Brasil e Argentina desdolarizam comércio bilateral

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, anunciaram nesta sexta-feira (9/3), em Buenos Aires, que a desdolarização do comércio bilateral começará a vigorar em 1º de julho.

Mantega disse ainda que o Brasil aceitou o convite argentino para participar da comissão de criação do Banco do Sul, que deverá financiar projetos regionais. Segundo ele, a desdolarização e o banco fazem parte de um mesmo processo de integração financeira da região.



“A questão é qual o melhor caminho para alcançar essa integração. Sabemos que não é fácil constituir um banco multilateral”, declarou Mantega, que disse ser “muito apropriado” o nome da entidade.



A proposta do Brasil, no entanto, segundo afirmou o ministro, é criar a entidade a partir de uma transformação ou de um reaproveitamento (com aumento do aporte de recursos) das instituições financeiras regionais já existentes, como a CAF (Corporação Andina de Fomento). “Uma instituição nova pode demorar dois, três anos até viabilizar o primeiro financiamento, o que não é bom”, disse Mantega, que viajou acompanhado do presidente do BNDES, Demian Fiocca.



A Argentina, que não possui um banco financiador com as características do BNDES, tem especial interesse na criação do Banco do Sul. Do ponto de vista dos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, o novo banco serviria, de certo modo, para ocupar um papel que foi exercido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) no passado.



Compensação direta
Segundo Mantega, na próxima semana os BCs dos dois países vão se encontrar para dar continuidade à implantação do programa necessário para o novo sistema de liquidação que dispensará o dólar no intercâmbio comercial. Só os valores finais serão transformados em dólar para permitir análises e comparações internacionais.



“Será um grande passo no avanço de nossas transações comerciais, pois vai reduzir custos. Hoje, transformamos real em dólar e dólar em peso. Vamos eliminar uma das etapas, vai ser compensação direta entre os dois bancos”, explicou.



No âmbito do Mercosul, Uruguai e Paraguai se opõem à desdolarização nas transações comerciais dentro do bloco.



Juros e crescimento
O ministro também comentou a taxa de juros brasileira. “Minha expectativa é que, ao longo dos anos, o Brasil tenha uma taxa de juro real de curto e longo prazos compatível com as taxas de juros dos demais países emergentes. Portanto algo como 5%. O Brasil hoje reúne as condições para que caminhemos nessa direção.” Hoje, o juro real (descontada a inflação) no Brasil está em 8,6% e é o mais alto do mundo.



Segundo Mantega, embora o mundo esteja “às voltas com algumas dificuldades e alguma turbulência”, o país continuará sua trajetória de queda do juro.



Sobre a Argentina, disse que o crescimento de cerca de 9% ao ano significa que o país terá melhores condições sociais e que comprará mais do Brasil. “É claro que gostaríamos de ter um crescimento de 8%, 9%, mas as trajetórias são diferentes. O Brasil não tem condições de crescer a 8%. Uma taxa de crescimento de 5% sustentável por vários anos é mais satisfatória que uma taxa maior que não possa ser sustentada.”