Pentágono cria comando militar unificado na África

Governo dos Estados Unidos pretende aumentar presença no continente africano que, segundo estimativas, será responsável pelo suprimento de 25% do petróleo consumido nos EUA em 2015.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aprovou um plano do Pentágono para criar um novo comando para as operações militares no continente africano, anunciou o secretário de Defesa, Robert Gates. “O presidente decidiu criar um novo 'comando combatente unificado' que supervisione a segurança, a cooperação e o apoio às missões que não sejam exclusivamente militares, assim como, caso necessário, operações militares no continente”, assegurou Gates, na Comissão de Serviços Armados do Senado.



Hoje, a ação dos Estados Unidos na região se dá por três diferentes comandos: o Europeu, o do Pacífico e o Central. Especificamente este último responde pelas operações no Oriente Médio, Ásia Central e o Chifre da África. Bush declarou que pretende montar o unificado Comando África até setembro de 2008 – o que dialoga com o seu pleito de aumentar o orçamento militar.



Mas o que há por trás desta nova investida militar da potência imperialista que hoje permanece encurralado com suas tropas no Iraque e Afeganistão?


Em fevereiro do ano passado, um informe do Pentágono afirmava que os EUA se preparavam para atuar em 'guerras convencionais simultâneas', e em conflitos irregulares e prolongados como no Iraque. O discurso feito por Gates no Senado faz parte desse projeto bélico de conquista de recursos petroleiros, disfarçado de 'guerra contra o terrorismo', depois do 11 de setembro.



Investida sobre a África



A “reestruturação” das linhas de comando e das forças do Pentágono, reiniciada por Rumsfeld e continuada por Gates, esconde uma nova cruzada por conquista de recursos e mercados energéticos, o elemento vital da sobrevivência, junto a elementos como a água e a biodiversidade.



O interesse de Washington na África se deve à crescente importância estratégica do continente em matéria de riquezas energéticas e ao interesse das petroleiras estadounidenses.  A escalada militar no Oriente Médio e o Golfo Pérsico e a “guerra fria” pela energia entre Rússia e EUA levam às transnacionais a voltar suas atenções às reservas do continente africano que têm aumentado notavelmente em seus níveis de produção e exportação.



A África  mais do que duplicou as suas reservas de petróleo entre 1980 e 2005, com 114 milhões de barris. Essa é uma taxa de crescimento comparável à do Oriente Médio e superior ao crescimento mundial de 84% durante o mesmo período.


A “guerra contra o terrorismo” na África visa também o combate aos grupos radicalizados armados que buscam uma nacionalização dos recursos petroleiros de seus povos em detrimento dos interesses transnacionais que os extraem, comercializam e controlam.



Na Nigéria, um dos maiores provedores de petróleo aos EUA, onde a produção em um dia normal é de 2,5 mihões de barris, houve uma redução em 25% devido aos ataques de grupos nacionalistas radicais que buscam uma maior participação da riqueza petroleira para seus povos.



Os governos africanos, controlados por oligarquias e senhores da guerra financiados e protegidos por Washington, se vêem cada vez mais impotentes para controlar aos movimentos armados nacionalistas que criam obstaculos ao saque das transnacionais, como é o caso da Somália e o Chifre da África.



Neste cenário, e seguindo a nova doutrina imposta na revisão quatrienal da Defesa de fevereiro de 2006, o Pentágono começou a desenvolver operações militares em alta escala por todo o território africano, principalmente em suas regiões energéticas e minerais chaves do sul e do norte, criando unidades especializadas dedicadas à instrução e ao adestramento de tropas locais no “combate ao terrorismo”. Estima-se que a África proporcionorá, em apenas uma década, 25% do petróleo que consumirá EUA  en 2015.



Objetivo histórico



A missão do comando militar no continente africano remete às diretrizes definidas pelo presidente Jimmy Carter em janeiro de 1980 para as tropas estadunidenses, quando descreveu as reservas petroleiras do Golfo Pérsico como um “interesse vital” para os EUA.



Carter afirmou que os EUA deveriam empregar “qualquer meio que seja necessário, incluindo a força militar” para enfrentar e neutralizar qualquer tentativa por parte de um poder “hostil” para bloquear esses recursos estratégicos.  Quando Carter apresentou este projeto, nomeado “Doutrina Carter”, os EUA ainda não haviam desenvolvido uma força capaz de desempenhar o papel de vigiar as fontes de recursos energéticos no Golfo, em plena “guerra fria” com a URSS.


Com essa missão, Carter criou a Força Conjunta de Tarefas, un conjunto de forças operativas para ser emprgeadas no Oriente Médio.
Em 1983, o presidente Reagan transformou a RDJTF em Comando Central (Centcom), que exerce a autoridade de comando sobre todas as forças de combate estadunidenses que atuam na área do Golfo Pérsico incluindo Afeganistão e o Chifre da África.



Depois do 11 de setembro,  executando a nova doutrina de “guerra preventiva” da Casa Branca, o Centcom interveio nas invasões do Iraque e Afeganistão. Desta maneira, o Pentágono seguia cumprindo sua missão original de apoderamento militar dos recursos energéticos-petroleiros do Golfo Pérsico, com a doutrina das “guerras preventivas” contra o “eixo do mal”.



A criação do novo comando unificado para as operações militares na África é indicativo de que Washington e suas corporaçõees petroleiras, atrás da fachada da “guerra contra-terrorista”, já começaram um plano totalizado de controle do petróleo e dos recursos vitais do continente africano.