Fora, Hollywood: Cinema coreano faz 60% do mercado interno

Diante da onipresença do cinema hollywoodiano, é para comemorar a notícia que vem da Coréia do Sul. No ano de 2006, as produções sul-coreanas dominaram 60% do mercado local. O feito é raro no mundo – só pode ser comprado a países como a França.

Quem festeja esse feito é Kim Dong-ho,  de 69 anos, fundador e diretor do Festival de Cinema de Pusan (ou Busan), a segunda maior cidade da Coréia do Sul e seu maior porto, com cerca de 3,65 milhões de habitantes. Em fevereiro, ele foi entrevistado pela revista mensal EPD-Film – Das Kino-Magazin, uma das mais criteriosas publicações alemãs dedicadas ao cinema.


 


Dong-ho diz se sentir sente orgulhoso e satisfeito de ter transformado seu evento, em dez anos de existência, na principal vitrine do cinema asiático, em especial do sul-coreano. Não à toa, o festival, que sempre ocorre em outubro, é conhecido como a “Cannes da Ásia”.


 


Na opinião do sul-coreano, a repercussão positiva de seu festival se deve por ele ter se concentrado, desde a primeira edição, no novo cinema asiático. Esse foco possibilitou a seus diretores serem conhecidos além-fronteiras, atraindo compradores e investidores.


 


Sem censura


 


Quando indagado sobre o boom do cinema sul-coreano – tanto em filmes de gênero como de autor -, Dong-ho explicou que, desde que a censura foi derrubada no país, a nova liberdade favoreceu a gênese de uma geração de cineastas, todos em seus 30 ou 40 anos, a maioria com estudos nos Estados Unidos ou na França. E o detalhe que faz toda a diferença: eles realizam filmes voltados a um público jovem.


 


É por isto que a fatia da produção sul-coreana no mercado exibidor local tem crescido desde 1998: em 2005 foram vendidos impressionantes 117 milhões de ingressos, três vezes mais do que há oito anos. Até que, em 2006, a fatia de mercado do país chegou a invejáveis e raros 60%!


 


Para notar o disparate da situação, é só comparar com o caso do Brasil, que no ano passado ocupou apenas 9% do mercado local, com um auge recente de 21% em 2003. Mesmo assim, Dong-ho tem reclamações.


 


Apesar do fundo de reserva de US$ 200 milhões separado para a produção cinematográfica durante os próximos três anos, o governo, depois de um acordo comercial com os Estados Unidos, cortou pela metade os dias de exibição obrigatória do produto local nas salas de cinema. Antes de julho de 2006, a cota era de 146 dias.


 


Formalismo moderno


 


Como sempre, quem mais sofrerá com esse corte são os filmes pequenos e independentes. Dong-ho lembra que, dos cerca de cem filmes sul-coreanos lançados anualmente, apenas uns dez atingiam o topo da bilheteria. A tendência é que isto se concentre agora em dois a três blockbusters regionais por ano.


 


A EPD-Film completou a entrevista destacando alguns outros filmes que ajudaram a consolidar o status atual do cinema sul-coreano, como A Ilha, de Kim Ki-duk, Old Boy  e Lady Vengeance, ambos de Park Chan-wook.


 


A revista sintetizou desta forma as características dramáticas da nova cinematografia do país: o jogo com o choque; experiências extremas de vida levadas a cabo por total disciplina; e a indefectível solidão do protagonista, que pode ter sido banido pelo amor. Traços de um cinema intenso e marcado por um formalismo de aspecto moderno.


 


Da Redação, sobre matéria do Jornal da Mostra