Os EUA abriram uma “Operação Condor” no Oriente Médio?

“Estaria o regime Bush pagando esquadrões da morte para assassinar manifestantes no Líbano? Pelo menos 6 libaneses morreram em janeiro durante ataques de quadrilhas direitistas contra estudantes na Universidade Árabe de Beirute e contra trabalhadores em g

“É essa a resposta de Washington ao movimento de massas popular e democrático que mobilizou milhões de libaneses contra o regime do primeiro-ministro Fouad Siniora, apoiado pelos EUA?


 


Em 10 de janeiro o jornal britânico British Daily Telegraph revelou que a CIA foi “autorizada para levar adiante um plano secreto contra o Hezbolá, como parte de um plano confidencial de Bush para ajudar o governo libanês”. As “evidências” de Bush “fazem a CIA e outras agências de inteligência americanas a financiar grupos contra o Hezbolá no Líbano e a financiar ativistas que apoiam o governo de Siniora”.


 


O jornal informa que o plano foi formulado em Washington antes do Natal, após negociações entre o conselheiro chefe da Segurança Nacional, Elliot Abrams e o príncipe da Arábia Saudita Bandar Ibn Sultan. Isso aconteceu depois que dois milhões de pessoas — quase a metade da população do Líbano — fizeram um protesto, em Beirute, no dia 10 de dezembro de 2007 para exigir mais direitos para os partidos opositores ao governo.


 


Abrams foi assistente do Secretário de Estado para assuntos interamericanos durante a administração Reagan, nos anos oitenta, quando esquadrões da morte treinados pelos Estados Unidos assassinaram milhares de pessoas em El Salvador, Honduras e Guatemala. Abramas também colocou o financiamento saudita à disposição de operações terroristas dos Contras na Nicarágua, após Emenda Boland cortar a “ajuda” direta dos EUA aos contras.


 


“Democracia” ou governo secreto?


 


“Detalhes da existência do plano para o Líbano são conhecidos somente por um pequeno círculo de oficiais da Casa Branca, oficiais de inteligência e membros do Congresso”, afirmou o Telegraph. De acordo com a democracia nos Estados Unidos, “o fato de que os resultados sejam secretos significa que o envolvimento dos EUA nessas atividades possa ser negado oficialmente”.


 


Em dezembro o diário canadense Toronto Globe and Mail informou que os EUA estavam secretamente reforçando as Forças Internas de Segurança (FIS) do Líbano, uma força paramilitar controlada diretamente por Siniora. As armas adquiridas na Europa Oriental estavam sendo enviadas para o Líbano via Emirados Árabes Unidos. O Pentágono também está enviando material diretamente às FIS.


 


Em seu discurso sobre o Estado da União, proferido em 23 de janeiro, Bush acusou aos “terroristas do Hezbolá, que estão apoiados por Irã e Síria” de “buscar uma maneira de solapar o governo legitimamente eleito do Líbano”. Bush não é mais honesto em relação ao Líbano que o que foi em relação ao Iraque.


 


Hezbolá frustrou invasão israelense


 



O Hezbolá não é uma organização terrorista. É um partido político que goza de amplo apoio, não somente dos xiitas — o grupo mais numeroso e mais pobre do Líbano — mas também de milhares de cristãos, drusos e sunitas. Teve o papel de líder da luta pela libertação do país contra a brutal ocupação israelense, financiada pelos Estados Unidos e que foi finalmente expulsa do país pela resistência capitaneada pelo Hezbolá em 2000.


 


Em julho de 2006, forças lideradas pelo Hezbolá repeliram a tentativa de Israel, e dos EUA, de reconquistar o sul do Líbano. Mais de 1.000 civis libaneses — mulheres, crianças e homens — foram mortos e milhares de outros foram mutilados por munições fabricadas nos EUA utilizadas por Israel na ultima agressão em agosto de 2006.


 


Crianças libanesas continuam morrendo ou sendo mutiladas pelas 1,400 bombas de fragmentação abandonadas propositalmente no solo do sul do Líbano pelo derrotado exército isralenese. Em 29 de janeiro, o regime Bush admitiu ao Congresso que o uso por Israel dessas bombas de fragmentação “pode ter violado as regras dos EUA”. No mesmo dia, o periódico Jerusalem Post informou que Israel planeja comprar milhares de “bombas inteligentes” — Munição de Ataque Conjunto Direto — da corporação americana Boeing.


 


No discurso de 7 de dezembro, o Secretário-geral do Hezbolá, Saíd Hassan Nasrallah, mostrou provas que autoridades do governo de Siniora teriam solicitado aos EUA que dessem permissão a Israel para que houvesse a agressão ao sul do Líbano, onde a maioria esmagadora da população apóia a oposição. Em um episódio escandaloso, a FIS libanesa serviu chá às tropas invasoras israelenses.


 


O trabalho do Hezbolá não é somente militar. Constrói hospitais, clínicas, escolas e bibliotecas e proporciona serviços sociais para os setores mais carentes e oprimidos do Líbano. Proporcionou fundos de assistência a milhares de lares libaneses que foram destruídos por bombas e mísseis israelenses.


 


Hoje o Hezbolá está aliado a organizações majoritariamente cristãs, como os partidos Movimento Cristão Livre Patriota e o Marada, com o Partido Democrata, baseado na comunidade drusa e o Movimento para a Unidade. além de forças de esquerda como o Movimento do Povo, o Movimento Popular Nasserista, o Partido Democrático Popular e o Partido Comunista Libanês. Juntos, formam um amplo movimento que demanda reforma política e eleições democráticas imediatas.


 


Esse movimento uniu os libaneses, cortando as linhas sectárias em uma campanha de protesto que lembra o movimento a favor dos direitos civis nos EUA.


 


As classes dominantes dos EUA, Reino Unido e França, por outro lado, se uniram às monarquias absolutistas da Jordânia, Arábia Saudita e do Golfo, ao presidente-vitalício do Egito Hosny Mubarak e ao regime de apartheid vigente em Tel Aviv, com o intuito de esmagar esse movimento.


 


Em um discurso proferido no Instituto Herzliya de Israel em 22 de janeiro o aspirante a candidato presidencial pelo Partido Democrata dos EUA, John Edwards, fez eco às ameaças bélicas de Bush contra o Hezbolá, Síria e Irã.


 


Greve geral contra Siniora


 


No mesmo dia que Bush apresentava seu discurso sobre o estado da união, a maioria da força trabalhadora do Líbano protestava em um greve geral, apoiada pela oposição, que paralisou o país. Estavam protestando contra o plano de Siniora, patrocinado por Wall Street, para privatizar o serviço de saúde, eletricidade e telecomunicações, para impor um elevado imposto ao comércio e acabar com subsídios para o combustível.


 


Pistoleiros da organização fascista Forças Libanesas, de Samir Geagea, o Movimento Futuro, do bilionário especulador Saad Hariri e o erroneamente denominado Partido Socialista Progressista de Walid Jumblatt, abriram fogo contra grevistas que bloqueavam as vias em Beirute, em el-Shouf e no norte do Líbano. Morreram três pessoas e centenas resultaram feridas, mas a greve não se rompeu. Em uma coletiva de imprensa, o líder do Movimento Patriótico Livre, Michel Aoun, mostrou fotos de pistoleiros mascarados atacando grevistas no norte do Líbano.


 


Em 25 de janeiro, uma conferência de “doadores internacionais” convocada em Paris sob patrocínio americano e francês, arrecadou US$ 7 bilhões para o endividade regime de Siniora. No mesmo dia, quadrilhas de apoiadores de Siniora invadiram o campus da Universidade Árabe de beirute e assassinaram dois estudantes. Um xiita que passava em uma bicicleta também foi morto a balas pelos terroristas pagos pelo PSP de Jumblatt.


 


Partidários da oposição correram ao campus e para aprisionar os terroristas, antes que o exército interviesse para abrir as ruas. A emissora de TV al-Manar, proibida de ser exibida nos EUA pelo regime Bush, mostrou imagens de francoatiradores nos tetos das edificações ao redor da manifestação disparando contra os manifestantes.


 


O que está em jogo no Líbano vai mais além do desejo de Washington de apoiar um regime amigo de banqueiros em um país com uma dívida de US$ 45 bilhões. Para a Casa Branca e o Pentágono, o Líbano é um instrumento em seus planos para um guerra mais ampla na região.


 


O regime Bush espera que a nova lei de hidrocarbonetos do Iraque, escrita por empresas americanas, dê às corporações de petróleo o controle sobre as enormes reservas de petróleo do país. Se os EUA bombardearem as jazidas petrolíferas do Irã, o valor do petróleo do Iraque certamente dobrará. Mas para fazer com que esse petróleo chege ao mercado ocidental, é necessário reativar o velho oleoduto que passa pela Síria e Líbano antes de chegar ao Mediterrâneo.


 


É improvável que a Resistência iraquiana permita às corporações estadunidenses transportar petróleo pelo porto sulista de Basra. Para saquear o Iraque, as petroleiras necessitam impor regimes submissos na Síria e no Líbano. Como mostra o movimento popular que surgiu no Líbano, não é muito provável que isso aconteça.


 


Em um discurso no dia 30 de janeiro, para milhares de muçulmanos reunidos no sul de Beirute em comemoração ao festival xiita da Ashura, Nasrallah advertiu que o objetivo dos EUA é incitar uma guerra civil sectária no Líbano, na Palestina e no Iraque.


 


“George Bush quer castigá-los porque triunfaram e, na ótica estadunidense, não está permitido levantar a cabeça”, concluindo que “somos um povo que rechaça a humilhação e a desgraça. O Líbano foi e será sempre o panteão dos invasores”.