PF-Rio prende ex-militante italiano por crimes dos anos 70

A Polícia Federal prendeu no Rio de Janeiro na manhã deste domingo (18) o antigo militante italiano de extrema-esquerda Cesare Battisti, em fuga desde 2004. Battisti foi preso em Copacabana, na Avenida Atlântica, no momento em que uma amiga, Lucie Geneviè

O antigo ativista ''não tinha documentos com ele.  Tiramos suas impressões digitais'', disse Ferreira. Segundo outro agente, ele se identificou e não se mostrou surpreso com a prisão.



Decisão caberá ao STF



Lucie Olès entrou legalmente no Brasil, com 9 mil euros em sua posse, agregou. ''Tudo estava em regra, não havia nada contra ela e ela foi liberada. Ela só estava trazendo o dinheiro'', disse o delegado. A agência de notícias Reuters afirmou que a polícia francesa descobriu seu paradeiro ao seguir a pistas da amiga.



Cesare Battisti está preso na sede da PF no Rio e deve ser transferido em breve para Brasília. Ele imediatamente solicitou um advogado. Caso o governo italiano venha a pedir oficialmente sua extradição, caberá ao STF (Supremo Tribunal Federal) decidir sobre ela.



O pedido ainda não foi apresentado. Mas o ministro da Justiça da Itália, Clemente Mastella, ddeclarou à agência italiana Ansa que Battisti deve ser extraditado o mais rápido possível e que todas as providências já estão sendo tomadas. Dentro do novo governo italiano, uma coalizão de centro-esquerda, Mastella representa a ala mais a direita, a Udeur, ex-Democracia-Cristã.



Uma longa história de fuga e asilo



Cesare Battisti, que tem hoje 52 anos, foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1993, acusado de quatro ''homicídios com agravantes'' cometidos em 1978-79. Quando houve o julgamento ele já fugira do país, primeiro para o México e em seguida para a França, onde obteve asilo e se tornou um escritor de certo sucesso, com romances policiais e de reflexão sobre os anos 70.



Em 2004 Battisti foi preso pela polícia francesa e abriu-se contra ele um processo de extradição. O governo de direita do primeiro ministro Jean-Pierre Raffarin quebrava assim duas décadas de respeito sem exceção à tradição francesa de asilo político. Mas atendia aos seus correligionários italianos da administração Silvio Berlusconi.



Campanhas contra a extradição foram organizadas tanto na França como na Itália, com adesão sobretudo de intelectuais de esquerda. O movimento anti-extradição punha em dúvida a lisura do julgamento, lembrando por exemplo que Battisti foi condenado como autor de dois dos homicídios cometidos com meia hora de intervalo, um em Veneza e outro em Milão, a 300 km de distância. E recordavam que o acusado sempre negou sua participação.



O Estado francês terminou concedendo a extradição. A esta altura, porém, o escritor já havia fugido outra vez, passando à clandestinidade.



O caso Oliverio Medina



A prisão coloca um problema para o governo Lula e a Justiça brasileira. Em um caso recente com alguma semelhança, envolvendo o ex-padre colombiano Oliverio Medina, ligado à guerrilha das Farc, a extradição solicitada pelo governo de Álvaro Uribe não prosperou. Medina foi libertado em agosto do ano passado, após ficar 11 meses  preso nas dependências da PF em Brasília, enquanto no país se desenvolvia uma campanha de opinião pública contra a extradição (clique aqui para saber mais).



O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmou que pretende  ''examinar o que é possível fazer e não permitir que seja feita uma injustiça'' contra Battisti. ''Constantemente, através dos livros que escreveu, ele afirma que não cometeu esses crimes que a direita italiana lhe atribui'', afirmou Gabeira.



Gabeira, ele próprio banido e exilado após participar do seqüestro do então embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick, em 1969, também pretende visitar Battisti. Na França, Irène Terrel, que foi advogada de Battisti em 2004, declarou à Agência France Presse que se sente ''catastrofada'' com a notícia da prisão.



Da redação, com agências