Direitos humanos: A dura resposta da China

Por que os Estados Unidos acusam violações dos direitos humanos em mais de 190 países e regiões – mas fogem à autocrítica? Em artigo para O Jornal, de Alagoas, Sérgio Barroso analisa o Registro dos Direitos Humanos nos Estados Unidos em 2006<

A dura resposta da China


 


Por Sérgio Barroso *


 


No 6 de março último, o Departamento de Estado dos Estados Unidos publicou um “relatório” denominado Práticas de Direitos Humanos. Como em anos anteriores, lançou acusações contra a situação dos direitos humanos em mais de 190 países e regiões, incluindo a China.


 


Acontece que, mais uma vez, o documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos omitiu completamente essa análise sobre seu próprio país. O que motivou o Escritório de Informações do Conselho de Estado da República Popular da China a apresentar o seu Registro dos Direitos Humanos nos Estados Unidos em 2006. O documento é uma massaroca de mais de 30 páginas. Vejamos alguns pontos nevrálgicos.


 


Chama atenção logo o primeiro capítulo, “Sobre o Direito à Vida, à Propriedade e à Segurança  Pessoal”. O relatório acentua o gravíssimo problema da violência criminal naquele país. Segundo o Departamento de Justiça do governo norte-americano, em 2005 ocorreram 5,2 milhões delitos violentos, 2,5% mais que os registros de 2004 e a taxa mais alta dos últimos 15 anos. Mais: os assassinatos em cidades de população entre 500 mil e um milhão de habitantes aumentaram 8,4%, no mesmo período, disse o FBI.


 


Mais de 7 milhões de presos


 


Os Estados Unidos da América hoje mantêm atrás das grades o maior número de prisioneiros de todo o mundo. Segundo seu Departamento de Justiça: de 2005 a 30 de novembro de 2006,  cerca de 2,2 milhões de presos ocuparam os cárceres do país. A população presa adulta, incluídos os que se encontram em liberdade condicional, superou os 7 milhões de pessoas pela primeira vez na história. As estimativas apontam igualmente que algo como 200 mil pessoas, atualmente encarceradas, foram ou serão vítimas da violência sexual nos presídios.


 


Adiante, no capítulo “Sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais”, o documento oficial do governo chinês ressalta que, sendo os Estados Unidos o país mais rico do mundo, cidadãos norte-americanos vivem num “Terceiro Mundo” dentro de seu território. Com efeito, o próprio Censo dos Estados Unidos (29 de agosto de 2006) indica que em 2005 eram 37 milhões os estadunidenses em “situação de pobreza”, ou 12,6% da população total nacional. Tais cifras supõem que um de cada oito residentes se  encontra “abaixo da linha de pobreza”, o que atinge 7,7 milhões de famílias.


 


O documento acrescenta que, simultaneamente, entre 2000-2005, a  economia norte-americana teria crescido 12% em termos reais, enquanto sua produtividade – medida em produção  por hora trabalhada nas empresas – avançou em 17%. Porém, neste mesmo período, o salário/hora médio nos Estados Unidos cresceu medíocres 3%, também em termos reais. Comparando-se com o aumento de 12%  registrado no lustro anterior, os salários dos trabalhadores  estadunidenses encontram-se abaixo dos níveis do ano 2000 (Financial Times, 2/11/2006). 


 


Discriminação


 


Há nos Estados Unidos aproximadamente 600 mil pessoas “sem-teto”; a fome atinge cerca de 34,8 milhões de pessoas, às quais o próprio Departamento de Agricultura afirma “não contar com recursos suficientes para comprar alimentos”. Mas é sabido que o nível médio de vida nos Estados Unidos se situa entre os mais altos do mundo.


 


Nesse aspecto, é revelador (e fulminante) o capítulo “Sobre a Discriminação Racial”, no que respeita à ampliação das desigualdades no país. As estatísticas publicadas pelo mesmo Censo dos Estados Unidos (novembro de 2006) indicam  que, de acordo com os dados de 2005, a renda média anual de uma  família branca alcançou US$ 50.622; enquanto os  de famílias hispânicas, US$ 36.278, e os de  famílias negras, US$ 30.940.


 


Direitos humanos? Era uma vez América!


 


* Sérgio Barroso é membro do Comitê Central do PCdoB