Gol compra nova Varig e pode ser líder do mercado neste ano

Menos de um ano após ter sido vendida em leilão por 24 milhões de dólares, a nova Varig – ou a parte saudável da mais antiga companhia aérea brasileira – mudou de mãos nesta quarta-feira (28), ao ser comprada pela rival Gol em operação que pode atingir US

O pagamento em dinheiro será de apenas US$ 98 milhões – o que representa menos de 10% do caixa da Gol, informou a companhia. Haverá também a entrega de 6,1 milhões de ações preferenciais emitidas pela Gol, ou 3% do seu capital, além de a empresa assumir obrigação de R$ 100 milhões em debêntures emitidas pela nova Varig.


 


As duas empresas atuarão separadas no mercado, totalizando 20 milhões de passageiros por ano. Juntas, terão cerca de 45% do total transportado no país, encostando na líder de mercado TAM, hoje com 50%, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).


 


Para o consultor Paulo Sampaio, da Multiplan, com os investimentos que a Gol fará na Varig, “em agosto ou setembro deste ano o grupo Gol será líder de mercado”. O plano da Gol, divulgado nesta quarta-feira, prevê a frota da Varig subindo dos atuais 17 aviões para 34, sendo 20 Boeings 737 e 14 aeronaves 767, em cronograma a ser definido em breve. A Gol possui 66 aeronaves.


 


“As linhas internacionais serão mantidas, inclusive ampliando o número de destinos que hoje a Varig opera”, disse a jornalistas, em Brasília, o presidente da Gol, Constantino Júnior.


 


Detalhes do plano


 


A Varig terá vôos diretos entre os principais centros econômicos nacionais e mais de dez destinos internacionais: na Europa, Frankfurt, Londres, Madrid, Milão e Paris; na América do Norte, Miami, Nova York e Cidade do México; e na América do Sul, Buenos Aires, Santiago, Bogotá e Caracas.


 


O programa de milhagem Smiles será mantido. Os aviões da Varig não contarão mais com primeira classe nos vôos internacionais, que terão serviços de classe econômica e executiva, segundo a Gol.


 


Questionado sobre o preço pago pela Varig, que foi mais de 10 vezes o valor de venda da empresa aérea no leilão em meados de 2006, o presidente da Gol afirmou que “houve investimentos depois do leilão por parte do antigo acionista para manter a empresa em operação. Investimento de grande monta”.


 


“Ela (a Varig) partiu de 2 aviões na época”, comentou, referindo-se ao aumento da frota da companhia aérea adquirida. Nesta quarta-feira, Constantino Júnior esteve reunido com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e outras autoridades, entre elas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma das incentivadoras no negócio, segundo fontes, para anunciar a concretização da compra.


 


O negócio ainda precisa de aprovação da Anac e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).


 


Nova decolagem


 


Livre de dívidas relevantes e com preciosos “slots” (horários de pouso e decolagem nos aeroportos) para oferecer, a Varig continuará numa trajetória independente e agora com capital para competir nos mercados nacional e internacional, avaliaram analistas.


 


A Gol, por sua vez, adquiriu um ativo que já cobiçava, mas que por conta de insegurança do ponto de vista trabalhista temia assumir. O preço acertado, considerado alto em relação ao valor pago pela Varig em leilão no ano passado, levou em conta o novo perfil da empresa e as perspectivas de crescimento, segundo Sampaio, da Multiplan.


 


“O Matlin Patterson (fundo estrangeiro que tinha participação na Varig) é uma empresa abutre, especialista em comprar empresas com dificuldades e sanear, e conseguiu fazer isso com a Varig. Fez um bom trabalho de limpeza que proporcionou agora a venda para a Gol”, avaliou.


 


Valorização


 


As ações da Gol e da antiga Varig, que tem participação na empresa alienada, subiram com rumores sobre a venda desde o início do pregão na Bolsa de Valores de São Paulo na quarta-feira. Os papéis da Gol encerraram o dia em alta de 4,17% e os da Varig com valorização de 10,28%, enquanto os da rival TAM caíram 2,18%. O índice Bovespa recuou 1,6 por cento.


 


“Para o acionista da Gol não faz muita diferença, porque as empresas ficarão separadas, mas ele passa a fazer parte de um grupo que será o maior operador doméstico e terá presença forte na área internacional”, afirmou o consultor da Multiplan.


 


Já o analista Luis de León, do Banif Investment Banking, disse que um fato importante é o fechamento da porta do Brasil para a LAN Chile, que pretendia adquirir uma fatia da Varig e para isso havia antecipado 17 milhões de dólares à empresa brasileira. “Foi um movimento muito inteligente por parte da Gol, mas agora tudo o que vier de crescimento internacional virá pela Varig, não diretamente pela Gol.”