Desafios a serem superados em busca de um projeto nacional
“São inegáveis grandes os avanços obtidos por meio do reconhecimento
institucional do estado brasileiro no campo dos direitos das mulheres e da luta
anti- racista em nossa sociedade. As mudanças sociais e políticas que vem
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Publicado 26/03/2007 21:36 | Editado 04/03/2020 17:14
São inegáveis grandes os avanços obtidos por meio do reconhecimento
institucional do estado brasileiro no campo dos direitos das mulheres e da luta
anti- racista em nossa sociedade. As mudanças sociais e políticas que vem
ocorrendo nos trazem grandes desafios no que se refere à participação da
mulher no processo de transformação social, econômico e político.
Um dos princípios que fundamenta a democracia é a representação política. No
Brasil, temos um diagnóstico de subrepresentação das mulheres nos poderes da
República:as mulheres são13% dos cargos eletivos dos poderes Legislativos e
Executivos, nos três níveis de governo. Por isso, é necessário avançar muito
para que sejamos representadas de forma eqüitativa rompendo com a
desproporcionalidade nas relações de gênero e racial.
As estatísticas nacionais nos mostram que as mulheres são as que mais
sofrem desigualdade social.Elas recebem menos que os homens mesmo tendo um grau
de escolaridade igual ou superior ao deles. Segundo as estatísticas (PNAD/IBGE
2003), as mulheres representam 89 milhões ou seja 51.2% da população
brasileira, sendo 46% negras e pardas. Aproximadamente 85,4% vivem em áreas
urbanas.Amplia-se o segmento de mulheres em idade reprodutiva, ou seja, entre
15 e 49 anos, que em 2003, já representava 54,7% da população feminina.
Em termos globais, o rendimento médio dos homens era de R$ 785,82 enquanto o
das mulheres ficava em R$ 546,96, o que representava 69,6% dos homens isto
indica que a educação, por si, não garante às mulheres melhores condições
salariais e / ou mais acesso a cargos de decisão, variável que também
influência os rendimentos oferecidos.
A situação educacional no Brasil sofreu uma sensível melhora nos últimos anos,
beneficiando as mulheres, principalmente no que se refere à queda das taxas de
analfabetismo, que caiu de 20,28% em 1991 para 13,50% em 2000, entre aquelas
com mais de 15 anos de idade.
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil,
conforme a Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios (PNAD/IBGE) de 2003, já
é de 50%. Ainda que venha crescendo significativamente nas ultimas décadas, a
taxa de participação feminina posiciona-se mais de 20 pontos percentuais abaixo
da taxa de participação masculina, que é de 73%5. Os dados disponíveis sobre o
mercado de trabalho indicam as dificuldades que um contingente importante de
mulheres, especialmente as mais pobres e com menos escolaridade, ainda
enfrentam para poder entrar no mercado de trabalho.As diferenças se repetem
no interior dos grupos raciais: mulheres brancas apresentam maior escolaridade
que os homens brancos e mulheres negras tem maior escolaridade que os
homens negros. Apesar disso, a taxa de desemprego das mulheres permanece 58%
maior que a dos homens, e das mulheres negras 20% maior que as mulheres
brancas.
A pobreza e a marginalidade a que são submetidas às mulheres negras reforçam o
preconceito e interiorização da condição de inferioridade, que inibe a reação e
a luta diante da discriminação sofrida no ingresso ao mercado de trabalho.
Ainda é forte o estigma da inferioridade em que muitas mulheres negras
vivem, não podemos deixar de considerar que esse horizonte não é absoluto,
pois há uma parcela de mulheres negras que conseguiram vencer as
adversidades.Tendo na universidade uma ponte para o sucesso profissional,
conquistaram melhores cargos no mercado de trabalho. Entretanto, para
conquistar tal cargo, a mulher negra precisa comprovar sua competência
profissional duas vez mais que o homem e precisa lidar com o preconceito,
discriminação de gênero e racial que lhe exige maiores esforços para o ideal
pretendido.
A participação das mulheres nos movimentos sociais e políticos ocorrem em
diferentes níveis. Em diversos setores existe uma participação ativa das
mulheres, entretanto são poucas ainda as que ocupam um cargo com mais
relevância.A partir do momento que tem seus filhos, a tendência é de
diminuir sua militância, ficando nos bastidores. Não podemos fechar os
olhos para essa realidade, mesmo dentro do nosso campo político e partidário
onde lutamos por uma sociedade mais justa e igualitária sem opressão e
discriminação, não ficamos livres do pensamento, machista, patriarcal e
racista no qual esse sistema capitalista vem os submetendo até hoje.
Contudo, verificamos a fragilidade até mesmo nas esferas de poderes
institucionais, partidários e das nossas entidades de caráter misto (composta
por homens e mulheres), quando olhamos para teoria e a pratica, percebemos o
quanto o preconceito e a discriminação estão enraizadas culturalmente e o
quanto permeiam as relações sociais e políticas, apesar do crescente
questionamento dos valores e praticas machista, sexista ,homofôbica e racista,
visto pela sociedade como normais.
A sociedade esta impregnada por esses valores de forma, muitas vezes ,
inconsciente. Porém esta ação está presente no nosso dia a dia.Portanto é
necessário pensarmos de que forma estamos tratando essas relações de gênero
e de racial, pois ao pensar na condição das mulheres, não podemos deixar de
refletir sobre as mulheres negras: elas estão nos bastidores das principais
lutas, entretanto são raríssimos os casos que são colocados nos quadros de
valorização e formação do partido. Quantas mulheres negras tiveram
investimento num projeto eleitoral, de reais condições eleitorais. mesmo
tendo uma atuação partidária e de massa?Quantas ocupam cargo de direção
partidário?
A atuação das mulheres negras no espaço político é ainda muito oneroso sem
recursos financeiros, sem tempo para uma maior dedicação, inclusive por
sobrecarga de tarefas no âmbito doméstico e profissional.
A luta emancipadora e anti-racista não é só de responsabilidade das mulheres
e dos negros e negras do PCdoB, mas de todos e todas que lutam por uma
sociedade sem classe, dominação e opressão. Portanto, cabe a todos e todas
assumir essas bandeiras,estimulando e contribuindo dentro do seio partidário a
ampliação da participação política das mulheres nos espaços de direção do
partido e das entidades onde atuamos, desconstruindo a idéia de que são
instituições masculinas, cujo funcionamento e estrutura dificultam a
participação das mulheres.