Diversidade marca plenária gaúcha da Conferência sobre Questão da Mulher
Neste final de semana chegou ao seu ponto culminante a primeira grande mobilização partidária do PCdoB neste ano no RS. Sob o lema ''tornar a luta da mulher uma tarefa de todo o partido'', ocorreu a etapa estadual da conferência sobre a Questão da Mulher,
Publicado 26/03/2007 19:30
O presidente do partido, Adalberto Frasson, abriu os trabalhos ressaltando a coincidência da realização da conferência no estado com o aniversário dos 85 anos do partido, a serem comemorados no dia seguinte. Enfatizou a importância de o partido estar realizando a conferência, com amplo debate entre os militantes. Justificou a não presença da ex-deputada Jussara Cony, que está em recuperação de intervenção cirúrgica, a qual foi submetida.
Frasson situou os três desafios principais da conferência: a necessidade da atualização e o desenvolvimento das concepções teóricas sobre as questões da luta da mulher; as formas para se colocar em prática a concepção emancipacionista dos comunistas nos movimentos sociais e o papel da UBM (União brasileira de mulheres) e a concretização, no interior do partido, da valorização e protagonismo das mulheres.
Segundo a deputada federal Manuela D'Ávila, um dos desafios a serem enfrentados é o da concepção que existe na sociedade, de que a luta da mulher é sexista ou meramente pela alteração de elementos da cultura. Chamou a atenção para a necessária presença dos movimentos feministas, ao lado dos trabalhadores, na luta pelas transformações que a nação precisa, ao assumir bandeiras como o desenvolvimento, a geração de empregos e a valorização do trabalho. Também fez referência aos espaços ocupados pelas mulheres na sociedade que, segundo ela, precisam ser ampliados.
Manuela também salientou o caráter estratégico da luta das mulheres. ''Nós vivemos um momento muito importante no Brasil. Por isso devemos pensar em como incluir a luta contra a opressão de gênero, em cada um desses espaços de luta pelo socialismo''.
O deputado estadual Raul Carrion lembrou que a exploração sobre a mulher se deu a partir do aparecimento da proporiedade privada. ''Para os marxistas a luta da mulher é indissociável da luta contra a opressão de classe. Mas, junto com esta luta pelo socialismo, é preciso enfrentar a discriminação de gênero'', disse.
Avaliação
Ao apresentar a primeira parte do temário à plenária, o secretário estadual de Movimentos Sociais, Carlos Fernando Niedersberg, fez certo balanço dos debates em torno da Conferência. Segundo ele, um dos aspectos a serem destacados foi o da participação dos homens do partido no debate, o que ele classificou como uma grande conquista do processo. ''Há uma evolução na nossa compreensão sobre o desafio''. Os números da Conferência apontaram a participação masculina em algo em torno de 40%.
Para ele, desde os anos 80 o partido já havia acertado a sua compreensão sobre o tema, porém não ocorreu atualização desta concepção ''o que abriu espaço para aspectos estranhos ao marxismo'', disse. ''O pós-modernismo impôs a idéia de que a luta é fragmentada, e não totalizante'', complementou.
Coube a dirigente da UBM, Cora Chiapetta, a explanação do segundo e terceiro desafios em pauta. ''A luta das mulheres é parte da luta pela emancipação da sociedade, portanto uma necessidade da história'', disse. Salientou que o debate realizado pelo partido apresenta contribuição significativa para a renovação teórica. Para o socialismo renovado.
Depoimento dramático
Um dos momentos que mais sensibilizou durante os debates foi o depoimento da militante Claudia, que é lésbica. Ela saudou a importância de o partido estar debatendo com centralidade a questão das mulheres. Em depoimento emocionado, relatou caso vivido recentemente por ela e sua companheira, que foram detidas pela polícia apenas por serem homossexuais, e chegaram a ser agredidas na delegacia, segundo ela, por puro preconceito. Sugeriu que se aprofunde também no partido as discussões acerca da escolha de orientação sexual das mulheres. Esclareceu que hoje em dia os gays, lésbicas e travestís encontram-se em situação de completa marginalização na sociedade.''Agora estou no PCdoB porque aqui me sinto em uma grande família, ao lado de pessoas que entendem como eu a importância da luta pela liberdade'', concluiu.
Homens integrados no debate
Foi significativa a presença dos homens nas intervenções do plenário (mais de 50%). Isto foi destacado como positivo por muitas mulheres que usaram a palavra, considerando importante a contribuição dos homens do partido na elevação da compreensão e no respeito ao papel das mulheres comunistas na construção partidária.
Para Abigail Pereira, das comissões estadual e nacional da conferência, este é um tema de todo o partido, e segundo ela, foi o que se expressou na conferência do RS. ''Penso que foi exitoso o nosso trabalho no Estado. Foi possível sensibilizar o partido como um todo'', destacou.
Polêmica
A única polêmica surgida no encontro foi em relação à exigência de cotas para as mulheres na formação das instâncias dirigentes do partido. Foi defendida proposta contrária a qualquer encaminhamento neste sentido. Já o entendimento da comissão organizadora foi o de manter a proposta apresentada no documento de resolução, inclusive com a substituição do termo ''meta'' por ''cota'' de no mínimo 30 % de mulheres nas direções partidárias. Esta foi aprovada por ampla maioria.
No final os delegados e delegadas presentes aprovaram nominata para a delegação gaúcha ao encontro nacional, que será nos dias 29, 30 e 31 próximos em Brasília. Serão dez representantes do Estado.
De Porto Alegre
Clomar Porto