Itamaraty retira lista de livros após “patrulha ideológica às avessas”

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta quinta-feira (8) que vai acabar com a lista de cinco livros de leitura obrigatória para diplomatas brasileiros. A lista, classificada de “lavagem cerebral” pelo antecessor de Amorim, Celso La

“Estão fazendo muito barulho por nada”, disse Amorim, usando o título de uma comédia de Willam Shakespeare. “São cinco livros e qualquer um passaria em qualquer escola superior de guerra até da época da ditadura”, agregou. E negou que se trate de obras esquerdistas.



“Detentores exclusivos do poder”



A polêmica foi lançada no últomo fim de semana pelo ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur. Em entrevista à revista Veja, ele começou por reclamar dos cinco livros e terminou acusando a diplomacia brasileira de “um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado”.



Celso Amorim, um diplomata sem papas na língua, contra-atacou: “O que existe hoje é uma patrulha ideológica às avessas. Como a política externa é avançada e tem aberto novos horizontes, isso incomoda pessoas que eram detentoras exclusivas do poder, inclusive do poder intelectual”, disse o chanceler.



Segundo Amorim, não há nada de ideológico ou de “lavagem cerebral” nos livros – de autores que vão do embaixador Álvaro Lins ao economista coreano Ha-Joo Chang. “Não vejo nada disso. Álvaro Lins foi embaixador de Juscelino Kubitschek e isso não tem nada de ideológico”, afirmou.



Nem se fosse o Evangelho



A extinção da exigência tem como único objetivo retirar de cena um argumento dos críticos da política externa, explicou o chanceler. “Eles estão usando isso como pretexto”, avaliou. Para Amorim, contudo, o que lhe provoca indignação é a acusação de que as promoções no Itamaraty obedecem a critérios ideológicos. “É uma ofensa grave, porque não é verdadeira”, afirmou. “Acho que é muito difícil provar que não é, mas basta olhar a biografia dos que estão sendo promovidos agora. Isso é leviano.”



Amorim contou que chegou a alertar o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, de que qualquer livro que fosse obrigatório acabaria provocando especulações. “Comentei com ele que se pusesse o Evangelho Segundo São Mateus, a Constituição e Oração aos Moços, de Ruy Barbosa, iriam dizer que era doutrinação. Vão dizer que aparece no evangelho que os homens são iguais entre si, enfim, tudo será usado pela patrulha ideológica”, sustentou.



Por fim, Amorim relembrou que nomeou Abdenur para ser embaixador em Washington, mas preferiu não rebater as críticas diretamente. “Abdenur pode fazer o que quiser porque está aposentado”, alfinetou.
Com informações da Agência Estado



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