Mídia e UDR tentam colocar CUT contra MST
Por Carla Santos
A ocupações comandadas pelo MST no interior do Estado de São Paulo, durante o carnaval, estão icomodando a mídia e a União Democrática Ruralista (UDR). Hoje (22) inúmeras matérias publicas procuram dizer que
Publicado 22/02/2007 20:39
Aquidauana, cidade que dá nome ao site Aquidauananews, está localizada no estado do Mato Grosso Sul, à 138 quilômetros de Campo Grande e à 598 quilômetros de Presidente Prudente, cidade paulista onde ocorre uma das ocupações. A cidade na região da Serra de Piraputanga tem 46 mil habitantes, sendo 30% rural, e está entre as dez que mais produzem rebanho bovino e ovino do Brasil. Pelo visto, fazendeiros por lá é que não faltam. Talvez por esse motivo é tão importante criar confusão e dividir o movimento conjunto de ocupações da CUT e do MST.
Na matéria do Aquidauananews , assim como matérias publicadas em inúmeros outros veículos de comunicação da região, o “racha” na CUT se deu em função da declaração da coordenadora regional da CUT de Presidente Prudente, Sonia Auxiliadora. Sônia teria dito que a entidade não se responsabilizaria juridicamente pelas ações dos sindicatos que apoiaram a mobilização do MST, que coordena ocupações de um total de 13 fazendas no Pontal do Paranapanema e na Alta Paulista. Como no mesmo dia a diretoria-executiva nacional da central divulgou nota que apóia as ocupações realizadas ''por considerar justa a luta pela reforma agrária no Brasil'', o site avaliou um racha na CUT com relação a sua participação nas ocupações.
Tempestade em copo d´àgua parece fácil, mas não é
O fato de a CUT não responder juridicamente pelas ocupações não quer dizer que a mesma não as apóie. Como a própria coordenadora de Presidente Prudente disse em matérias publicadaa ''a CUT é a favor da reforma agrária, mas não participa de ocupações''. O que é óbvio quando pensamos que a CUT reúne trabalhadores do campo e da cidade. Enquanto trabalhadores do campo podem vir a participar ao lado do MST das ocupações, os trabalhadores da cidade podem apoiar a ocupação, sem que necessariamente saiam da cidade para enfileirarem-se ao lado de seus companheiros do campo.
Tanto é assim, que os sindicatos de trabalhadores rurais filiados à central sindical se juntaram ao grupo do MST, liderado por José Rainha Junior, entre domingo e segunda-feira da semana passada, independente das demais categorias que continuaram seus trabalhos nas cidades. Segundo declaração do presidente da seção paulista da CUT, Edilson de Paula, “a CUT não autoriza ocupações, mas nós apoiamos e respeitamos a decisão dos sindicatos porque temos uma relação histórica com os movimentos sociais, inclusive com o MST''.
Tentando colocar a declaração de Edilson como mais um forte argumento a favor do suposto “racha” o Aquidauananews, assim com a Folha da Região, demonstrou ser completamente indiferente a história dos dois movimentos. Basta conhecer um pouco mais da natureza da CUT e do MST para entender que não cabe à CUT autorizar ou desautorizar qualquer ocupação.
Como o próprio Edilson disse na matéria, ''não existe orientação da direção para ocupações e nem fizemos reunião para deliberar sobre isso. Foi uma decisão regional, não vamos condenar. A CUT sempre respeitou a autonomia dos sindicatos, não interfere em suas decisões.''
''As ocupações são justas porque em São Paulo, principalmente nessa região, a reforma agrária não avança. Embora saiba das reivindicações o Estado não toma medidas para fazer os assentamentos. É uma situação delicada e a CUT discute exaustivamente antes de tomar decisão que envolva ocupação'', disse Edilson ainda na matéria.
Fica claro no próprio texto expresso pelo site que não é porque a CUT não deliberou enquanto entidade nacional sobre a participação nas ocupações que os sindicatos de trabalhadores rurais não podem delas participar. Mais ainda, as declarações das lideranças sindicais, diferente do que quer fazer parecer a matéria publicada, apóiam as ocupações e entendem como justa a participação de seus sindicatos filiados nas mesmas.
Trabalhadores rurais seguem juntos ao MST
Como disse, ao Aquidauananews, o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais Assalariados de Presidente Prudente e Região, Rubens Germano, ''nossa luta vai continuar unificada com o MST de José Rainha e, como membro da direção estadual da CUT, asseguro que o sindicato tem autonomia para agir”.
O site ainda entrevistou o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) da região de Andradina que deixaram ontem a Fazenda Cachoeira, em Itapura, próximo à fronteira com Mato Grosso do Sul. Embora o presidente do sindicato, José Carlos Bossolan, tenha dito que manterá a pauta de ocupações na região, o site permaneceu insistindo num suposto racha.
Tanto alarde não foi para menos já que a União Democrática Ruralista (UDR) quer responsabilizar a CUT pelas invasões uma vez que, diferente do MST, a CUT é constituída juridicamente. Pode-se imaginar se no final das contas o que a matéria realmente desejava não era falar exatamente de um “racha”, mas insuflar a CUT para que em nota oficial declarasse responsabilidade pelas ocupações, o que em muito facilitaria a vida da UDR.
A pergunta é: para que nota se a criminalização dos movimentos sociais, em especial das lideranças do MST, nunca precisou de instrumentos legais para acontecer? Vide o caso dos presos políticos Marcelo Buzetto e “Magrão”, lideranças do MST, presos desde janeiro deste ano. A mídia anti-povo prega armadilhas, mas o povo tem andado esperto e pregado armadilhas na mídia. Uma pena que os resultados das eleições de 2006 não tenham sido suficientes para que alguns veículos de comunicação perceberam que o brasileiro anda mais esperto sobre o que lê, o que vê e o que sabe.