Em festa de aniversário, Dirceu anuncia campanha por anistia

Por André Cintra, de São Paulo
Era para ser uma festa-evento – mas faltaram petistas de ponta, faltaram aliados de outros partidos, faltaram os principais integrantes do governo federal e faltaram mais cem pessoas para atingir a meta de 600 convidados

O convite da festa, enviado a 3 mil pessoas, conclamava os convidados a darem ''um abraço no amigo Zé'', que fazia 61 anos de ''uma vida inteira dedicada ao Brasil''. Apresentado no palco pelo ator José de Abreu, o ex-ministro da Casa Civil discursou por 15 minutos. De novidade em sua fala, pouco – apenas que a campanha pela anistia terá início após a Semana Santa.


 


Zé Dirceu está inelegível desde 1º de dezembro de 2005, quando a Câmara Federal cassou seu mandato parlamentar e suspendeu seus direitos políticos até 2015. O ex-deputado se empenha para ser reabilitado. Diz não ter pressa para ir a julgamento, desde que se prove sua inocência ante todas as acusações.


 


A pecha de corrupto e criminoso pegou na opinião pública. Dirceu foi vaiado e chegou a ser agredido ao votar no primeiro turno das eleições 2006. Ele próprio admite o desgaste, proclamando reação: ''Não vou aceitar viver com esse título que me deram de chefe de quadrilha'', repetiu ao Bar Avenida.


 


Por 1,5 milhão de assinaturas


 


Para apresentar à Câmara Federal um projeto de iniciativa popular por sua anistia, Dirceu precisa colher 1,5 milhão de assinaturas. No Congresso, afora os petistas, recebe poucos apoios, como o do deputado Ciro Gomes (PSB-PE). Se a data para o início da campanha está delineada, faltou Dirceu ter sido mais claro ao enunciar os detalhes dessa iniciativa. Por exemplo, qual é a estratégia e quem vai liderá-la?


 


A campanha poderá ter várias coordenações. O sem-terra José Rainha – que atua no Pontal do Paranapanema – candidata-se a assumir uma delas. Presente à festa, Rainha promete mobilizar 6 mil pessoas para colher assinaturas pró-Dirceu. João Felício, da CUT, também foi ''dar um abraço no amigo Zé''.


 


Dirceu agradeceu a presença de parentes, amigos e personalidades. Estavam lá representantes do PT (Rui Falcão e Luiz Eduardo Greenhalgh), da cultura (Antonio Abujamra, Ruy Ohtake, Sérgio Mamberti e Antonio Grassi), da comunicação social (Ricardo Kotscho) e até o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.


 


O ex-ministro informa à platéia que a anistia não é um pleito pessoal. ''Quem vai fazer a minha campanha são os que me apóiam, que querem lutar pela minha anistia. Não sou eu, não é o PT, não é o governo.''


 


''Basta ser Zé Dirceu''


 


Dirceu afirma que a Veja tentou – ''mas não conseguiu'' – estragar seu aniversário. Na edição desta semana, a revista traz uma matéria de duas páginas cujo título seria a reprodução de uma frase de Dirceu a amigos: ''Eu sou capitalista''. A resposta do aniversariante: ''Não preciso me explicar para quem me conhece. Basta ser Zé Dirceu''.


 


Como os convidados estranham a frase, algo fora do tom, o ex-ministro se corrige: ''Sou hoje aquilo que eu devo ao Brasil e ao PT. Quando digo que basta ser Zé Dirceu, quero dizer que basta ser um de vocês.'' Agora, sim, aplausos.


 


Embora os líderes do PT não estivessem por perto, Dirceu disse contar com a solidariedade petista. ''Vamos fazer (a campanha) do jeito nosso. Vamos fazer na base do PT''. Ao analisar as últimas eleições e o segundo governo Lula, Dirceu elogia o desempenho de seu partido, pede confiança no governo federal e defende uma coalizão para desenvolver o Brasil.


 


Falando em coalizão, o Vermelho pergunta ao aniversariante, após o discurso, se ele apóia os pequenos partidos políticos. Dirceu faz sinal de positivo com o polegar direito, franze a testa, aperta os lábios e se vira, na direção dos convidados. É hora de pensar apenas em quem veio ''dar um abraço no amigo Zé''.