Governo Prodi vive situação difícil no senado italiano

O governo italiano volta a enfrentar hoje, no Senado, o voto sobre a participação na ocupação militar no Afeganistão, sem ter a maioria dos votos assegurada.

A tarde mais longa do executivo italiano começará hoje às 16h (13h de Brasília) no Senado. Em discussão, o refinanciamento das missões militares no Afeganistão, sem ninguém arriscar um palpite a respeito do resultado do voto, que se espera apurar no fim da noite de hoje (27/3).


 


Apesar de Prodi ter declarado que está “tranqüilo”, não conta com os números suficientes por parte de sua coalizão e terá de recorrer aos centristas da oposição, que anunciaram que votarão a favor. Entretanto, nada está acertado, já que esse grupo deve propor moções que pedem mais armamento para os militares e quie estão condenadas a provocar rupturas importantes na maioria, caso sejam aprovadas.


 


O resto da centro-direita já anunciou que vai se abster de votar. Mesmo assim, a oposição estabeleceu uma cláusula: se o executivo não reunir 158 votos, a maioria mínima da casa alta do parlamento, ela pedirá a demissão do governo Prodi.


 


Direita na abstenção



O governo divide as atenções entre cerrar filas entre os seus e desativar as minas plantadas nas emendas da oposição. As únicas posições claras são da direita, de Berlusconi e Fini, que anunciaram que sues partidos — Forza Italia e Alianza Nazionale, vão se abster na votação.



Outro partido que fará o mesmo é o direitista Liga Norte, de Bossi, retirando-se do local de votação para abaixar ainda mais o quórum necessário para aprovar a lei, caso o governo aceite as emendas de seu partido.



Por sua vez, os democrata-cristãos da UDC, que estão na oposição, anunciaram o seu apoio a Prodi, com a condição que apresentarão antes da votação uma ordem do dia pedindo mais armas e um papel mais “importante” nas zonas de combate para as tropas italianas que auxiliam a ocupação do Afeganistão.


 


Certos e incertos



Caso aprovadas as moções mais belicistas, o indispensável apoio externo da UDC poderá dividir ainda mais a maioria. Os dois senadores comunistas que não seguiram a determinação de seus partidos há pouco mais de um mês voltarão novamente a votar contra Prodi. Rossi, do Partido dos Comunistas Italianos, e Turigliatto, da Refundação Comunista, haviam anunciado o voto há tempos. A eles se somam mais três outros senadores, Bulgarelli, dos Verdes, Franca Rame — esposa de Dario Fo —, do IDV e o senador vitalício Pininfarina.



Contados os certos e os incertos, o governo teria 180 votos, graças a seus senadores, os 20 da UDC, os senadores vitalícios favoráveis (Colombo, Ciampi, Andreotti, Scalfaro e Levi Montalcini) e os que passaram para o lado de Prodi, após a crise do mês passado (Follini e seu partido, a Itália do Meio).



A princípio seriam mais que suficientes para superar o quórum de 161 votos, entretanto, ninguém sabe com segurança o que acontecerá em uma sessão onde a oposição pretende apresentar 36 emendas e 14 ordens do dia. Além disso, Prodi tem de fazer contas em relação a uma cláusula importante exigida pela oposição: se não obtiver no mínimo 158 votos, o que prepresenta a maioria mínima do governo no senado, a centro-direita pedirá a demissão do governo ao presidente da república, Giorgio Napolitano.


 


“Missão de reconstrução”



Apesar de participar da ocupação militar do Afeganistão, autorizada pela ONU e patrocinada pelos EUA, a Itália fez algumas limitações em relação à participação de suas tropas nas ações militares. Os soldados italianos só operam em Cabul e na região oeste do país. Em situação de emergência, e à frente de petições de intervenção em outras áres por parte do Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan), o governo italiano tem 72 horas de prazo para responder.



Além disso, os acordos prevêm que as tropas italianas não sejam empregadas em ações de combate, como a que está sendo conduzida estes dias no sul do país, na qual atuam tropas britânicas e americanas.



Esse tipo de compromisso, que o governo chama de “missão de reconstrução” embora esteja a cada dia mais próxima de uma missão efetiva de guerra, foi o que o governo Prodi assumiu para aprovar a missão, pouco tempo depois de ter sido eleito no ano passado.