Todos os mortos e os feridos americanos no Iraque

Por Bernardo Joffily
Quando o Pentágono iniciou a invasão do Iraque, há exatos quatro anos, o plano era consumar a ocupação rapidamente, com 130 mil soldados e marines, e chegar ao fim de 2003 com 30 mil a 50 mil homens no país. Não deu certo. No fim d

O gráfico ao lado tem como fonte o site www.globalsecurity.org, que usa os números oficiais do Departamento da Defesa dos EUA. No total foram 3.252 soldados americanos mortos nestes quatro anos, e 23.924 feridos. Destes últimos, um em cinco sofreu danos cerebrais graves ou ferimentos na coluna vertebral.



A guerra dos US$ 2 trilhões



Os números não incluem as baixas iraquianas, concentradas na população civil e muito mais numerosas, embora precariamente contabilizadas. Uma estimativa fala em 650 mil mortos desde março de 2003.



Há que registrar também o dinheiro consumido na guerra. Antes da invasão, a Casa Branca rejeitava como exagerada a previsão do assessor de economia do governo Lawrence Lindsey, de US$ 100 bilhões a 200 bilhões. Em janeiro último, Joseph E. Stiglitz, da Universidade Columbia e Prêmio Nobel de Economia, e a professora Linda Bilmes, de Harvard, calcularam um gasto total de US$ 2 trilhões até então.



O discurso e a ameaça de Bush



Na noite desta terça-feira, Bush apareceu na TV para levar aos norte-americanos o seu balanço da guerra. Estava bem longe do presidente que em 1º de maio de 2003, 52 dias após o início da invasão, anunciava do convés do porta-aviões Abraham Lincoln a “missão cumprida” e “o fim das operações principais” no Iraque.



Bush falou apenas 10 minutos. Disse que “a luta é difícil, mas pode ser ganha”. Advertiu que  a guerra “ainda está nos estágios iniciais”. Mas jogou peso total contra a idéia da retirada. “Pode ser tentador olhar para os desafios no Iraque e concluir que nossa melhor opção é fazer as malas e ir embora. Isso pode ser satisfatório no curto prazo, mas acredito que as consequências para a segurança americana seriam devastadoras”, ameaçou.



No pico da impopularidade



Nestes quatro anos a ocupação norte-americana tornou-se impopular tanto no Iraque como nos próprios EUA.



No Iraque, embora escasseiem as pesquisas de opinião, é duvidoso que a ocupação tenha tido algum dia um apoio popular expressivo. Basta ver que o próprio governo montado pelos ocupantes é hegemonizado por uma maioria xiita explicitamente favorável ao Irã – que figura no “Eixo do Mal” escolhido por Bush. Uma pesquisa recente, encomendada pela BBC, ABC, USA Today e pela emissora alemã de televisão ARD, indica que penas 18% dos entrevistados confiam nas forças estrangeiras e 86% têm medo que algum de seus próximos seja vítima da violência.
Nos EUA outra pesquisa, da rede de TV CNN, apontou no domingo passado que 35% dos americanos estão confiantes na guerra. Quando o conflito começou, esta percentagem era de 83%. Conforme a CNN, 30% disseram que têm orgulho da guerra, ao contrário dos 65% de 2003. Em contraste, 33% têm medo da guerra e 55% se preocupam com ela.



Diante disto, a discussão que tende a crescer nos EUA, que terá eleição presidencial no ano que vem, gira no fundo em torno de como sair do Iraque. Não é porém um debate fácil, apesar da passeata de 50 mil manifestantes que protestou no sábado passado em Washington pedindo o fim imediato da guerra. Num país de política bipolarizada, entre republicanos e democratas, ambos os partidos se comprometeram a fundo com a decisão de invadir o Iraque e com os passos subsequentes da ocupação. Na semana passada, um projeto da bancada democrata, de colocar um prazo até o fim de 2008 para a retirada, foi derrotada graças a dois votos democratas. A julgar pelo estágio atual do debate americano, ainda será preciso que mais jovens soldados voltem para casa embrulhados em plásticos negros, como lembrava Saddam Hussein, antes que o invasor se resolva a recuar.