Governo italiano passa em duro teste; em pauta o Afeganistão

Com 180 votos favoráveis (12 a mais que o necessário), dois contrários e 132 abstenções, o governo de centro-esquerda do governo Prodi passou por mais um incerto e espinhoso teste no Senado italiano na noite desta quarta-feira (27). A votação era a do ref

O resultado foi considerado um êxito do primeiro ministro Romano Prodi, em uma confrontação difícil. De um lado, a ala à esquerda da coalizão não se sentia à vontade para votar na permanência da missão afegã, no quadro da Isaf (sigla em inglês da Força Internacional de Assistência de Segurança, International Security Assistance Force, ligada à Otan). De outro, a força oposicionista que se dispunha a votar no projeto – os 20 senadores ex-democrata-cristãos da UDC (União dos Democratas do Centro) – só o fariam caso se votasse por mais armas e um maior papel para as tropas italianas no país centro-asiático.



A proposta da UDC terminou rejeitada, numa votação apertada: 160 votos contra 155. E a coalizão de centro-esquerda ao final votou com o governo, a despeito do constrangimento criado na esquerda por um decreto essencialmente pró-Estados Unidos.



Segunda prova em um mês



Foi o segundo obstáculo superado pelo governo Prodi em um mês. Em fevereiro, o primeiro ministro chegou a apresentar sua demissão, na seqüência de turbulências também devidas à política externa. No Senado, onde Prodi tem uma ínfima maioria de dois votos, parte da esquerda votou contra o governo, em nome da retirada das tropas do Afeganistão. Mas Prodi logrou recompor a maioria, com o mesmo arco de forças anterior.



Desta vez, foi a oposição de direita que se dividiu. A UDC terminou sustentando o decreto. O restante da oposição de direita, capitaneado pelo ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, adotou a tática parlamentar de se abster – o que, no caso, valia tanto como um voto contra.



A maior parte dos partidos oposicionistas, como o Força Itália, de Berlusconi, disseram não poder dar apoio à missão no Afeganistão em sua forma atual, afirmando que os militares italianos estão mal equipados e debilitados pelos limites impostos à sua atividade.



''Não votarei errado; mas peço…''



A votação impôs uma dura prova às bancadas da esquerda presente na coalizão governista: 26 senadores da Refundação Comunista e dez do grupo parlamentar Verdes-PdCI (sigla do Partido dos Comunistas Italianos).



Fosco Giannini, senador da Refundação, concluiu um discurso sobre o tema dizendo: ''Continuo sempre mais contrário à Guerra do Afeganistã, mas votarei conforme a indicação do meu partido, para não favorecer a direita. para não provocar um deslocamento neocentrista e para evitar a marginalização e a expulsão da batalha política futura. Não votarei errado. Mas peço ao governo Prodi que não me faça ter errado ao votá-lo.''



Antes da votação, o ministro das Relações Exteriores, Massimo D'Alema, comprometeu-se a fornecer melhor material aos 1.900 soldados italianos no Afeganistão, cedendo em parte a pressão oposicionista. Mas advertiu que o governo não levantará as restrições impostas ao contingente italiano, que não participa da grande ofensiva contra a guerrilha afegã, no sul do país.



O primeiro ministro Prodi acompanhou a contenda a distância, pois se encontra em visita oficial ao Brasil e ao Chile. Mas foram constantes os contatos telefônicos para manter a unidade da heterogênea frente governista.
Da redação, com agências



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