdência.