Em Niterói, Niemeyer lança teatro e protesta contra Bush

Depois de esperar por mais de uma hora a chegada das autoridades, o arquiteto Oscar Niemeyer participou nesta quinta-feira (5), em Niterói, da inauguração de seu mais recente projeto: o Teatro Popular da cidade, erguido na orla da baía de Guanabara.

Apoiado numa bengala e caminhando devagar, o arquiteto mostrou que os 99 anos podem ter fragilizado o corpo – mas não o espírito. Em seu discurso, aplaudidíssimo, bateu forte no presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que, segundo ele, “há anos ofende o mundo”.


 


As críticas a Bush apareceram também no vídeo exibido pouco antes da inauguração: “Eu escolhi as cores da bandeira para dentro do teatro porque queremos ver aqui dentro a vida brasileira, porque pensamos sempre no Brasil”, enfatizou Niemeyer.


 


“E temos de fazer isso porque estamos em um momento de ameaça internacional, quando temos aí o Bush, essa figura horrível, que mesmo desmoralizado ainda tem poder.” No discurso, o arquiteto destacou o fato de o teatro ser moderno e permitir a saída do palco por trás.


 


Além do prefeito de Niterói, Godofredo Pinto (PT), estiveram na inauguração o secretário estadual de Cultura, Luiz Paulo Conde, e os ministros Gilberto Gil, da Cultura, e Marta Suplicy, do Turismo, e Walfrido Mares Guia, de Relações Institucionais.


 


Projeto complexo


 


O Teatro Popular de Niterói precisou de um considerável esforço financeiro. Para Niemeyer, é a obra mais difícil de sua longa carreira. “Tudo o que posso dizer (sobre a obra) não tem nada a ver com a arquitetura”, disse Niemeyer ao dedicar essa construção ao Brasil.


 


O público que lotava a sala cumprimentou de pé com uma longa salva de palmas o arquiteto de 99 anos, que compareceu à inauguração acompanhado de sua mulher e de uma filha. A inauguração foi o primeiro ato realizado em Niterói para comemorar o centenário do nascimento do arquiteto, que acontecerá em 15 de dezembro.


 


Marta ressaltou que o Teatro Popular se soma às outras obras de Niemeyer em Niterói, o que oferece um importante pacote turístico e cultural à cidade, situada na baía de Guanabara. Já Gilberto Gil sublinhou a afinidade entre a política cultural da cidade e a do governo federal, já que procura a “democratização” e o acesso de todos à cultura.


 


O ministro afirmou que a abertura do teatro contribuirá para essa promoção e para o respeito à diversidade cultural do Brasil. O teatro é a sexta obra de Niemeyer em Niterói, cidade que também acolhe o famoso Museu de Arte Contemporânea. Com a inauguração do teatro, Niterói se transformou na segunda cidade brasileira com maior número de trabalhos do arquiteto, após Brasília, sua obra-prima urbanística.


 


Características


 


Com uma capacidade para 10 mil espectadores, o teatro possui as curvas em concreto que já constituem a assinatura de Niemeyer. Além disso, foram construídos dois painéis gigantes de azulejos com bosquejos de figuras humanas em movimento.


 


Uma inovação é um camarote reversível que pode servir para espetáculos privados, com capacidade para 350 pessoas, mas que também pode se abrir para a parte principal do teatro, com capacidade para 10 mil pessoas.


 


Uma parede de vidro permite ao público ver a baía de Guanabara do interior do teatro, que conta ainda com uma rampa e uma escada em espiral, elementos freqüentes nas obras de Niemeyer.


 


O projeto, o “mais demorado e difícil de realizar”, segundo o arquiteto, teve um custo de R$ 14 milhões, dos quais R$ 9 milhões são provenientes da Prefeitura de Niterói e os R$ 5 milhões restantes foram doados pelo Ministério do Turismo.


 



Fachada do novo Teatro Popular de Niterói