Soldados dos EUA se recusam a ir à guerra no Iraque

O caso do militar Ehren Watada, que se recusou a lutar no Iraque, vem chamando a atenção da opinião pública dos EUA e mobilizando o apoio de diversos ativistas anti-guerra — até de atores de Hollywood, como Susan Sarandon e Sean Penn.

Watada foi o primeiro oficial do exército estadunidense a sofrer um processo por decidir não partir para o Oriente Médio. Ao saber que sua unidade seria enviada ao Iraque, no início de 2005, ele afirmou que não iria por considerar a guerra ilegal, alegando que o presidente George W. Bush mentiu a respeito de suas razões.



Mas, embora Watada seja considerado um ícone pacifista, ele está longe de ser o único a se recusar a lutar no Iraque. No início de 2005, o Pentágono estimava que cerca de 5.500 militares estadunidenses desertaram desde a invasão do país, em março de 2003. A punição varia caso a caso. Os desertores ou war resisters (resistentes à guerra), como são chamados pelos movimentos anti-guerra, podem ser liberados das obrigações militares, mas também correm o risco de enfrentar anos de prisão.



Foi o que aconteceu com o sargento Kevin Benderman. No dia 27 de julho de 2005, ele foi condenado por se recusar a voltar ao Iraque, onde esteve entre março e setembro de 2003. O militar havia preenchido, em dezembro de 2004, um formulário de objeção de consciência para não ir à guerra. Objetores de consciência são aqueles que alegam princípios religiosos, morais, éticos etc. para mostrarem incompatibilidade com o exercício militar. É um direito reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).



Assassinato de crianças



“Vi os resultados da guerra e como ela afeta todos que participam dela”, disse Benderman, em entrevista ao jornal Brasil de Fato. À época, Benderman afirmou ter obrigação profissional e moral de questionar o fato dos soldados estadunidenses estarem a cada dia matando mais não-combatentes. “Quando servi no Iraque, membros da minha unidade eram instruídos a atirar em crianças que jogavam pedras na gente”, revelou.



Mesmo assim, sua solicitação de objeção de consciência foi recusada pelas autoridades militares e ele ficou preso por um ano, de agosto de 2005 a agosto de 2006. Liberado, tenta retomar a vida ao lado da família.



Carl Webb, de 41 anos, teve sorte um pouco melhor. Em 2001, alistou-se na expectativa de servir por apenas três anos. Mas, faltando menos de dois meses para sair, foi informado que seu alistamento havia sido estendido e que ele iria para o Iraque. Ao Brasil de Fato, Webb explicou que se recusou a ir por ser marxista: “Foi uma decisão fácil pois nunca tive intenção de lutar pelo imperialismo. Entrei para o exército porque precisava de dinheiro”.