Oscar Niemeyer: “A revolução não pode parar”

Às vésperas dos 100 anos, Oscar Niemeyer fala sobre sua vida e obra em entrevista, por e-mail, ao Estado de S.Paulo. Revela o orgulho que sente da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e o desejo de realizar um projeto em Cuba.

O arquiteto admite que suas criações atraem turistas no Brasil e no mundo e comenta que faz questão de visitar todos os seus trabalhos no exterior, apesar do lendário medo de avião. Muitas vezes, é fato, ele dá um jeitinho de não voar. “Meu avô já viajou de táxi da Itália para a Argélia”, diz o fotógrafo Kadu Niemeyer.Leia a seguir:


 


O senhor acha que suas obras rendem um bom roteiro turístico?
Não sei… Eu trabalho para os que me procuram. Em geral, é uma arquitetura ligada ao povo, abrangendo teatros, museus, bibliotecas, auditórios, etc. Mas os museus que criei em alguns lugares, dizem, fizeram expandir o turismo de uma forma espetacular.


 


Quais obras mais despertam o interesse do turista?
São aquelas que, pelo programa apresentado, me levam a soluções mais audaciosas e criativas, a exemplo do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói.


 


Quais são os próximos projetos?
Tenho alguns projetos no exterior, como aquele que desenhei para Avilés, na Espanha (uma praça com museu e auditório). No Brasil, o centro administrativo de Minas Gerais, que o governador Aécio Neves pretende construir com o maior entusiasmo.


 


O Museu Guggenheim de Bilbao, de Frank Gehry, é uma obra turística porque a própria arquitetura atrai visitantes. O que o senhor acha dessa proposta?
É o mesmo que aconteceu em Niterói, quando criei o MAC. Para mim, a arquitetura dos museus é importante no momento em que atrai os visitantes para conhecê-la melhor internamente. É, não raro, o primeiro passo para que o público se interesse pelo mundo fascinante das obras de arte.


 


Brasília é a obra de maior orgulho?
Não. Foi a Igreja da Pampulha. O meu primeiro trabalho de arquiteto. Nela já se faz presente essa arquitetura mais livre e criativa que procuro realizar. Mas todas as minhas obras foram feitas com o maior carinho, e isso é o principal.


 


Em que cidade ou país o senhor gostaria de fazer um projeto?
Em Cuba. Em Havana, deverá ser construída uma praça onde será erguido um teatro, que já projetei, e uma escultura em homenagem ao povo cubano.


 


Qual projeto gostaria de ver construído?
O da Mesquita de Argel, na Argélia. Lembro-me quando o entreguei ao presidente (Houari) Boumedienne e ele me disse: “Essa é uma mesquita revolucionária”. E, depois, riu com a minha resposta: “A revolução não pode parar”.


 


O senhor conhece todas as suas obras no exterior, já que não gosta de avião?
Nunca viajei, a não ser a trabalho, o que explica a preocupação em visitar todas as minhas obras no exterior.


 


Onde passa as férias?
Paris seria a minha preferência, mas, em geral, passo férias numa casinha que temos em Coqueiral (Araruama/RJ).


 


Como serão as comemorações dos 100 anos?
Quero comemorá-lo abraçado, como sempre, aos amigos e à família.