Com três candidatos de peso, eleições expõem França dividida

Os franceses caminham cheios de incertezas para o primeiro turno da eleição presidencial francesa, no dia 22. A campanha oficial começa nesta segunda-feira (9) com quase metade do eleitorado indeciso e em meio ao suspense sobre quais dos favoritos disp

Nas pesquisas de intenção de voto, três presidenciáveis aparecem com chances de ir ao próximo turno do pleito — o conservador Nicolas Sarkozy, a socialista Ségolène Royal e o centrista François Bayrou. A vantagem de Sarkozy tem aumentado nos últimos dias.


 


Neste domingo de Páscoa, vários dos candidatos se pronunciaram pelo rádio e pela televisão. Foi o caso do ultradireitista Jean-Marie Le Pen, quarto colocado nas enquetes, que concedeu longa entrevista radiofônica à tarde.


 


O trio que embola a preferência do eleitorado não é a única prova da divisão dos franceses. As eleições deste ano registram 12 candidaturas — menos que as 16 de 2002. Mas é maior a sensação de dificuldade para a formação de coalizões.


 


12 candidaturas


 


A direita, por exemplo, estará representada por Sarkozy, o favorito desse segmento. Mas há que contar com Philippe de Villiers, Le Pen e, sobretudo, Bayrou — um centrista que está atraindo os descontentes e pode conseguir passar ao segundo turno.


 


Já à esquerda, o panorama é mais fragmentado. Ségolène Royal, pelo Partido Socialista, é a favorita do setor, mas esta perdendo votos para Bayrou. As siglas mais ideológicas tem vários candidatos, entre eles Olivier Besancenot, Gérard Schivardi e a trotskista Arlette Laguiller (que concorreu pela primeira vez em 1974 e está, aos 69 anos, na sexta candidatura).


 


Os verdes são representados pela ecologista Dominique Voynet, ex-ministra do Meio Ambiente. Os marxistas concorrem com outra mulher, Marie-George Buffet, secretária nacional do Partido Comunista Francês (PCF). Tal como Ségolène, Marie-George, de 56 anos, também faz neste ano a sua estréia como candidata a inquilina do Eliseu (palácio presidencial).  Haverá ainda dois “outsiders” — o tradicionalista Frédéric Nihous e o líder do movimento antiglobalização José Bové.


 


Zapping


 


A abertura da campanha oficial será marcada por cartazes que são pregados nas 85 mil zonas eleitorais do país — e pela difusão de vídeos dos concorrentes nos meios audiovisuais públicos. Os 12 presidenciáveis franceses enfrentam duas semanas decisivas para convencer os 18 milhões de indecisos — 42% do eleitorado.


 


É o que indica uma enquete do instituto francês de pesquisa CSA, publicada neste domingo pelo jornal Le Parisien. A publicação afirma que há mais jovens, mulheres e membros das classes populares (empregados e operários) entre os que não decidiram o voto ou dizem que ainda poderiam mudá-lo. Vinte por cento poderiam se abster ainda por não ter encontrado ''seu'' candidato.


 


''O povo fica cada vez mais em dúvida entre os candidatos e decidirá no último momento”, analisa Roland Cayrol, diretor do CSA. Segundo ele, os franceses entraram “na era do eleitor consumidor, que faz 'zapping' — compara personalidades e promessas'', como fazem com produtos no supermercado.


 


Rumo ao 2º turno


 


Na opinião de Roland Cayrol, a novidade é que entre 7 e 8% dos eleitores estão indecisos entre Sarkozy, Ségolène e Bayrou. Os três despertam dúvidas no eleitorado, afirma o diretor do CSA. Sarkozy sofre reservas inclusive na direita. Para Bayrou, o problema reside na volatilidade de seu eleitorado, que é formado por decepcionados com a esquerda e a direita.


 


Em contrapartida, a falta de cristalização reflete que Ségolène — primeira mulher com possibilidades reais de chegar ao Palácio do Eliseu — tem dificuldades de seduzir o eleitorado devido às dúvidas sobre sua capacidade para desempenhar o cargo.


 


Assim, 52% dos que hoje optam por Bayrou dizem que ainda podem mudar de opinião, enquanto 65% e 62%, respectivamente, dos que elogiam Sarkozy e Ségolène se declaram seguros do voto — além dos 68% dos que preferem Le Pen.


 


Melhor para Sarkozy


 


Outra enquete, do instituto Ifop, divulgada no Journal du Dimanche, mostra que Sarkozy, de 52 anos, amplia a vantagem sobre Ségolène, de 53 — e que, num duelo final, ganharia da candidata de esquerda com 54% dos votos.


 


Com 29,5% das intenções de voto no primeiro turno, Sarkozy, o candidato da conservadora e governante União por um Movimento Popular (UMP), ganhou 3,5 pontos percentuais em duas semanas. O duro ex-ministro do Interior beneficiou-se do foco nos temas de segurança e imigração.


 


Sarkozy explorou, ainda, a violência entre jovens e policiais na estação de trem Gare du Nord, em Paris. Deu até polêmicas declarações sobre o suposto determinismo genético da pederastia.


 


Problemas no PS


 


Já Ségolène perdeu três pontos no primeiro turno, ficando com 22%. Após discutir com o ex-ministro do Interior sobre a insegurança, um terreno tradicionalmente desfavorável para a esquerda, a candidata optou por concentrar-se no social. Adotou como temas prioritários o desemprego e o poder aquisitivo.


 


Ségolène contrapõe seu lema do cartaz de campanha ''França presidente'', uma ''França unida'' e ''reconciliada'', à ''França do enfrentamento'' que atribui a Sarkozy, convocando os eleitores a lhe dar ''o maior resultado possível'' no primeiro turno. Um claro convite ao ''voto útil'', cinco anos depois de o candidato socialista Lionel Jospin ser eliminado no primeiro turno.


 


A campanha de Royal vem cambaleando, com membros do partido reclamando que ela não tem estratégia clara. Ela irritou alguns socialistas na semana passada com um plano de incentivo para pequenas empresas contratarem jovens que deixam as escolas, o que rivais disseram ser caro e irreal.


 


Terceira via


 


Aos 56 anos, Bayrou recorre à cantilena do ''voto útil'' e contrapõe seu projeto de sociedade ''equilibrada'' aos projetos ''perigosos'' de seus dois rivais: o ''violento'' de Sarkozy e o de ''Estado se ocupa de tudo'' de Ségolène.


 


Segundo o Ifop, Bayrou perdeu três pontos, ficando com 19%. Em março, ele havia alcançado Ségolène após uma espetacular decolagem, que deixou no ar o cenário anunciado de um duelo final entre a socialista e Sarkozy.


 


O ultradireitista Le Pen, de 78 anos, que está em sua quinta corrida pelo Palácio do Eliseu, aparece com 14% das intenções de voto. Ele diz que a rejeição do ''sistema'' pelo eleitorado o levará ao segundo turno, como em 2002, sem que as pesquisas o tivessem vislumbrado. Dos outros oito candidatos — cinco da esquerda tradicional —, nenhum alcança 5% das intenções de voto.