Escudo antimíssil dos EUA causa discórdia na Europa

O escudo antimíssil que os EUA querem instalar na Polônia e na República Tcheca inspirou cautela nos membros da União Européia (UE). O presidente francês, Jacques Chirac, apelou para a prudência.

“Devemos prestar atenção para não favorecer novas linhas de divisão na Europa ou mesmo o retorno a uma ordem [mundial] ultrapassada”, afirmou o líder francês, após o encerramento, ontem, das reuniões do Conselho Europeu da Primavera, em Bruxelas.



“Esse projeto [dos EUA] levanta diversas questões sobre as quais ainda é preciso refletir”, disse Chirac.



O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, também já havia alertado para os problemas que o projeto americano acarreta. Entrevistado pelo jornal alemão “Handelsblatt” no dia 19 de fevereiro, Steinmeier criticou os EUA por não terem informado as autoridades russas sobre a intenção de implementar o sistema antimísseis na Polônia e na República Tcheca, dois países que ficavam na esfera de influência da antiga URSS.



No dia 2 de março, o ministro da Defesa alemão, Franz Josef Jung, cogitou a possibilidade de integrar o escudo à Otan, a aliança militar ocidental, da qual a República Tcheca e a Polônia participam.



Num contexto tenso desde a oferta dos EUA aos dois membros da União Européia, a Rússia alertou os países do Cáucaso para que não abriguem partes do sistema de defesa americano. Ontem o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Mikhail Kamynin, afirmou no site do órgão que qualquer país que considerar a participação no escudo prejudicará relações com o Kremlin.



“Sem dúvida, abrigar partes de um escudo antimísseis dos EUA não seria positivo para desenvolver relações amigáveis [com a Rússia]”, disse Kamynin. Considerando o escudo uma ameaça à sua segurança nacional, Moscou cogitou até usar a força contra a Polônia e a República Tcheca.



Os dois países deverão implementar estações de radar e mísseis que interceptem possíveis ataques aos EUA. Um dos motivos que, segundo Washington, justificam a instalação do escudo ao lado da Rússia são as crescentes tensões com o Irã.



Boa idéia
Em Bruxelas, o premiê da República Tcheca, Mirek Topolanek, corroborou a posição americana. “É uma idéia boa e clara e pode prevenir ameaças de Estados delinqüentes”, disse à Folha. A Polônia não comentou o projeto americano, mas, nos corredores do Conselho Europeu, dizia-se que a população estava otimista com a possibilidade da extensão do escudo para o país.



O presidente da República Tcheca, Vaclav Klaus, encontrou ontem (9) o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, para discutir a oferta americana. Em comunicado, a Vice-Presidência dos EUA destacou o comprometimento dos americanos com a segurança da Europa e do Atlântico: “O compromisso seria fortalecido com uma cooperação de defesa por mísseis”. Antes da reunião com Cheney, Vaclav Klaus também encontrou o Secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, no Pentágono.



Apesar de não discutirem oficialmente a questão do escudo, as relações internacionais fizeram parte da agenda da semana no Conselho Europeu. Os chanceleres dos 27 países da UE discutiram a “situação preocupante” no Iraque e as estratégias em curso no Líbano e em Darfur (Sudão), além da questão palestina.